domingo, 1 de junho de 2025

TEXTO: MASSACRE DE ELDORADO DOS CARAJÁS - JOSÉ SARAMAGO - COM GABARITO

 Texto: MASSACRE DE ELDORADO DOS CARAJÁS

           JOSÉ SARAMAGO

        No dia 17 de abril de 1996, no estado brasileiro do Pará, perto de uma povoação chamada Eldorado dos Carajás (Eldorado: como pode ser sarcástico o destino de certas palavras...), 155 soldados da polícia militarizada, armados de espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra uma manifestação de camponeses que bloqueavam a estrada em ação de protesto pelo atraso dos procedimentos legais de expropriação de terras, como parte do esboço ou simulacro de uma suposta reforma agrária na qual, entre avanços mínimos e dramáticos recuos, se gastaram já cinquenta anos, sem que alguma vez tivesse sido dada suficiente satisfação aos gravíssimos problemas de subsistência (seria mais rigoroso dizer sobrevivência) dos trabalhadores do campo. Naquele dia, no chão de Eldorado dos Carajás ficaram 19 mortos, além de umas quantas dezenas de pessoas feridas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2FkMfVFKs5fQce2KUfkLj6Dj8pq9xxHG9FlAnU-q4ejzTkfTLIryyippfZjLNEl6KdHpcceODg_6f0AB-g1vnQ5BUln9MIs3XNKSzPZiuVvjMHcDBeZnVV0KIRjfHpulH97H0UjBFOzx_W69hbB_H6SwIWec7Y0IXoeVzcD3QfoqEPGEIqFtq3jr63mA/s1600/images.jpg

        Passados três meses sobre este sangrento acontecimento, a polícia do estado do Pará, arvorando-se a si mesma em juiz numa causa em que, obviamente, só poderia ser a parte acusada, veio a público declarar inocentes de qualquer culpa seus 155 soldados, alegando que tinham agido em legítima defesa, e, como se isto lhe parecesse pouco, reclamou processamento judicial contra três dos camponeses, por desacato, lesões e detenção ilegal de armas. O arsenal bélico dos manifestantes era constituído por três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura mais ou menos manejáveis. Demasiado sabemos que, muito antes da invenção das primeiras armas de fogo, já as pedras, as foices e os chuços haviam sido considerados ilegais nas mãos daqueles que, obrigados pela necessidade a reclamar pão para comer e terra para trabalhar, encontraram pela frente a polícia militarizada do tempo, armada de espadas, lanças e alabardas. Ao contrário do que geralmente se pretende fazer acreditar, não há nada mais fácil de compreender que a história do mundo, que muita gente ilustrada ainda teima em afirmar ser complicada demais para o entendimento rude do povo.

José Saramago. In: Sebastião Salgado. Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 11.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 19.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

-- Alabarda: arma antiga, formada por haste de madeira em ferro largo e pontiagudo, atravessando por outro em forma de meia-lua.

-- Chuço: vara ou pau armado de ponta de ferro ou de aço.

-- Simulacro: ação simulada, falsificação.

02 – Qual foi o contexto e o motivo da manifestação dos camponeses em Eldorado dos Carajás, segundo o texto de José Saramago?

      A manifestação dos camponeses ocorreu em protesto contra o atraso nos procedimentos legais de expropriação de terras, parte de uma reforma agrária que, após cinquenta anos, ainda não havia oferecido soluções significativas para os graves problemas de subsistência dos trabalhadores rurais. Eles bloquearam a estrada como forma de pressionar por seus direitos.

03 – Descreva a ação da polícia militarizada contra os manifestantes e as consequências imediatas desse confronto.

      No dia 17 de abril de 1996, 155 soldados da polícia militarizada, armados com espingardas e metralhadoras, abriram fogo contra a manifestação pacífica dos camponeses. O resultado imediato foi a morte de 19 pessoas e dezenas de feridos.

04 – Qual foi a alegação da polícia do estado do Pará três meses após o massacre, e como José Saramago a critica no texto?

      Três meses após o massacre, a polícia do Pará declarou publicamente a inocência de seus 155 soldados, alegando legítima defesa. Saramago critica essa postura ao apontar a contradição de a polícia se colocar como juíza em uma situação em que era claramente a parte acusada. Ele também ironiza a alegação ao contrastar o armamento pesado da polícia com as "armas" dos camponeses: três pistolas, pedras e instrumentos de lavoura.

05 – Segundo o texto, qual era a principal reivindicação dos camponeses e como Saramago relaciona essa reivindicação com a história da luta por direitos?

      A principal reivindicação dos camponeses era "pão para comer e terra para trabalhar", ou seja, condições básicas de sobrevivência e dignidade através do acesso à terra. Saramago relaciona essa reivindicação com a longa história da luta por direitos, mencionando que mesmo antes das armas de fogo, instrumentos simples como pedras e foices eram considerados ilegais nas mãos daqueles que lutavam por necessidades básicas. Ele sugere que essa dinâmica de opressão persiste ao longo da história.

06 – Qual a crítica geral de José Saramago presente no texto em relação à compreensão da história e à situação dos trabalhadores do campo?

      Saramago critica a ideia de que a história é excessivamente complexa para o entendimento do povo, argumentando que, na verdade, a história do mundo é facilmente compreensível, especialmente no que diz respeito à luta dos oprimidos por seus direitos. Ele denuncia a persistente falta de atenção e solução para os gravíssimos problemas de subsistência dos trabalhadores do campo no Brasil, evidenciada pela lentidão e ineficácia da reforma agrária.

 

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