quarta-feira, 16 de setembro de 2020

CRÔNICA: PRIMAVERA -CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Crônica: Primavera

              Cecília Meireles

        A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

        Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

        Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

        Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

        Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

        Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

        Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

        Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

        Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Cecília Meireles

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, assinale a alternativa INCORRETA:

a)   Na primavera natural há sussurro de passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul.

b)   A primavera não é efêmera.

c)   A inclinação do sol marca outras sombras com a chegada da primavera.

d)   A terra se enfeita para as festas da sua perpetuação.

e)   A amendoeira encontra-se coroada de flores, com vestidos e braços carregados de flores.

02 – Através da leitura da crônica nos traz que imagem a mente?

      A imagem da inevitabilidade do ciclo sazonal – movimento e vida perpétuos.

03 – E para você, o que é a primavera?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – O texto é construído com base nas informações que percorre cotidianamente. De acordo com isso responda:

a)   Que fato desencadeou os acontecimentos narrados na crônica?

A chegada da primavera.

b)   Em que parágrafo a autora menciona o acontecimento que derivou esta crônica?

No primeiro parágrafo.

05 – Onde aconteceu o fato narrado?

      Na natureza, com as plantas, animais e insetos.

06 – De que trata a crônica?

      As mudanças no meio ambiente, na natureza, com a chegada da primavera.

 

Um comentário: