CRÔNICA: ASSALTOS INSÓLITOS
Affonso Romano Santanna
Assalto não tem graça nenhuma, mas alguns,
contados depois, até que são engraçados. É igual a certos incidentes de viagem,
que, quando acontecem, deixam a gente aborrecidíssima, mas depois, narrados aos
amigos num jantar, passam a ter sabor de anedota.
Uma
vez me contaram de um cidadão que foi assaltado em sua casa. Até aí, nada
demais. Tem gente que é assaltada na rua, no ônibus, no escritório, até dentro
de igrejas e hospitais, mas muitos o são na própria casa. O que não diminui o
desconforto da situação.
Pois lá estava o dito-cujo em sua casa, mas
vestido em roupa de trabalho, pois resolvera dar uma pintura na garagem e na
cozinha. As crianças haviam saído com a mulher para fazer compras e o marido se
entregava a essa terapêutica atividade, quando, da garagem, vê adentrar pelo
jardim dois indivíduos suspeitos.
Mal teve tempo de tomar uma atitude e já
ouvia:
— É um assalto, fica quieto senão leva
chumbo.
Ele já se preparava para toda sorte de
tragédias quando um dos ladrões pergunta:
— Cadê o patrão?
Num rasgo de criatividade, respondeu:
—
Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta.
— Então vamos lá dentro, mostre tudo.
Fingindo-se, então, de empregado de si
mesmo, e ao mesmo tempo para livrar sua cara, começou a dizer:
— Se quiserem levar, podem levar tudo, estou
me lixando, não gosto desse patrão. Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam
aquele rádio ali? Olha, se eu fosse vocês levava aquele som também. Na cozinha
tem uma batedeira ótima da patroa. Não querem uns discos? Dinheiro não tem,
pois ouvi dizerem que botam tudo no banco, mas ali dentro do armário tem uma
porção de caixas de bombons, que o patrão é tarado por bombom.
Os ladrões recolheram tudo o que o falso
empregado indicou e saíram apressados. Daí a pouco chegavam a mulher e os
filhos. Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso quanto aliviado do
próprio assalto que ajudara a fazer contra si mesmo.
SANTANNA
Affonso Romano. PORTA DE COLÉGIO E OUTRAS CRÔNICAS São Paulo: Ática 1995.
(Coleção Para
gostar de ler.)
1) O texto – Assaltos insólitos – pertence a que
gênero textual:
a)
conto b) crônica c) carta d) notícia
a)
tempo b) modo c)
causa d) lugar
3)
O dono da casa livra-se de toda sorte de tragédias, principalmente, porque
a) aconselha a levar o som.
b) mostra os objetos da casa.
c) mente para os assaltantes.
d) conta os defeitos do patrão.
e) fazia sua atividade terapêutica.
4)
A finalidade do texto é
a) advertir sobre os possíveis lugares em
que ocorrem assaltos.
b) relatar um fato incomum
ocorrido com um cidadão.
c) expor uma opinião sobre um assunto sério.
d) instruir o leitor como evitar uma tragédia.
e) fazer o leitor refletir sobre um
assalto.
5)
No trecho “e o marido se entregava a essa terapêutica
atividade”, a expressão destacada substitui
a) fazer compras.
b) ir
no mercado.
c) narrar anedotas.
d) pintar a casa.
6)
No texto, a expressão “-Paga mal, é um pão-duro”
indica uma linguagem
a) formal.
b) técnica.
c) regional.
d) informal.
7) É exemplo de linguagem
formal, no texto
a) “dito-cujo”
b) “adentrar”
c) “pão-duro”
d) “botam”
8) O texto “Assaltos
insólitos” é uma crônica porque
a) expressa a
opinião de um jornal ou de uma revista sobre um assunto da atualidade.
b) apresenta
relatos de fatos com acréscimo de entrevistas e comentários.
c)
retrata acontecimentos do cotidiano com caráter crítico.
d) sua função
principal é a de divulgar uma informação visualmente.
e) apresenta uma
moral no final do texto.
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