Música (Atividades): Maracatu Atômico
O bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor
E toda a fauna, a flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte, tem arte, tem arte
E aqui passa com raça eletrônico, maracatu atômico
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Mamauê

Atrás do arranha-céu, tem o céu, tem o céu
E depois tem outro céu sem estrelas
Em cima do guarda-chuva, tem a chuva, tem a chuva
Que tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
No meio da couve-flor, tem a flor, tem a flor
Que além de ser uma flor tem sabor
Dentro do porta-luva, tem a luva, tem a luva
Que alguém de unhas negras e tão afiadas esqueceu de pôr
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
No fundo do para-raio, tem o raio, tem o raio
Que caiu da nuvem negra do temporal
Todo quadro-negro, é todo negro, é todo negro
E eu escrevo seu nome nele só pra demonstrar o meu apego
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
O bico do beija-flor, beija a flor, beija a flor
E toda a fauna, a flora grita de amor
Quem segura o porta-estandarte tem arte, tem arte
E aqui passa com raça eletrônico maracatu atômico
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê, auêia, aê
Manamauê.
Composição: Chico
Science; Jorge Mautner; Nelson Jacobina. Maracatu atômico. In: Chico Science
& Nação Zumbi. Afrociberdelia, Sony Music, 1996.
Fonte: Arte em
Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume
único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 330-331.
Entendendo a música:
01 – Qual é a principal
característica da linguagem utilizada na letra de "Maracatu Atômico" e como ela contribui para o tema da
música?
A principal
característica da linguagem em "Maracatu Atômico" é a repetição de
palavras e sons, criando um ritmo hipnótico e um jogo de palavras que mescla
elementos cotidianos e oníricos. Essa repetição, como em "o bico do
beija-flor, beija a flor, beija a flor" ou "no meio da couve-flor,
tem a flor, tem a flor", não é apenas estilística; ela contribui para o
tema da reinterpretação e da descoberta do extraordinário no ordinário. Ao
repetir e fragmentar as frases, Chico Science destaca as partes de um todo,
revelando belezas e particularidades que passariam despercebidas. Essa técnica
reflete a proposta do movimento Manguebeat, de misturar o arcaico e o
tecnológico, o orgânico e o industrial, o popular e o erudito, criando uma
"estética da lama" que vê riqueza na hibridez.
02 – De que forma a música "Maracatu Atômico" representa
a fusão de elementos tradicionais e modernos, característica do Manguebeat?
"Maracatu Atômico" é uma
representação exemplar da fusão de elementos tradicionais e modernos, pilar do
Manguebeat. Essa fusão é explícita na própria expressão "maracatu
atômico": o maracatu evoca a tradição cultural pernambucana, com suas
raízes africanas e seu forte caráter popular e ritualístico, enquanto
"atômico" remete à modernidade, à energia, à tecnologia e, por vezes,
à disrupção. A letra reforça essa junção ao descrever um
"porta-estandarte" que "tem arte" e passa "com raça
eletrônico, maracatu atômico", evidenciando a inserção de elementos
tecnológicos na tradição. Além disso, as imagens poéticas misturam o natural
("fauna, flora", "beija-flor", "chuva") com o
urbano e tecnológico ("arranha-céu", "porta-luva",
"para-raio", "quadro-negro"), criando uma paisagem sonora e
lírica que celebra a coexistência desses mundos.
03 – Analise o refrão
"Manamauê, auêia, aê / Manamauê, auêia, aê / Manamauê, auêia, aê /
Mamauê". Qual é sua função e o que ele evoca?
O refrão tem uma
função percussiva e mântrica na música. Ele evoca os cantos e os rituais do
maracatu e de outras manifestações culturais afro-brasileiras, que
frequentemente utilizam vocalizações rítmicas e repetitivas para criar uma
atmosfera de transe e coletividade. A ausência de um significado literal claro
nessas sílabas reforça sua dimensão sonora e rítmica, transportando o ouvinte
para um universo que transcende a lógica racional. Ele serve como um elemento
de coesão, unindo as diferentes imagens e ideias apresentadas nas estrofes e
reforçando a identidade cultural arraigada do maracatu, mesmo em sua versão
"atômica".
04 – Que tipo de sensações ou
ideias são provocadas pelas imagens sensoriais da música, como "gotas tão
lindas que até dá vontade de comê-las" ou "couve-flor, tem a flor...
tem sabor"?
As imagens
sensoriais da música, como "gotas tão lindas que até dá vontade de
comê-las" e "couve-flor, tem a flor... tem sabor", provocam uma
sensação de descoberta e encantamento com o detalhe e o inusitado. Elas
estimulam a percepção multissensorial, misturando o visual ("gotas
lindas", "flor" da couve-flor) com o paladar ("vontade de
comê-las", "tem sabor"). Essas descrições inusitadas e quase
sinestésicas realçam a beleza e a riqueza presentes em elementos cotidianos,
convidando o ouvinte a olhar para o mundo com um novo olhar, valorizando o que
é muitas vezes ignorado. Refletem a capacidade de Chico Science de transformar
o prosaico em poético, o trivial em surpreendente, e de encontrar uma lógica
própria, a "lógica da lama", que revela as maravilhas ocultas no
universo simples.
05 – Como a música "Maracatu Atômico" expressa a
visão do artista sobre a complexidade da realidade brasileira, onde o
"micro" e o "macro" se encontram?
A música
"Maracatu Atômico" expressa a visão do artista sobre a complexidade
da realidade brasileira através da constante interconexão entre o
"micro" e o "macro". O poema lírico transita de detalhes
singelos como "o bico do beija-flor" e "gotas tão lindas"
para grandezas como "toda a fauna, a flora" e "o céu". O
cenário urbano do "arranha-céu" se conecta ao infinito do "céu
sem estrelas", e o íntimo ("alguém de unhas negras... esqueceu de
pôr") encontra seu paralelo no universal ("toda a fauna, a flora
grita de amor"). Essa alternância constante entre o particular e o geral,
o detalhe e o panorama, demonstra que a riqueza e a complexidade do Brasil
residem nessa intersecção e sobreposição de realidades. A "geleia
geral" ou o "maracatu atômico" é, portanto, a manifestação dessa
multiplicidade, onde cada pequeno elemento contém um universo, e o todo é a
soma de detalhes surpreendentes e contraditórios.
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