terça-feira, 22 de setembro de 2020

TEXTO: UMA AVENTURA NO RIO XINGU - VITO D'ALESSIO - COM GABARITO

 Texto: Uma aventura no rio Xingu

          Vito D’Alessio

   O Xingu é um dos mais fascinantes rios da Amazônia. Em suas margens e ilhas, cobertas de florestas, vivem índios, caboclos e muitos animais selvagens.

 Dois rapazes, Vito D’Alessio e Renato Dutra, viajaram mais de 1.400 quilômetros pelo Xingu. Sabe de que jeito? De caiaque!

          Na primeira noite da viagem, eles estavam dormindo numa pequena ilha no meio do rio, quando Vito, ao sair da rede para reacender a fogueira, teve uma “surpresinha”...

        Despertei às nove e quarenta e dois, antes do relógio. Através da rede, não vi a claridade avermelhada do fogo. A fogueira já era. Me preparei pra sair e reacende-la. Enquanto abria o zíper da rede, observei pela malha do mosquiteiro a lua branca e brilhante. Tudo é silêncio, magia e mistério. Foi com os olhos grudados no brilho da lua que coloquei meio corpo para fora. [...] A dois metros de onde estou, a mansidão das águas nas margens da ilhota foi trocada pelo brilho frio e vermelho de dezenas de pares de olhos. Uma cordilheira de sombras negras recortadas no clarão da noite. São jacarés. Essa imagem causa sensações inéditas e indescritíveis. Não sei dizer se o que sinto é medo ou a grande emoção de sentir que o risco é a mais clara manifestação da força da vida.

        Jacarés... Imediatamente se acende em minha memória a imagem dos índios e seu “hino” profético: “Jacaré vai comê caraíba... Jacaré vai comê caraíba...”. As palavras dançam em minha cabeça em ritmo acelerado, acompanhando as batidas do meu coração. Desde o primeiro momento, a prudência me fez acreditar nas palavras dos índios; mas eu não esperava que isso acontecesse tão cedo.

        A tensão é forte. Por segundos fico completamente estático, apenas observando nossas visitas, ou melhor, nossos anfitriões, pois ali no meio da Amazônia os hóspedes somos nós. É preciso fazer alguma coisa, e rápido. Sem desviar o olhar daquele mundo de olhos um só minuto, fui tateando a rede às minhas costas até alcançar a lanterna e o revólver. Feito isso, passei a chamar Renato. Preocupado em não ser o centro das atenções – se já não era –, minha voz mais parecia um sussurro. Diante da diferença de meu companheiro, envolvido em sono profundo, inconscientemente ergui a voz. Imediatamente houve uma leve movimentação na água, o que àquela altura tinha o efeito de um terremoto. Controlando minha ansiedade, disse:

        -- Abra sua rede devagar e olhe para fora...

        Eu não podia vê-lo, mas a tensão me fez acompanhar seus movimentos pelos ruídos. Quando o zíper da rede cessou seu trajeto, fez-se um tempo de silêncio até que ouvi sua voz assustada:

        -- Meu chapa!...

        Pelo timbre, imaginava sua expressão de espanto. Renato também buscou sua arma e, lentamente, saímos juntos da rede. Nos encontramos de costas e chegamos a um consenso. O primeiro passo seria afugentar os animais. Depois, acender o fogo. Atirei para o alto. O estrondo seco foi seguido por incontáveis mergulhos e rabadas na água, por toda a nossa volta. Temporariamente estávamos mais uma vez a sós. [...]

        A pouca lenha nos obriga a administrar muito bem cada graveto. O silêncio é brutal e qualquer ruído leva a um estado de alerta. Um leve som vem do casco de nossos barcos. A imaginação me faz crer que são filhotinhos de jacaré. O sono tenta me vencer, mas a tensão é muito mais forte. Ilumino com a lanterna os barrancos próximos. Centenas de olhos me miram atentos. Talvez estejam apenas esperando eu dormir para atacar. Foram horas intermináveis de tensão. Quando o último graveto foi absorvido pelas chamas, as primeiras luzes começavam a raiar. Traziam com elas a mansidão e a segurança da manhã, o que nos garantiu algumas horas de sono tranquilo.

        Começamos o segundo dia com a lentidão de uma noite maldormida. Depois do café da manhã, arrumamos nossas coisas nos caiaques e nos preparamos para sair. Consultando os mapas, descobrimos que a pequena ilha em que estamos tem o nome de ilha do Natal, o que não tornava nossa manhã mais festiva. Ironicamente, Renato comentou:

        -- Ilha do Natal!... Por pouco não viramos ceia...

