TEXTO: O CORSÁRIO FRANCÊS ENCONTRA BOTAFOGO
Não temos o hábito, nas
cidades velhas brasileiras, de falar muito das famílias fundadoras. A exceção é
São Paulo, que trata seus quatrocentões como nobreza da terra. Mas seja em
Olinda ou Salvador, Vila Velha ou Rio de Janeiro, seus descendentes
dissolveram-se na multidão. É justo, talvez. Ainda assim, algumas destas famílias
têm histórias que, geração após geração, deixam marcas. Um destes casos
cariocas é o dos Amaral Gurgel.
Em princípios da década de 1590, João Pereira
de Sousa prendeu em batalha, no Cabo Frio, um jovem corsário francês chamado
Tousaint Gurgel. Sousa, que por ser artilheiro era chamado de Botafogo, deve
ter se afeiçoado ao rapaz. Porque Gurgel não viveu, no Rio, uma vida de
prisioneiro. Filho de pai alemão e mãe francesa, natural da Alsácia, estudara
nas melhores escolas europeias. Uma raridade. E um partidaço. Em 1598, casou-se
com uma moça misteriosa: Francisca de Arão Amaral. Ela vivia em casa boa, ao pé
do Castelo, de frente para a Santa Casa. Não há qualquer documento que
identifique seu pai ou mãe, mas deviam ser gente com algum dinheiro.
Casamento no Rio: coisa rara. Boa
parte dos moradores eram índios que, mesmo convertidos, seguiam apenas mais ou
menos os ritos católicos. Dentre os quinhentos e poucos europeus ou
descendentes, as jovens solteiras eram poucas. Os homens, em geral, formavam
famílias informais com moças tupis.
Tousaint e Francisca tiveram
oito filhos, dentre os quais sete mulheres e o único homem fez-se padre. Ainda
assim, mesmo que por linhagem materna, o nome Amaral Gurgel ou Gurgel do Amaral
consolidou-se e se estabeleceu.
Quase um século depois, um de
seus netos, Claudio do Amaral Gurgel, deixou para o Rio um de seus ícones mais
longevos. Foi ele quem doou para a igreja o cume do morro da Glória, com já lá
em cima a estrutura original do Outeiro. Quase dois séculos após o casamento,
um tetraneto, Salvador do Amaral Gurgel, achou por bem mudar-se para Vila Rica,
em Minas, onde tomou emprestado de certo alferes dos Dragões um dicionário
francês. Arrolado entre os inconfidentes, terminou a vida no exílio em
Moçambique (África), como braço direito do poeta desembargador Tomás Antônio
Gonzaga. Na década de 1970, o engenheiro Augusto do Amaral Gurgel tentou
emplacar a ideia de um automóvel inteiramente nacional.
E tudo começou no encontro de um
corsário francês com o homem que batizou Botafogo.
(Jornal
O Globo de 10/5/2015 – Pedro Doria).
Vocabulário:
• longevos – mais antigo
Após a leitura atenta do Texto, realize as questões propostas.
1ª QUESTÃO: “Os homens, em geral, formavam famílias informais com moças tupis.”
Assinale a opção que apresenta a causa para o fato acima:
A – ( ) Os homens preferiam não
se casarem formalmente.
B – ( ) As índias eram mais
bonitas que as outras moças e por isso os homens se encantavam com elas.
C – (X) Entre os estrangeiros ou descendentes que moravam aqui, as
jovens solteiras eram poucas.
D – ( ) As moças solteiras preferiam
casar com os índios que viviam aqui.
E – ( ) As moças estrangeiras ou
descendentes não queriam formar família.
2ª QUESTÃO: Qual foi a contribuição da família Amaral Gurgel para o patrimônio do
Rio de Janeiro?
A – ( ) Um dicionário da língua
francesa.
B – ( ) A tradição dos casamentos
na cidade.
C – ( ) O filho de Francisca e
Tousaint ter se tornado padre.
D – (X) A doação do cume do morro
da Glória para a igreja.
E – ( ) Doação da casa que
Francisca viveu quando era solteira para a Santa Casa.
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