domingo, 3 de agosto de 2025

MÚSICA(ATIVIDADES): GELÉIA GERAL - GILBERTO GIL - COM GABARITO

 Música (Atividades): Geleia Geral

             Gilberto Gil

Um poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_FO9h_G09wjcLDkm8hyphenhyphenMclmkkWjxY9fDMopeGiCAt0OkhRmn7RQgr6xdsnp2eMLu8QhdqlUgb_OBwB0fFqhRI9pZLH_m0fbPqI-xTeKEzQyZL8JhhPzJuJThUNZsrUpogkm4Twg0IMhKMYSadeWXRaQymqjp99-bSefOdDXA8HhP8kIJJWMHVMDujbPc/s320/unnamed.png


A alegria é a prova dos nove
E a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o Sol é mais limpo
E Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem
Pindorama, país do futuro

Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala
No Canecão, na TV
E quem não dança não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil
Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Superpoder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne-seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade jardim

Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira
Miss linda Brasil diz: Bom dia
E outra moça também Carolina
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia

Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi

Um poeta desfolha a bandeira
E eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento
Com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto
Tropicália, bananas ao vento

Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi.

Composição: Gilberto Gil / Torquato Neto. Tropicália ou panis et circencis. Philips, 1968.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 314-315.

Entendendo a música:

01 – Qual é o significado da expressão "Geleia Geral Brasileira" no contexto da música?

      A expressão "Geleia Geral Brasileira" é central para a música e representa a fusão caótica, mas vibrante, de elementos díspares que compõem a cultura e a realidade do Brasil. Gilberto Gil a utiliza para descrever a mistura de tradições antigas e modernidade, o popular e o erudito, o belo e o brutal, o nacional e o estrangeiro. A "geleia" sugere uma mistura densa e heterogênea, onde tudo se entrelaça sem uma ordem aparente, refletindo a complexidade e a diversidade do país, que é anunciada, ironicamente ou não, pelo "Jornal do Brasil". É a coexistência de contrastes que define a identidade brasileira.

02 – De que forma a música explora a dualidade entre otimismo e pessimismo na realidade brasileira?

      A música explora a dualidade entre otimismo e pessimismo de várias maneiras. Por um lado, há uma clara exaltação da alegria e da beleza do Brasil, com versos como "a manhã tropical se inicia / Resplandente, cadente, fagueira / Num calor girassol com alegria" e "Minha terra é onde o Sol é mais limpo / E Mangueira é onde o samba é mais puro". A "alegria é a prova dos nove", sugerindo sua força e resiliência. Por outro lado, há a menção de que "a tristeza é teu porto seguro", reconhecendo a presença constante da melancolia e das dificuldades. A coexistência de "Hospitaleira amizade" e "Brutalidade jardim" também ilustra essa dualidade, mostrando que a beleza e a cordialidade podem coexistir com aspectos mais ásperos da realidade brasileira. A música, portanto, não nega os desafios, mas celebra a capacidade de encontrar alegria e resiliência neles.

03 – Quais elementos da cultura e do cotidiano brasileiros são citados na letra e o que essa variedade sugere?

      A letra de "Geleia Geral" cita uma vasta gama de elementos da cultura e do cotidiano brasileiros, misturando o popular e o erudito, o tradicional e o moderno:

      Elementos culturais e geográficos: "Mangueira", "Pindorama", "Santo barroco baiano", "Portela", "carnaval de verdade".

      Objetos e costumes: "bandeira", "Tumbadora", "LP de Sinatra", "Maracujá", "carne-seca na janela".

      Sensações e conceitos: "calor girassol", "alegria", "tristeza", "sexto sentido", "voz do morro", "Tropicália", "bananas ao vento".

      Personagens e mídias: "poeta", "Jornal do Brasil", "Miss linda Brasil", "Carolina", "Canecão", "TV". Essa variedade sugere a diversidade e a complexidade da identidade brasileira, reforçando a ideia da "geleia geral". É um mosaico de referências que não se limita a um único aspecto, mas abraça a totalidade da experiência brasileira, com suas contradições, belezas e particularidades.