        Barcos na água, iniciamos mais uma jornada.

Vito D’Alessio. Pelas veias da selva. São Paulo, FTD, 1992.

Fonte: Língua Portuguesa. Entre palavras – Edição renovada. Mauro Ferreira. 5ª série. Ed. FTD – São Paulo – 1ª edição – 2002. P. 233-7.

Entendendo o texto:

01 – Esse texto é um relato de uma aventura.

a)   Resuma, em no máximo dez linhas, os fatos narrados.

Vito e Renato, viajando pelo Xingu, param em uma ilha para dormir e acordam no meio da noite cercados por jacarés. Procuram deixar os bichos longe e esperam amanhecer para seguir viagem.

b)   Quem conta os fatos é um narrador ou é um narrador-personagem? Justifique.

É um narrador-personagem. Vito conta os fatos dos quais ele participou.

02 – Releia o terceiro parágrafo (“A tensão é forte...”) e responda.

a)   Por que Vito afirma, inicialmente, que os jacarés eram visitas?

Porque ele e Renato já estavam na ilhota, quando, à noite, os jacarés foram até ela.

b)   Por que ele se corrige e diz que os jacarés eram os anfitriões (anfitrião: dono da casa, aquele que recebe as visitas)?

Vito diz que ele e o amigo estão temporariamente na Amazônia fazendo uma visita ao lugar. Como os jacarés vivem lá, os bichos é que estão “recebendo” os dois visitantes, isto é, são os anfitriões.

03 – Ainda em relação ao terceiro parágrafo.

a)   Ao acordar Renato, Vito tentou “não ser o centro das atenções”. Explique o que ele quis dizer com isso.

Ele tentou não fazer barulho, nem se mexer muito, para evitar que os jacarés percebessem que ele estava ali.

b)   Por que Vito afirma que a leve movimentação na água teve o “efeito de um terremoto”?

Porque o pequeno movimento dos jacarés apavorou muito o rapaz, tanto quanto um terremoto o assustaria.

04 – “O estrondo seco foi seguido por incontáveis mergulhos e rabadas na água, por toda a nossa volta”.

a)   O que foi o “estrondo seco”?

Foi o tiro dado por Vito para espantar os jacarés.

b)   Por que aconteceram os “mergulhos e rabadas”?

Porque os jacarés se assustaram com o barulho do tiro e fugiram, mergulhando e batendo a cauda na água.

c)   Transcreva, desse trecho, o adjetivo que indica que os jacarés eram em grande número.

Incontáveis.

05 – Releia o final do primeiro parágrafo.

        “Não sei dizer se o que sinto é medo ou a grande emoção de sentir que o risco é a mais clara manifestação da força da vida.” Explique o que o narrador-personagem quer dizer com “o risco é a mais clara manifestação da força da vida”.

      O narrador-personagem quer dizer que é nas situações de perigo que descobrimos o quanto realmente gostamos de viver.

06 – Releia o oitavo parágrafo e indique se as afirmações que seguem constituíram fato real ou suposto (imaginado) por Vito.

a)   Vito e Renato tiveram que economizar lenha para que o fogo durasse a noite toda.

Fato real.

b)   Filhotes de jacaré faziam barulho no casco do barco.

Fato suposto.

c)   Os barrancos estavam cheios de jacarés.

Fato real.

d)   Os jacarés estavam esperando que os dois rapazes dormissem para ataca-los.

Fato suposto.

e)   Quando a lenha acabou, o dia estava começando.

Fato real.

f)    Depois que amanheceu, Vito e Renato conseguiram dormir um pouco.

Fato real.

07 – De manhã, Vito e Renato consultaram os mapas e descobriram que a ilhota em que haviam passado a noite chamava-se “ilha do Natal”. Explique a brincadeira que Renato faz com o nome da ilha, ao dizer “Por pouco não viramos ceia...”.

      Ele se refere ao fato de que as pessoas costumam fazer ceia no dia de Natal e eles quase viraram “ceia” (comida) dos jacarés.

08 – Esse texto narra uma aventura que aconteceu na realidade.

a)   Na sua opinião, por que muitas pessoas gostam de ler esse tipo de narrativa?

Interesse em saber como são os lugares em que as aventuras acontecem e como os seus participantes enfrentam as situações. É também um modo de “viver” um pouco o que é relatado.

b)   Você gostaria de ter participado dessa aventura no rio Xingu? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

     

 

 

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