segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

TEXTO: O CORSÁRIO FRANCÊS ENCONTRA BOTAFOGO - COM GABARITO

TEXTO: O CORSÁRIO FRANCÊS ENCONTRA BOTAFOGO


     Não temos o hábito, nas cidades velhas brasileiras, de falar muito das famílias fundadoras. A exceção é São Paulo, que trata seus quatrocentões como nobreza da terra. Mas seja em Olinda ou Salvador, Vila Velha ou Rio de Janeiro, seus descendentes dissolveram-se na multidão. É justo, talvez. Ainda assim, algumas destas famílias têm histórias que, geração após geração, deixam marcas. Um destes casos cariocas é o dos Amaral Gurgel. 
       Em princípios da década de 1590, João Pereira de Sousa prendeu em batalha, no Cabo Frio, um jovem corsário francês chamado Tousaint Gurgel. Sousa, que por ser artilheiro era chamado de Botafogo, deve ter se afeiçoado ao rapaz. Porque Gurgel não viveu, no Rio, uma vida de prisioneiro. Filho de pai alemão e mãe francesa, natural da Alsácia, estudara nas melhores escolas europeias. Uma raridade. E um partidaço. Em 1598, casou-se com uma moça misteriosa: Francisca de Arão Amaral. Ela vivia em casa boa, ao pé do Castelo, de frente para a Santa Casa. Não há qualquer documento que identifique seu pai ou mãe, mas deviam ser gente com algum dinheiro.
         Casamento no Rio: coisa rara. Boa parte dos moradores eram índios que, mesmo convertidos, seguiam apenas mais ou menos os ritos católicos. Dentre os quinhentos e poucos europeus ou descendentes, as jovens solteiras eram poucas. Os homens, em geral, formavam famílias informais com moças tupis. 
           Tousaint e Francisca tiveram oito filhos, dentre os quais sete mulheres e o único homem fez-se padre. Ainda assim, mesmo que por linhagem materna, o nome Amaral Gurgel ou Gurgel do Amaral consolidou-se e se estabeleceu. 
           Quase um século depois, um de seus netos, Claudio do Amaral Gurgel, deixou para o Rio um de seus ícones mais longevos. Foi ele quem doou para a igreja o cume do morro da Glória, com já lá em cima a estrutura original do Outeiro. Quase dois séculos após o casamento, um tetraneto, Salvador do Amaral Gurgel, achou por bem mudar-se para Vila Rica, em Minas, onde tomou emprestado de certo alferes dos Dragões um dicionário francês. Arrolado entre os inconfidentes, terminou a vida no exílio em Moçambique (África), como braço direito do poeta desembargador Tomás Antônio Gonzaga. Na década de 1970, o engenheiro Augusto do Amaral Gurgel tentou emplacar a ideia de um automóvel inteiramente nacional. 
          E tudo começou no encontro de um corsário francês com o homem que batizou Botafogo.
                              (Jornal O Globo de 10/5/2015 – Pedro Doria).

Vocabulário:
 longevos – mais antigo

 Após a leitura atenta do Texto, realize as questões propostas.

1ª QUESTÃO: “Os homens, em geral, formavam famílias informais com moças tupis.” Assinale a opção que apresenta a causa para o fato acima:
          A – (  ) Os homens preferiam não se casarem formalmente.
       B – (  ) As índias eram mais bonitas que as outras moças e por isso os homens se encantavam com elas.
       C – (X) Entre os estrangeiros ou descendentes que moravam aqui, as jovens solteiras eram poucas.
        D – (  ) As moças solteiras preferiam casar com os índios que viviam aqui.
       E – ( ) As moças estrangeiras ou descendentes não queriam formar família.

2ª QUESTÃO: Qual foi a contribuição da família Amaral Gurgel para o patrimônio do Rio de Janeiro?
       A – ( ) Um dicionário da língua francesa.
       B – ( ) A tradição dos casamentos na cidade.
       C – ( ) O filho de Francisca e Tousaint ter se tornado padre.
       D – (X) A doação do cume do morro da Glória para a igreja.
       E – ( ) Doação da casa que Francisca viveu quando era solteira para a Santa Casa.


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