terça-feira, 1 de setembro de 2020

CRÔNICA: A RUA - JOÃO DO RIO - FRAGMENTO - COM GABARITO

 Crônica: A RUA

                    João do Rio – fragmento

        Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, [...] porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o ódio, o egoísmo. Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua. [...]

        A rua! Que é a rua?

        A verdade e o trocadilho! Os dicionários dizem: "Rua, do latim ruga, sulco. Espaço entre as casas e as povoações por onde se anda e passeia". A rua era para eles apenas um alinhado de fachadas por onde se anda nas povoações.

       Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!

       A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou um tipo universal, tipo que vive em cada aspecto urbano, em cada detalhe, em cada praça – a rua criou o garoto!

       Oh! sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas...

        Balzac* dizia que as ruas de Paris nos dão impressões humanas. São assim as ruas de todas as cidades, com vida e destinos iguais aos do homem.

JOÃO DO RIO. A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

Entendendo a crônica:

01 – Que revelação o cronista faz para iniciar sua crônica?

      Ele revela seu amor pela rua.

02 – Após sua revelação, o cronista expressa a opinião de que se trata de um sentimento muito pessoal. Que expressão ele usa para qualificar seu sentimento dessa maneira?

      Que é um sentimento de natureza toda íntima.

03 – Como o cronista expressa aos leitores sua opinião de que se trata de um sentimento que é também de todos os leitores a que se dirige?

      Expressa que este amor assim absoluto e exagerado é partilhado por todos vós, pois somos irmãos.

04 – Na opinião do cronista o que iguala, irmana e une todos os habitantes de um local?

      O amor da rua.

05 – Que vocábulo é utilizado, no final do parágrafo, para se referir ao sentimento de amor pela rua e da rua como algo atemporal e um bem que é passado como herança de geração a geração?

      Legado.

06 – Que expressão o cronista utiliza para:

a) referir-se a seus leitores? Vós.

b) irmanar-se aos leitores? Nós.

07 – “A rua! Que é a rua?” Pelo modo como inicia a segunda parte, que intenção do narrador pode ser percebida, em relação ao assunto da crônica?

      Usando a exclamação demonstra emoção e entusiasmo, e depois faz uma pergunta.

08 – A que trocadilho o cronista se refere e que verdade estabelece, a partir do trocadilho?

      O trocadilho seria Rua no sentido denotativo (dicionário) e ele estabelece o significado no sentido conotativo quando diz que a rua tem alma.

09 – Que função tem as aspas (abrindo e fechando), em trecho do 3.º parágrafo?

      As aspas foram usadas para destacar o significado retirado do dicionário.

10 – Em: “A rua era para eles apenas um alinhado de fachadas...”, a que se refere o vocábulo em destaque?

      Se refere ao sentido literal de uma rua.

11 – Observe os elementos destacados nos trechos abaixo. Faça a correspondência, de acordo com a relação de circunstância que cada elemento estabelece:

(1) “Espaço entre as casas e as povoações por onde se anda e passeia” (3.º parágrafo).

(2) “Ora, a rua é mais do que isso ...” (4.º parágrafo).

(3) “...ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira...” (6.º parágrafo)

(2) comparativa.

(3) causa e consequência.

(1) aditiva.

12 – Observe que, a partir do trocadilho, o cronista passa a usar o recurso da PERSONIFICAÇÃO e, dessa forma, passa a humanizar a rua. Transcreva dessa parte da crônica o primeiro trecho que indica a personificação:

      “... a rua tem alma!”.

13 – Pode-se dizer que, na opinião do cronista, o homem faz a rua e a rua faz o homem? Justifique sua resposta com um trecho da crônica.

      Sim. “Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames...”.

 

 

 

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