ARTIGO: O protagonismo das manifestações está no social, e não no Facebook
Marcos Hiller
Compreender
essas interações mediadas pelas tecnologias digitais tem sido para mim uma
questão central para a reflexão da sociedade contemporânea na medida em que se
evidenciam transformações de ordem social, cultural, política e econômica.
O próprio uso do termo
revolução, que aparece em textos, comentários e opiniões nas mídias e sobretudo
nas nossas timelines, deve ser repensado. Será que estamos diante de uma
revolução? Acho que não e ainda é muito cedo para concluir isso. Compreender
essas interações mediadas pelas tecnologias digitais tem sido para mim uma
questão central para a reflexão da sociedade contemporânea na medida em que se
evidenciam transformações de ordem social, cultural, política e econômica.
Olhando no retrovisor da
história, tivemos sim uma revolução da escrita no Oriente Médio no século V, ou
então a revolução da imprensa de Johannes Gutemberg no século XV e até mesmo a
tão estudada Revolução Industrial no século retrasado. Revolução significa
ruptura. Significa que antes era de uma forma e depois ficou de outra. Na
própria Revolução Industrial, coloca-se equivocadamente a máquina como o
protagonista do acontecimento. O protagonismo está na apropriação social das
pessoas sobre o surgimento da máquina, e não na máquina. É o mesmo que colocar,
equivocadamente, o microblog Twitter como protagonista do que vimos acontecer
na chamada Primavera Árabe. A queda de governos no Oriente Médio foi causada
pelas pessoas e pela apropriação social das pessoas sobre essas redes sociais
digitais. Sempre no social.
Vive-se hoje uma nova
revolução? Uma revolução, ainda em curso, implementada pelas tecnologias
digitais e ocasionando importantes transformações no interior dos distintos
aspectos da sociedade? Há quem acredite que sim, que há uma revolução. Eu não
partilho dessa opinião. Podemos ver contundentes transformações em todos os
campos sociais, econômicos, políticos e culturais. Diferentemente de outras
manifestações similares no Brasil e no mundo, dessa vez, vemos produtos
culturais sendo apropriados pelas pessoas (sempre pelas pessoas) como, por
exemplo, a música da banda O Rappa (“Vem pra rua”), utilizada em um filme
publicitário da montadora FIAT e com o mote da Copa do Mundo, mas que já virou
uma espécie de hino desses levantes. Ou então a máscara branca do grupo
“Anonymous”, sendo utilizada como símbolo central e mascarando e ocultando
rostos de muitas pessoas. Sem falar dos cartazes com frases de protesto e
dizeres bem humorados.
Neste texto, eu coloco a
minha reflexão sobre o que estamos vendo, e opto pela não-adoção do termo
revolução para classificar essas transformações que evidenciamos. Os argumentos
de algumas pessoas carregam um tom radicalmente revolucionário, fazendo crer
que tudo aquilo que antes era passado, passa a ser agora de forma diferente,
antagonizando e contradizendo o que passou. Se não existisse Facebook, estaria
acontecendo toda essa mobilização social nas ruas? Certamente sim. Não é uma
página de web, na verdade uma grande mídia originada em um dormitório de
Harvard, que deve ser colocada no centro dessas transformações sociais,
políticas e econômicas que podem estar por vir. Tudo bem que o Facebook e
outras plataformas podem é contribuir de forma interessante no sentido de articular
encontros e mobilizar pessoas. Mas os atores principais dessa história toda são
e sempre serão as pessoas, o povo, o social. Oras, nem metade do Brasil possui
acesso à Internet e cerca de um terço do país acessa o Facebook, sendo que
desses, cerca de 30 milhões acessam o site de Mark Zuckerberg na palma na mão.
O fato é que ainda é muito cedo para prever no que resultará toda essa
mobilização. O preço das passagens já voltaram ao valor anterior. Mas o que
realmente está por vir, eu não me arrisco a prever.
ENTENDENDO O TEXTO
1)
O texto acima trata principalmente
a) do
facebook como protagonista das manifestações que estão sendo presenciadas no
Brasil.
b) da revolução
industrial que aconteceu no século
retrasado, tendo o microblog Twitter como protagonista.
c) das
plataformas que devem contribuir de forma interessante no sentido de articular
encontros e mobilizar pessoas.
d) dos atores responsáveis pelas manifestações que são: as pessoas, o
povo, o social.
2)
A partir da leitura do texto pode-se afirmar
que é fato
a) a
inexistência das redes sociais nas manifestações.
b) a existência das redes sociais nas manifestações.
c) o
aparecimento das revoluções a partir do Facebook.
d) o
Facebook como principal responsável pelas manifestações.
3)
Os termos mas (4º parágrafo) e se
(5º parágrafo) indicam
a) Condição
e causa.
b) Causa
e oposição.
c) Condição
e oposição.
d) Oposição e condição.
Boa noite!
ResponderExcluirSou o fotógrafo responsável pelo clique da imagem "Saímos do Facebook" e peço encarecidamente que a remova do seu site pois além de não dar os créditos ainda removeu a marca d'água.