História: ÉDIPO O REI – Fragmento
Édipo é filho de Laios, rei de Tebas.
Antes de Édipo nascer, Laios sofreu uma maldição que dizia que seu primeiro
filho ia se tornar seu assino e casaria com a própria mãe. Tentando escapar à
maldição dos deuses, Laios manda matar Édipo logo após seu nascimento. Porém, o
bebê é salvo por um servidor, que o entrega a Políbio, rei de Corinto. Sem
saber que Políbio não é seu pai verdadeiro, Édipo, já adulto, descobre a
maldição e, para que não fosse cumprida, foge para Tebas. No meio do caminho,
envolve-se em uma briga e mata alguns mercadores, sem saber que entre eles
estava Laios, seu verdadeiro Pai.

Ao chegar a Tebas, Édipo decifra o
enigma da Esfinge, e quebra outra maldição que assolava a cidade. Como
recompensa, é feito rei e casa-se com a recém viúva de Laios, Jocasta, sem
saber que ela era sua mãe verdadeira.
No meio da história, Édipo resolve
investigar quem teria sido o assino do rei Laios, condição para livrar a cidade
de outros males.
Édipo: Tu é
que entregaste a criança de quem ele fala?
O
Servidor: Fui eu. Quem dera tivesse morrido naquele mesmo dia?
Édipo:
Recusa-te a falar, e é isso o que te espera.
O
Servidor: Se eu falar, minha morte será ainda mais certa.
Édipo: Esse
homem parece-me querer ganhar tempo
O
Servidor: Não, eu já disse: fui eu que o entreguei.
Édipo: De
quem era essa criança? Tua ou de um outro?
O
Servidor: Não era minha. Era de um outro.
Édipo:
De quem? De que lar de Tebas ela saía?
O
Servidor: Não, mestre, em nome dos deuses, não perguntes mais.
Édipo:
Morrerás, se eu tiver que repetir minha pergunta.
O
Servidor: Ele nascera na casa de Laios.
Édipo:
Escrava? ... Ou parente do rei?
O
Servidor: Ai de mim! Chego ao mais cruel de dizer.
Édipo:
E, para mim, de ouvir. No entanto, ouvirei.
O
Servidor: Diziam ser filho do rei... Mas tua mulher, no palácio,
pode te dizer isso melhor do que ninguém.
Édipo: Foi
ela quem te entregou a criança?
O
Servidor: Foi ela, Senhor.
Édipo: Com
que intenção?
O
Servidor: Para que eu a matasse.
Édipo: Uma
mãe! ... Mulher desgraçada!
O
Servidor: Ela tinha medo de um oráculo dos deuses.
Édipo: O que
ele anunciava?
O
Servidor: Que a criança um dia mataria seus pais.
Édipo: Mas
por que tu a entregaste a este homem?
O
Servidor: Tive piedade dela, mestre. Acreditei que ele a levaria ao
país de onde vinha. Ele te salvou a vida, mas para os piores males! Se és
realmente aquele de quem ele fala, saibas que nascestes marcado pela
infelicidade.
Édipo: Oh!
Ai de mim então no final tudo seria verdade! Ah! Luz do dia, que eu te vejo
aqui pela última vez, já que hoje me revelo o filho de quem não deveria nascer,
o esposo de quem não devia ser, o assassino de quem não devia matar!
Ele corre para dentro do palácio.
Moderado.
O
Coro: Pobres gerações humanas, não vejo em vós senão um nada!
Qual o homem, qual o homem que obtém
mais felicidade do que parecer feliz, para depois, dada essa aparência,
desaparecer do horizonte?
Tendo teu destino como exemplo, teu
destino, ó desditado Édipo, não posso mais julgar feliz quem quer que seja
entre os homens.
Ele visou o mais alto. Tornou-se senhor
de uma fortuna e de uma felicidade completas.
Destruiu, ó Zeus, a Esfinge das garras
aguçadas. Ergueu-se em nossa cidade como um baluarte contra a morte. E foi
assim, Édipo, que foste proclamado nosso rei, que recebeste as mais altas
honrarias, que reinaste sobre a poderosa Tebas.
Mais forte
E quem agora poderia ser dito mais
infeliz do que tu? Quem sofreu desastres, misérias mais atrozes, numa tal
reviravolta?
Ah! Nobre e caro Édipo! Assim o leito
nupcial viu o filho após o pai entrar no mesmo porto terrível!
Como pôde, como pôde o campo lavrado
por teu pai te suportar por tanto tempo, sem revolta, ó desgraçado?
O tempo, que tudo vê, o descobriu a
despeito de ti. Ele condena o himeneu, que nada tem de um himeneu, de onde
nasciam ao mesmo tempo e por tantos dias um pai e filhos.
Ah! Filho de Laios! Quisera jamais,
jamais ter-te conhecido! Estou desolado, e gritos enlouquecidos escapam de
minha boca. Cumpre dizer a verdade de ti, outrora, recuperei a vida, e por ti,
hoje, fecho os olhos para sempre! Um escravo sai do palácio.
