sexta-feira, 11 de setembro de 2020

TEXTO: A MISTIFICAÇÃO DO HERÓI - PAULO COSIUC - COM GABARITO

 Texto: A mistificação do herói

           Paulo Cosiuc

        A necessidade de justificar decisões políticas, sem sempre favoráveis aos interesses da comunidade, tomadas por aqueles que se consideram os donos da verdade e, de outro lado, a competição e o ardente desejo de vencer na vida (não importa como) e manter-se no poder, levam à mistificação da figura do “herói”.

        Debruçando-nos sobre a realidade do mundo de hoje, principalmente dos países subdesenvolvidos, constatamos que o povo é colocado na condição de mero espectador dos acontecimentos por aqueles que detêm o poder. Sua participação nas decisões do Estado é apenas simbólica. É chamado apenas para referendar e nunca para opinar e decidir. Consequentemente a realidade sócio econômica e política é interpretada do ponto de vista de um pequeno número de “grandes homens” que se consideram os únicos capazes de tomar as decisões certas e optar sobre o que é bom para todos. O povo é excluído do processo e reduzido à simples condição de objeto.

        O capitalismo criou a necessidade de uma satisfação imediata gerando e incentivando o consumismo. Como consequência a produção precisa aumentar constantemente, o que leva à modernização que, justificada sob o pretexto de racionalização das atividades, leva a uma divisão de tarefas (especialização). Todavia esta “racionalização” acaba separando aqueles que dirigem e controlam o processo (os “grandes homens”) daqueles que apenas executam tarefa, sendo, portanto, dirigidos. Estes, como meros cumpridores de tarefa, perdem a sua dignidade de sujeito da história e se tornam simples objeto. Esta dicotomia entre “capazes” e “incapazes”, entre “grandes homens” e “homens comuns” é conveniente e fundamental para aqueles que detêm o poder, pois perpetua a exploração e a dominação.

        Num momento histórico onde tão poucos podem decidir tudo e tantos não podem decidir nada, não é de se surpreender a valorização que se procura dar à “história” feita pelos “grandes homens”. Nesse quadro histórico a dicotomia entre exploradores e explorados, entre os que detêm o poder e dominam e os que são dominados, se descortina claramente diante de nossos olhos, mas para os que detêm o poder ela é fruto da maior capacidade dos que dirigem. Ai do povo se não houvesse os “grandes homens” para decidir por ele.

        Não se pode negar que a sociedade necessita de liderança. Todavia o líder não é necessariamente um “herói” capaz de atos mirabolantes e fantásticos. Não é um ser superior agraciado pelos deuses, mas é aquele que coordena a ação do grupo. A sua liderança nasce espontaneamente, emergindo das necessidades do grupo. Não é um “herói”, mas um comandante que dirige e coordena e não precisa de atos espetaculares par liderar.

        Conclusão:

        O grande desafio e a grande luta que a história nos coloca é a busca da humanização do homem e a criação de uma sociedade mais justa, onde não haja opressores e oprimidos, onde todos possam decidir juntos e usufruir igualmente dos bens materiais.

        Para que este desafio possa ser enfrentado é fundamental a formação da consciência histórica, isto é, ter-se uma visão clara da realidade vivida e perceber-se as tendências das transformações sociais. Cada um deve compreender que os seus atos são importantes para o presente e para o futuro e se empenhar na luta pela sua libertação e libertação de todos os homens. Essa conscientização não se adquire passivamente, mas através de uma ação sobre o mundo, buscando fazer aquilo que se pode fazer. Descobrir que não são os “heróis” que fazem a história, mas que a história se constrói no dia-a-dia através da ação de todos os homens.

Paulo Cosiuc, professor de História, Escola Comunitária, Campinas.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 125/6.

Entendendo o texto:

01 – O quadro histórico apresenta a dicotomia entre “grandes homens” e “homens comuns”. E ainda dizem: “Ai do povo se não houvesse os ‘grandes homens’ para decidir por ele”. Você concorda que o povo deve favores aos “grandes homens”? Justifique.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não. Isto é apenas uma maneira de enganar o povo, de mistificar a sua própria figura para deter o poder. O povo não deve nada aos “grandes homens”. Pelo contrário, o povo trabalha para os “grandes homens”.

02 – Que fazem os “grandes homens”?

      Continuam perpetuando a exploração e a dominação.

03 – Alguns “homens comuns” estão inconformados com essa “escravatura”. E protestam. Comente sobre esses homens que assumiram a bandeira da liberdade.

      São os verdadeiros “líderes” que coordenam a ação do grupo.

04 – Como nasce a verdadeira liderança?

     Nasce espontaneamente: emerge das necessidades do grupo. Ela não precisa de atos espetaculares para liderar.

05 – Por que os “falsos heróis” precisam de atos mirabolantes para convencer o povo de sua “capacidade”?

      Porque, na realidade, não têm o carisma para dirigir um povo. Por isso criam falsos atos, que impressionam, mas não ajudam.

06 – O que é ter uma consciência histórica?

      É ter uma visão clara da realidade vivida e perceber as tendências das transformações sociais.

07 – Como adquirimos essa consciência histórica?

      Através de uma ação sobre o mundo, buscando fazer aquilo que se pode fazer.

08 – Não seria o caso de assumirmos um novo compromisso com a vida? Justifique.

      Sim. Repensarmos sobre o conceito de liberdade, independência. Analisarmos as causas que dificultam o desenvolvimento.

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