terça-feira, 30 de janeiro de 2018

POEMA: SONETO DE SEPARAÇÃO - VINICIUS DE MORAES - COM GABARITO

POEMA: SONETO DE SEPARAÇÃO
                 Vinícius de Moraes

De repente do riso se fez o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

                  MORAES, Vinícius de. Soneto de separação. In:_______.
                                 Poesia completa e prosa. 2. ed. Rio de Janeiro,
                                                                 Nova Aguilar, 1981. p. 226.

Entendendo o texto:

01 – O poema tem como título “Soneto de Separação”. De que tipo de separação ele trata? Justifique sua resposta com elementos do texto.
      Trata-se da separação entre um casal, em que as antíteses mostram o impacto da perda do amor na vida das pessoas: o riso torna-se pranto, traz a dor, a tristeza. A tragédia, que provoca o espanto, é constatar que toda essa transformação acontece de repente, em um breve instante.

02 – Chama-se antítese a figura de linguagem que se constrói a partir da oposição de ideias. Identifique no poema pelo menos dois pares de palavras ou expressões que formem antíteses.
      “Riso-pranto”; “Próximo-distante”.

03 – Em uma fase; resuma: como era a vida do eu lírico antes da separação e como é no presente?
      Antes da separação o eu lírico era feliz, realizado, calmo, e no presente é infeliz.

04 – Leia: “De repente da calma fez-se o vento, que dos olhos se desfez da última chama”. Quem “desfez” da última chama?
      O vento.

05 – O substantivo “chama” foi usado com sentido figurado. Explique seu significado.
      Quer mostrar a sensualidade e finitude do amor.   

06 - Por quê esse poema é chamado de soneto?
       Porque é formado por quatorze versos, assim dispostos: dois quartetos e dois tercetos.

07 – Em todo o poema, o autor emprega a antítese como figura de estilo. Com que finalidade?
       O poeta quer enfatizar os conflitos vividos pelo eu-lírico.

08 – O eu-lírico vivencia um conflito que atinge seu ápice num determinado momento do poema. Em que verso isso ocorre? Transcreva a palavra que conota esse clímax.
       Verso 8: “Drama”.

09 – Relacione as antíteses que ocorrem nos sete primeiros versos do poema (modelo: riso X pranto).
       Bocas unidas X espuma; mãos espalmadas X espanto; calma X vento; paixão X pressentimento.

10– Quais as consequências da separação no estado emocional do eu-lírico?
       O eu-lírico sente-se triste, só e instável.

11 – Observe a construção do texto, o tipo de composição, a métrica dos versos, o vocabulário e a sintaxe. Identifique a que representantes da tradição literária – clássicos, românticos, realistas, simbolistas – o poema está ligado, justificando com elementos dos textos.
      O poema está ligado à tradição clássica, uma vez que faz uso do soneto, do verso decassílabo e têm uma sintaxe e um vocabulário apurados.

12 – A beleza do poema se deve, em grande parte, ao emprego de recursos sonoros e de imagens construídas a partir de comparações, metáforas, antíteses e outras figuras.
a)   Destaque da primeira estrofe um exemplo de aliteração e outro de comparação.
Aliteração: branco, bruma, bocas / pranto, espuma, espalmadas, espanto; Comparação: “[...] pranto / Silencioso e branco como a bruma”.

b)   Identifique a figura de linguagem a partir da qual, para estabelecer a oposição entre o passado e o presente, é construído todo o texto.
Antítese.

13 – O texto, reitera a oposição entre como era no passado e como é no presente.
a)   Caracterize cada um desses momentos.
Antes, tudo era bom; havia o riso, o beijo, a paixão, a alegria, etc. O presente é ruim, o oposto do passado: há pranto, espanto, pressentimento, drama, etc.

b)   Além da oposição entre passado e presente, por várias vezes é repetida a expressão “de repente”. Com que finalidade essa expressão foi empregada repetidamente?
Para acentuar o espanto causado pela separação inesperada.

