domingo, 10 de agosto de 2025

HISTÓRIA: SEGISMUNDO - A VIDA É SONHO - FRAGMENTO - PEDRO CALDERÓN DE L. BARCA - COM GABARITO

 História: SegismundoA VIDA É SONHO – Fragmento

              Pedro Calderón de L Barca

É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFVoezX3f-3ylLtOOLbal9zwdBtUyk4o7u5Nk44GYhGIAS5LS5RZEA-C1d5uAiIc50RhcltASjJbGlM0lCJomKTFOwJpaK9_vsDaVC7_BaspUWsTbuu3DSOE_EFPSH1hKZUvpE1fPWEpEr1hyphenhyphenNb7kvELxB95pn-YU4ySh0eRWz3NILL98nvaU41HTaZjA/s1600/calderon-031.jpg


Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.

Pedro Calderón de L Barca. A vida é sonho. Tradução Renata Palottini. São Paulo: Página Aberta, 1992. p. 46-47.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 81.

Entendendo a história:

01 – Qual é a principal reflexão filosófica que Segismundo apresenta neste fragmento?

      A principal reflexão filosófica de Segismundo é a natureza ilusória da existência humana, culminando na ideia de que "toda a vida é sonho". Ele questiona a realidade da vigília, sugerindo que tudo o que experimentamos, desde o poder de um rei até a miséria de um pobre, pode ser apenas um sonho do qual acordaremos, especialmente no "negro sonho da morte". Essa incerteza sobre o que é real leva-o a ponderar sobre a futilidade da ambição e do poder.

02 – De que forma o rei e suas ações são retratados em relação à temática do sonho e da morte?

      O rei é retratado como alguém que "sonha que é rei", vivendo sob a ilusão de seu poder e dos aplausos que recebe. Segismundo enfatiza que esses aplausos são "vazios, no vento escreve" e que a "sorte" do rei é cortada pela morte, transformando sua riqueza em cinzas. A crítica reside na ironia de alguém desejar reinar, sabendo que inevitavelmente "há de despertar no negro sonho da morte", revelando a transitoriedade e a vaidade do poder terreal.

03 – Como o conceito de sonho se aplica a diferentes classes sociais, segundo Segismundo?

      Segismundo aplica o conceito de sonho a todas as classes sociais, demonstrando sua universalidade. Ele afirma que "sonha o rico sua riqueza", que paradoxalmente lhe "oferece trabalhos". Da mesma forma, "sonha o pobre que padece sua miséria e pobreza". Essa abrangência do "sonho" sobre ricos e pobres, os que buscam triunfo e os que ofendem, leva à conclusão de que "todos sonham o que são". A distinção de classes é apagada pela natureza onírica da existência, onde cada um vive sua própria ilusão, sem que "ninguém entende" a profundidade dessa condição.

04 – Quais são as perguntas retóricas que Segismundo faz sobre a vida e como ele a define?

      Segismundo faz as seguintes perguntas retóricas: "Que é a vida? Um frenesi. Que é a vida? Uma ilusão, uma sombra, uma ficção". Através dessas indagações, ele define a vida de forma pessimista e desiludida, usando termos que remetem à instabilidade, à falsidade e à impermanência. Para ele, mesmo "o maior bem é tristonho", pois, no final das contas, "toda a vida é sonho e os sonhos, sonhos são", sublinhando a efemeridade e a falta de substância da realidade.

05 – Considerando o estado de Segismundo ("de correntes carregado") e suas lembranças ("sonhei que em outro estado mais lisonjeiro me vi"), como isso reforça a ideia central do fragmento?

      O estado atual de Segismundo, "de correntes carregado", contrasta drasticamente com a lembrança de ter sonhado estar em um "estado mais lisonjeiro". Essa experiência pessoal dele — a alternância entre a dura realidade da prisão e a memória de uma existência mais agradável, possivelmente um sonho ou uma lembrança de liberdade — reforça a ideia central de que a vida é um sonho. Se até mesmo a distinção entre a privação e a glória pode ser uma questão de sonho e despertar, isso valida a incerteza fundamental sobre o que é real e o que é ilusório, tornando sua própria condição um microcosmo da tese que ele defende sobre a existência.

 

 

 

 

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