SÓFOCLES.
Édipo rei. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre. Editora L&PM, 2012 p. 72
e 77.
Ao descobrir toda a verdade, Édipo fura
os próprios olhos e se autoexila. Jocasta suicida-se. Sófocles (aproximadamente
496 a.C. – 405 a.C.) foi um dos mais importantes dramaturgos da Grécia antiga. Escreveu
centenas de peças, mas apenas sete delas chegaram completas até os dias de
hoje.
Fonte: Arte em
Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume
único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 29-31.
Entendendo a história:
01 – Como a tragédia de Édipo,
conforme narrada no fragmento, ilustra o conceito de destino inabalável na
mitologia grega, apesar das tentativas dos personagens de evitá-lo?
O fragmento
demonstra a inelutabilidade do destino ao descrever como Laios tenta frustrar a
profecia de que seu filho o mataria e se casaria com a própria mãe, ao mandar
matar Édipo. Contudo, a criança é salva e, sem saber sua verdadeira origem,
Édipo, ao fugir de Corinto para evitar a maldição, cumpre-a inadvertidamente ao
matar Laios e, posteriormente, casar-se com Jocasta. Isso sublinha a ideia de
que o destino, uma vez predito pelos deuses, é inevitável, independentemente
das ações humanas.
02 – Analise a ironia
dramática presente na investigação de Édipo sobre o assassinato de Laios.
A ironia
dramática é evidente na busca incansável de Édipo pelo assassino de Laios, um
esforço para livrar Tebas de males, sem que ele próprio saiba que é o culpado.
Ele impõe condições severas e ameaça o servidor para que revele a verdade,
ignorando que cada revelação o aproxima da descoberta de sua própria terrível
realidade. A tensão aumenta à medida que ele pressiona por informações que, ao
final, o condenarão e desvelarão sua identidade como o assassino e esposo incestuoso.
03 – Qual o papel do Servidor
no fragmento e como suas hesitações contribuem para o clímax da revelação?
O Servidor é a
testemunha-chave da verdade sobre a origem de Édipo. Inicialmente relutante em
falar ("Se eu falar, minha morte será ainda mais certa"), suas
hesitações e súplicas ("Não, mestre, em nome dos deuses, não perguntes
mais") constroem a tensão e o suspense. Cada tentativa de Édipo de extrair
a verdade dele é um passo em direção à descoberta, e a resistência do Servidor
reflete o peso e o horror da revelação iminente, amplificando o impacto do
clímax quando a verdade é finalmente exposta.
04 – Descreva a reação de
Édipo ao compreender a verdade sobre sua identidade e seus atos, conforme
expresso no final do fragmento.
Ao final do
fragmento, a reação de Édipo é de desespero e absoluta consternação. Ele
exclama: "Oh! Ai de mim então no final tudo seria verdade! Ah! Luz do dia,
que eu te vejo aqui pela última vez, já que hoje me revelo o filho de quem não
deveria nascer, o esposo de quem não devia ser, o assassino de quem não devia
matar!". Essa fala revela sua profunda agonia e a sensação de que sua
vida, até então baseada em uma falsa realidade, desmoronou completamente,
culminando em seu ímpeto de correr para dentro do palácio, presumivelmente para
consumar a tragédia.
05 – Como o Coro reflete sobre
a condição humana e a felicidade efêmera a partir do destino de Édipo?
O Coro, ao
observar o destino de Édipo, expressa uma visão pessimista sobre a felicidade
humana, considerando-a um "nada" e algo efêmero. Eles lamentam que o
homem "obtém mais felicidade do que parecer feliz, para depois, dada essa
aparência, desaparecer do horizonte". A tragédia de Édipo, que alcançou o
auge da fortuna e honrarias, serve como um exemplo contundente de como a
felicidade pode ser abruptamente revertida em miséria e desastre, levando o
Coro a não poder mais "julgar feliz quem quer que seja entre os
homens".
06 – Que elementos do texto
sugerem a iminente catástrofe após a revelação da verdade a Édipo?
Vários elementos
no texto sugerem a catástrofe iminente. A fala de Édipo "Ah! Luz do dia,
que eu te vejo aqui pela última vez" indica que ele pretende algo
drástico, como o autoexílio ou a morte. A corrida de Édipo para dentro do
palácio reforça a ideia de uma ação imediata e desesperada. Além disso, o
lamento do Coro sobre as "misérias mais atrozes" e o "himeneu,
que nada tem de um himeneu, de onde nasciam ao mesmo tempo e por tantos dias um
pai e filhos" prenunciam as consequências trágicas que se seguirão à
terrível descoberta. A frase final do fragmento que descreve Édipo furando os
próprios olhos e Jocasta se suicidando confirma a catástrofe.
07 – De que forma a resolução
do enigma da Esfinge por Édipo, que o eleva ao status de rei de Tebas,
contrasta com o posterior desvelamento de sua verdadeira identidade e queda?
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