História: Segismundo – A VIDA É SONHO – Fragmento
Pedro
Calderón de L Barca
É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.

Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.
Pedro Calderón de L
Barca. A vida é sonho. Tradução Renata Palottini. São Paulo: Página Aberta,
1992. p. 46-47.
Fonte: Arte em
Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume
único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 81.
Entendendo a história:
01 – Qual é a principal
reflexão filosófica que Segismundo apresenta neste fragmento?
A principal
reflexão filosófica de Segismundo é a natureza ilusória da existência humana,
culminando na ideia de que "toda a vida é sonho". Ele questiona a
realidade da vigília, sugerindo que tudo o que experimentamos, desde o poder de
um rei até a miséria de um pobre, pode ser apenas um sonho do qual acordaremos,
especialmente no "negro sonho da morte". Essa incerteza sobre o que é
real leva-o a ponderar sobre a futilidade da ambição e do poder.
02 – De que forma o rei e suas
ações são retratados em relação à temática do sonho e da morte?
O rei é retratado
como alguém que "sonha que é rei", vivendo sob a ilusão de seu poder
e dos aplausos que recebe. Segismundo enfatiza que esses aplausos são
"vazios, no vento escreve" e que a "sorte" do rei é cortada
pela morte, transformando sua riqueza em cinzas. A crítica reside na ironia de
alguém desejar reinar, sabendo que inevitavelmente "há de despertar no
negro sonho da morte", revelando a transitoriedade e a vaidade do poder
terreal.
03 – Como o conceito de sonho
se aplica a diferentes classes sociais, segundo Segismundo?
Segismundo aplica
o conceito de sonho a todas as classes sociais, demonstrando sua
universalidade. Ele afirma que "sonha o rico sua riqueza", que
paradoxalmente lhe "oferece trabalhos". Da mesma forma, "sonha o
pobre que padece sua miséria e pobreza". Essa abrangência do
"sonho" sobre ricos e pobres, os que buscam triunfo e os que ofendem,
leva à conclusão de que "todos sonham o que são". A distinção de
classes é apagada pela natureza onírica da existência, onde cada um vive sua
própria ilusão, sem que "ninguém entende" a profundidade dessa
condição.
04 – Quais são as perguntas
retóricas que Segismundo faz sobre a vida e como ele a define?
Segismundo faz as
seguintes perguntas retóricas: "Que é a vida? Um frenesi. Que é a vida?
Uma ilusão, uma sombra, uma ficção". Através dessas indagações, ele define
a vida de forma pessimista e desiludida, usando termos que remetem à
instabilidade, à falsidade e à impermanência. Para ele, mesmo "o maior bem
é tristonho", pois, no final das contas, "toda a vida é sonho e os
sonhos, sonhos são", sublinhando a efemeridade e a falta de substância da
realidade.
05 – Considerando o estado de
Segismundo ("de correntes carregado") e suas lembranças ("sonhei
que em outro estado mais lisonjeiro me vi"), como isso reforça a ideia
central do fragmento?
O estado atual de
Segismundo, "de correntes carregado", contrasta drasticamente com a
lembrança de ter sonhado estar em um "estado mais lisonjeiro". Essa
experiência pessoal dele — a alternância entre a dura realidade da prisão e a
memória de uma existência mais agradável, possivelmente um sonho ou uma
lembrança de liberdade — reforça a ideia central de que a vida é um sonho. Se
até mesmo a distinção entre a privação e a glória pode ser uma questão de sonho
e despertar, isso valida a incerteza fundamental sobre o que é real e o que é
ilusório, tornando sua própria condição um microcosmo da tese que ele defende
sobre a existência.
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