Texto: A mistificação do herói
Paulo
Cosiuc
A necessidade de justificar decisões
políticas, sem sempre favoráveis aos interesses da comunidade, tomadas por
aqueles que se consideram os donos da verdade e, de outro lado, a competição e
o ardente desejo de vencer na vida (não importa como) e manter-se no poder,
levam à mistificação da figura do “herói”.
Debruçando-nos sobre a realidade do
mundo de hoje, principalmente dos países subdesenvolvidos, constatamos que o
povo é colocado na condição de mero espectador dos acontecimentos por aqueles
que detêm o poder. Sua participação nas decisões do Estado é apenas simbólica.
É chamado apenas para referendar e nunca para opinar e decidir.
Consequentemente a realidade sócio econômica e política é interpretada do ponto
de vista de um pequeno número de “grandes homens” que se consideram os únicos
capazes de tomar as decisões certas e optar sobre o que é bom para todos. O
povo é excluído do processo e reduzido à simples condição de objeto.
O
capitalismo criou a necessidade de uma satisfação imediata gerando e
incentivando o consumismo. Como consequência a produção precisa aumentar
constantemente, o que leva à modernização que, justificada sob o pretexto de
racionalização das atividades, leva a uma divisão de tarefas (especialização).
Todavia esta “racionalização” acaba separando aqueles que dirigem e controlam o
processo (os “grandes homens”) daqueles que apenas executam tarefa, sendo,
portanto, dirigidos. Estes, como meros cumpridores de tarefa, perdem a sua
dignidade de sujeito da história e se tornam simples objeto. Esta dicotomia
entre “capazes” e “incapazes”, entre “grandes homens” e “homens comuns” é
conveniente e fundamental para aqueles que detêm o poder, pois perpetua a
exploração e a dominação.
Num momento histórico onde tão poucos
podem decidir tudo e tantos não podem decidir nada, não é de se surpreender a
valorização que se procura dar à “história” feita pelos “grandes homens”. Nesse
quadro histórico a dicotomia entre exploradores e explorados, entre os que
detêm o poder e dominam e os que são dominados, se descortina claramente diante
de nossos olhos, mas para os que detêm o poder ela é fruto da maior capacidade
dos que dirigem. Ai do povo se não houvesse os “grandes homens” para decidir
por ele.
Não se pode negar que a sociedade
necessita de liderança. Todavia o líder não é necessariamente um “herói” capaz
de atos mirabolantes e fantásticos. Não é um ser superior agraciado pelos
deuses, mas é aquele que coordena a ação do grupo. A sua liderança nasce
espontaneamente, emergindo das necessidades do grupo. Não é um “herói”, mas um
comandante que dirige e coordena e não precisa de atos espetaculares par
liderar.
Conclusão:
O grande desafio e a grande luta que a
história nos coloca é a busca da humanização do homem e a criação de uma
sociedade mais justa, onde não haja opressores e oprimidos, onde todos possam
decidir juntos e usufruir igualmente dos bens materiais.
Para que este desafio possa ser
enfrentado é fundamental a formação da consciência histórica, isto é, ter-se
uma visão clara da realidade vivida e perceber-se as tendências das
transformações sociais. Cada um deve compreender que os seus atos são
importantes para o presente e para o futuro e se empenhar na luta pela sua
libertação e libertação de todos os homens. Essa conscientização não se adquire
passivamente, mas através de uma ação sobre o mundo, buscando fazer aquilo que
se pode fazer. Descobrir que não são os “heróis” que fazem a história, mas que
a história se constrói no dia-a-dia através da ação de todos os homens.
Paulo Cosiuc,
professor de História, Escola Comunitária, Campinas.
Fonte: Livro – Encontro
e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna,
2005 – p. 125/6.
Entendendo o texto:
01 – O quadro histórico
apresenta a dicotomia entre “grandes homens” e “homens comuns”. E ainda dizem:
“Ai do povo se não houvesse os ‘grandes homens’ para decidir por ele”. Você
concorda que o povo deve favores aos
“grandes homens”? Justifique.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Não. Isto é apenas uma maneira de enganar o povo, de
mistificar a sua própria figura para deter o poder. O povo não deve nada aos
“grandes homens”. Pelo contrário, o povo trabalha para os “grandes homens”.
02 – Que fazem os “grandes
homens”?
Continuam perpetuando a exploração e a
dominação.
03 – Alguns “homens comuns”
estão inconformados com essa “escravatura”. E protestam. Comente sobre esses
homens que assumiram a bandeira da
liberdade.
São os
verdadeiros “líderes” que coordenam a ação do grupo.
04 – Como nasce a verdadeira
liderança?
Nasce
espontaneamente: emerge das necessidades do grupo. Ela não precisa de atos
espetaculares para liderar.
05 – Por que os “falsos
heróis” precisam de atos mirabolantes para convencer o povo de sua “capacidade”?
Porque, na realidade, não têm o carisma
para dirigir um povo. Por isso criam falsos atos, que impressionam, mas não
ajudam.
06 – O que é ter uma consciência histórica?
É ter uma visão
clara da realidade vivida e perceber as tendências das transformações sociais.
07 – Como adquirimos essa
consciência histórica?
Através de uma
ação sobre o mundo, buscando fazer aquilo que se pode fazer.
08 – Não seria o caso de
assumirmos um novo compromisso com a vida? Justifique.
Sim. Repensarmos sobre o conceito de
liberdade, independência. Analisarmos as causas que dificultam o
desenvolvimento.
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