04 – Como o refrão "Ê, bumba-yê-yê-boi / Ano que vem, mês que foi / Ê, bumba-yê-yê-yê / É a mesma dança, meu boi" contribui para o sentido da música?

      O refrão "Ê, bumba-yê-yê-boi / Ano que vem, mês que foi / Ê, bumba-yê-yê-yê / É a mesma dança, meu boi" é fundamental para o sentido da música, pois ele evoca a circularidade do tempo e a persistência das tradições. A referência ao "bumba-meu-boi" conecta a música a uma manifestação cultural popular e ancestral, que se repete ciclicamente. As expressões "Ano que vem, mês que foi" e "É a mesma dança, meu boi" reforçam a ideia de que, apesar das mudanças e da passagem do tempo, certas essências e ritmos da vida brasileira permanecem, marcados por uma repetição quase ritualística. O refrão, portanto, serve como um elo entre o passado e o presente, e uma celebração da continuidade cultural em meio à "geleia geral" de transformações.

05 – Qual o papel da figura do "poeta desfolha a bandeira" na abertura e no encerramento da música?

      A figura do "poeta desfolha a bandeira" no início e no final da música é simbólica e multifacetada. Ao "desfolhar a bandeira", o poeta pode estar realizando um ato de desconstrução da identidade nacional oficial, revelando as múltiplas camadas e realidades por trás dos símbolos patrióticos. É como se ele estivesse abrindo a bandeira para expor as contradições e a riqueza da "geleia geral". No final, quando o eu-lírico afirma "Um poeta desfolha a bandeira / E eu me sinto melhor colorido", há uma sugestão de que essa desconstrução e a exposição da complexidade brasileira levam a uma maior compreensão e a um sentimento de pertencimento mais profundo e autêntico. O poeta, assim, atua como um mediador entre a realidade multifacetada e a percepção do indivíduo.

06 – Como a música aborda a relação entre o observador (aquele que "não dança") e a "Geleia Geral"?

      A música aborda a relação entre o observador e a "Geleia Geral" de forma crítica e sugestiva na estrofe: "E quem não dança não fala / Assiste a tudo e se cala / Não vê no meio da sala / As relíquias do Brasil". Aqui, a ação de "dançar" é uma metáfora para a participação ativa na vida e na cultura brasileira, enquanto "não dançar" representa a passividade, a alienação ou a incapacidade de se engajar com a complexidade do país. Quem não participa ("não dança") é incapaz de expressar-se ("não fala") e apenas observa passivamente ("Assiste a tudo e se cala"). Mais crucialmente, essa passividade impede que o observador perceba as "relíquias do Brasil" – os elementos ricos e valiosos que compõem a identidade nacional, que estão "no meio da sala", visíveis para quem se permite interagir. A crítica é àqueles que se afastam ou se recusam a imergir na diversidade cultural.

07 – Que papel a "Tropicália" desempenha na mensagem final da música, especialmente quando mencionada em conjunto com "bananas ao vento"?

      A menção de "Tropicália" no final da música, em conjunto com "bananas ao vento", é crucial para a mensagem. A Tropicália foi um movimento artístico e cultural do qual Gilberto Gil foi um dos principais expoentes, caracterizado justamente pela fusão de elementos diversos, nacionais e estrangeiros, tradicionais e modernos, em uma estética de apropriação e ressignificação. "Bananas ao vento" é uma imagem icônica do Tropicalismo, remetendo à antropofagia cultural (devorar e digerir influências) e a um certo exotismo e autoafirmação tropical. Ao citar esses elementos, a música reforça sua própria identidade como uma manifestação da Tropicália, celebrando a liberdade criativa, a mistura e a capacidade do Brasil de reinventar-se a partir de suas próprias particularidades. É um manifesto final sobre a vitalidade e a originalidade da cultura brasileira, que se expressa nessa "geleia geral".

 

 

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