14 – Às vezes, para descrever certos estados emocionais, a linguagem denotativa não é suficiente. O poeta emprega, então, a linguagem figurada, conotativa, poética. As figuras, nesse caso, contribuem para exprimir o que é quase inexprimível. Observe estes versos: “De repente da calma fez-se o vento
              Que dos olhos desfez a última chama.”
             “Fez-se da vida uma aventura errante.”
a)   Qual é a figura de linguagem existente nos trechos destacados? 
A metáfora.

b)   Traduza em linguagem denotativa o sentido dessas figuras.
No 1° fragmento, “o vento” significa a separação; “a última chama dos olhos” se refere ao resto do amor que havia entre os amantes.
No 2° fragmento, “uma aventura errante” sugere que, depois da separação, a vida ficou sem rumo, perdeu o sentido.

15 – Aliteração é um recurso de linguagem construído a partir da repetição de um mesmo fonema consonantal. Releia a 1ª estrofe da poesia e verifique se nela há aliteração. Se houver, indique quais são os fonemas consonantais que se repetem.
      Sim. Há aliteração; do fonema /p/: pranto, espuma, espalmadas, espanto; do fonema /b/: branco, bruma, bocas; do fonema /R/: repente, riso; e do fonema /r/: pranto, branco, bruma.

16 – Observe nas colunas abaixo os elementos que existiam antes e os que passaram a existir depois da separação:
Antes                           X            Agora
Riso                              X            pranto.
Bocas unidas               X            espuma.
Mãos espalmadas       X            espanto.

a)   As palavras e expressões da primeira coluna correspondem a elementos que faziam parte do estado de espírito em que se encontrava o eu lírico antes da separação. Qual é esse estado de espírito?
Alegria.

b)   As palavras da segunda coluna, por sua vez, correspondem a elementos que passaram a fazer parte do estado de espírito do eu lírico após a separação. Qual é esse estado de espírito?
Tristeza.

c)   Qual é a figura de linguagem que sugere, por meio das partes (riso, bocas, mãos), o todo?
A metonímia.

17 – O trecho “fez-se o pranto / Silencioso e branco como a bruma” apresenta uma figura de linguagem.
a)   Qual é a figura existente na parte destacada?
Comparação.

b)   Lido sem a parte destacada, esse trecho se torna menos ou mais forte, concreto e expressivo?
Torna-se menos forte, menos concreto, menos expressivo.

18 – Em quase todo o texto, o poeta faz uso da figura chamada inversão, que consiste no uso dos termos de uma oração em uma direta correspondente:
“De repente do riso fez-se o pranto” – O pranto fez-se do riso de repente.
“Que dos olhos desfez a última chama” – Que desfez a última chama dos olhos.
“Fez-se de triste o que se fez amante” – O que se fez amante fez-se de triste.
Considerando-se que a poesia é construída com base na oposição entre a vida do eu lírico antes e depois da separação, que relação há entre a inversão e as duas situações retratadas?
      Também o eu lírico se encontra numa situação inversa à que vivia antes.

19 – Observe que a expressão de repente é empregada quatro vezes em início de verso. A esse tipo de repetição, chamamos anáfora. Considerando-se as ideias gerais da poesia, o que essa repetição revela quanto ao modo como o eu lírico se sente?
      O eu lírico parece não aceitar o fato de que tudo o que existia – amor intenso, amizade, paixão, harmonia, etc. – acabou de repente, num único instante, o instante da separação. A repetição enfatiza essa expressão.

20 – Se quiséssemos resumir as principais ideias da poesia em linguagem denotativa, teríamos um enunciado mais ou menos assim:
       Antes, com a pessoa amada, tudo era alegria e harmonia. Depois, sozinho, tudo virou tristeza e desolação.

Compare a poesia com esse enunciado e indique qual ou quais das afirmações seguintes são verdadeiras quanto ao papel das figuras de linguagem na construção de um texto poético.
(X) O texto figurado é mais carregado de emoções do que o texto denotativo.
(X) As figuras de linguagem criam imagens que aguçam a imaginação do leitor.
(X) As figuras de linguagem criam uma atmosfera envolvente, que faz o leitor se aproximar mais do texto.
(X) O texto figurado é fruto de um trabalho artístico, que não visa apenas informar, mas também envolver, emocionar o interlocutor.




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