sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

CONTO: PAUSA - MOACYR SCLIAR - In, ALFREDO BOSI - COM GABARITO

CONTO: PAUSA

   Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. E sem ruído estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
  --- Vais sair de novo, Samuel?
  Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
       --- Todos os domingos tu sais cedo --- observou a mulher com azedume na voz.
       --- Temos muito trabalho no escritório --- disse o marido, secamente.
Ela olhou os sanduiches:
       --- Por que não vens almoçar?
      --- Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga, Samuel pegou o chapéu:
      --- Volto a noite.
      As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
      Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduiches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com a chave do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
      --- Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
      --- Estou com pressa, seu Raul --- atalhou Samuel.
      --- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. --- Estendeu a chave.
      Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
      --- Aqui, meu bem! --- uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
      Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta a chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d`água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
      Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduiches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
      Dormir.
      Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
      Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido.
      Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito noturno de um vapor. Depois, silêncio.
      Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
      Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
      --- Já vai, seu Isidoro?
      --- Já --- disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
      --- Até domingo que vem, seu Isidoro --- disse o gerente.
      --- Não sei se virei --- respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
      --- O senhor diz isso, mas volta sempre --- observou o homem, rindo.
      Samuel saiu.
      Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado.
     Depois, seguiu. Para casa.   
                                             
MOACYR SCLIAR -In; Alfredo Bosi, org. O conto brasileiro contemporâneo.
São Paulo: Cultrix, 1977.p.275.

Entendendo o texto:
01 – Nesse conto, o narrador é o observador. Ele narra o que acontece na vida da personagem Samuel/Isidoro.
           a) Quanto tempo transcorre entre o início e o final do conto?
      Um pouco mais de doze horas:  das sete da manhã às sete e pouco da noite.

           b) Como o narrador informa o leitor sobre o tempo decorrido?
      O texto se inicia com uma frase que se repete no trecho final: “As sete horas o despertador tocou”.

02 – O tempo e o espaço são elementos importantes para a construção do sentido das narrativas. No conto “Pausa”:
           a) Onde ocorrem os fatos?
      Em três locais: a casa do personagem, o hotel e a rua, ao longo do cais.

           b) Qual deles é mais destacado? Justifique sua resposta.
      O hotel, porque é descrito em detalhes.

           c) Como se caracteriza esse lugar?
      O hotel era pequeno e sujo, de baixa categoria; a poltrona do porteiro era rasgada; a escada que conduzia aos quartos era vacilante; o quarto era pequeno, com uma cama de casal e um guarda-roupa de pinho, a um canto, havia uma bacia cheia de água, sobre um tripé; as cortinas eram esfarrapadas e a colcha e os lençóis, ruins; o chão era carcomido.

03 – Dê uma interpretação para o sonho da personagem Samuel.
       Resposta pessoal.


17 comentários:

  1. Que relacao ao titulo o lugar honde ocorre a maioria dos fatos em um tempp em que acomtece a historia?

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    1. Boa tarde,
      Respondendo sua pergunta: Lugar onde ocorre a maioria dos fatos?
      No Hotel - vide pergunta 2 - b.
      Tempo em que acontece a história?
      Durante doze horas - conforme pergunta 1 - a e b.

      Um abraço,
      Profa. Jaqueline

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  2. Boa tarde quero pronomes desses texto

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  3. qua ea resposta desta pergunta. que relaçao ha entre o titulo o lugar onde ocorre a maioria dos fatos eo tempo em que aconteçe a historia

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    1. A pausa. O lugar onde ele reservou para ter uma pausa nesse tempo de 7 as 7 no domingo. Ele dá uma pausa na rotina de trabalho, acredito, não sei porque longe da mulher

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  4. achar o texto uma casa alguém já achou esse texto eu ainda não achei esse texto

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  5. qual trecho apresenta um discurso indireto

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  6. Quantos personagens existem no texto? Quantos nomes próprios aparecem? Quem é o protagonista? Comente.

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  7. Que relação há entre o título, o lugar onde ocorre a maioria dos fatos e o tempo em que acontece a história?

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  8. Se fosse a mulher de samuel que contasse essa historia,como seria?

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  9. Dê uma interpretação para o sonho da personagem Samuel.
    R=

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  10. Oi
    Qual o local de trabalho do personagem principal do conto pausa

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