Texto: Ruído musical
De forma geral, o termo ruído remete a
sons desagradáveis ou indesejados. Mas o termo também pode ser referir a sons
com características acústicas complexas, normalmente relacionadas ao timbre dos
sons, diferentes dos sons de altura definida, que reconhecemos como notas. A
maioria dos sons de instrumentos de percussão, por exemplo, tem elementos
“ruidosos”: sons raspados, sons curtos, chiados etc.

Durante o século XX o uso desse tipo de
sons cresceu muito na produção musical. A guitarra elétrica, por exemplo,
presente em vários gêneros musicais, é um instrumento que tem o potencial de
criar sons ruidosos em vários níveis, assim como sons similares ao violão.
Vivemos a realidade mais ruidosa da
história da humanidade, com os maiores índices de poluição sonora já
registrados. Isso mudou a relação das pessoas com suas paisagens sonoras,
especialmente desde a Revolução Industrial e nos centros urbanos. Outros tipos
de sons passaram a ser comuns no dia a dia e assim que os músicos tiveram
acesso às tecnologias que permitem registrar esses sons começaram a fazer parte
da prática musical.
Após a popularização da fila magnética
na década de 1950, os compositores começaram a se apropriar de todo tipo de
sons para fazer música. As notas musicais começaram a ser trocadas por sons
mais complexos e que oferecessem material sonoro novo. Houve uma mudança no
foco dos parâmetros sonoros pelos quais os músicos iriam se interessar. A
música contemporânea passou a focar especialmente o timbre.
Kartheinz Stockhausen (1928-2007) foi
um dos compositores mais representativos da música contemporânea, com
aproximadamente 370 peças, incluindo obras inusitadas como uma peça para
quarteto de helicópteros e quarteto de cordas, e um conjunto de óperas que
foram criadas para serem realizadas durante uma semana, com partes escritas para
cada dia. O compositor também trabalhou amplamente com obras eletroacústicas.
Sua obra O canto da juventude, de 1956, é uma das primeiras grandes obras desse
tipo.
O termo “eletroacústico” se refere a
composições que incluem sons eletrônicos nas músicas. Embora quase toda
produção musical atual tenha sons eletrônicos, a “música eletroacústica” se
diferencia por ter sonoridade e estética próprias, normalmente evitando padrões
rítmicos repetitivos ou pulsos muito marcados e apresentando muita variedade
nos sons escolhidos para cada música. No caso da peça O canto da juventude, ela
inclui sons gravados de voz e sons gerados eletronicamente, ambos muito
modificados e editados. Além de trabalhar o material sonoro, o compositor
também estruturou a sua espacialização.
Especializar uma música consiste na
manipulação da sensação de localização das fontes sonoras quando reproduzidas
em alto-falantes (caixas de som). Hoje em dia, o sistema básico de reprodução é
em estéreo, que quer dizer dois alto-falantes, um direito e um esquerdo. Por
exemplo: o fone de ouvido. Nesse tipo de sistema, é possível criar a ilusão de
localização para parecer que os sons estão mais perto ou longe, mais para cima
ou mais para baixo, mais para a esquerda ou para a direita. É possível ainda
“movimentar” os sons no espaço. Esse recurso é muito utilizado nos filmes e nas
salas de cinema para aumentar o impacto das cenas. Esses sistemas costumam
contar com muitos alto-falantes, podendo ter mais de 20 em uma mesma sala.
Música
concreta e música eletrônica
Na metade do século XX aparecem duas
linhas de pensamento de criação musical associadas aos avanços tecnológicos da
época. Na França, a chamada musique concrète é resultado de pesquisas feitas em
gravações sobre fita magnética e processos de composição que utilizavam esses
procedimentos.
A fita magnética revolucionou as
possibilidades de experimentação com sons gravados. Ela passava por vários
processos diferentes, inclusive manuais, como cortar e colar pedaços de
gravações diferentes, para assim criar sons nunca antes ouvidos. Antes disso,
as possibilidades de modificação de sons gravados eram quase inexistentes.
Hoje em dia, a maioria da edição de
material sonoro é feita em arquivos digitais no computador, mas mantém muitos
processos que originalmente eram feitos à mão, como cortar e colar ou modificar
a velocidade dos sons.
Atualmente, a expressão “música
eletrônica” é associada à música para dançar, normalmente com um pulso muito marcado,
com poucos sons acústicos reconhecidos.
No entanto, originalmente, a música
eletrônica nasceu na Alemanha na mesma época que a música concreta, com o
intuito de criar os sons por meio de geradores de tons eletrônicos e sua
posterior manipulação.
A diferença principal entre elas se
encontra na base conceitual do processo de criação artístico: na música
concreta o material a ser modificado era a gravação dos sons da realidade; na
música eletrônica, os sons eram sintetizados, isto é, criados por aparelhos que
produziam sons em sua forma mais pura, chamada “onda senoidal” (esses sons não
existem na natureza nessa forma). A não ser por essa diferença, as duas
vertentes utilizaram processos de manipulação similares. Inclusive, já à época,
vários compositores utilizaram e eventualmente juntaram ambos os processos em
suas criações musicais, caso da peça de Stockhausen, O canto da juventude.
Na atualidade, esses processos em que
se misturam sons gravados com sons gerados por computadores são muito comuns em
diferentes gêneros musicais. Às vezes, inclusive, são misturados com
performances ao vivo para criar novas peças musicais, em particular no que diz
respeito à música eletroacústica.
Fonte: Arte em
Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume
único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 114-117.
Entendendo o texto:
01 – Como o texto define
"ruído" no contexto musical e quais exemplos são dados para ilustrar
essa definição?
No contexto
musical, o termo "ruído" refere-se a sons com características
acústicas complexas, geralmente ligadas ao timbre, que são diferentes dos sons
de altura definida (notas). O texto ilustra isso mencionando que a maioria dos
sons de instrumentos de percussão possui elementos "ruidosos", como
sons raspados, curtos ou chiados. Além disso, a guitarra elétrica é citada como
um instrumento com potencial para criar esses sons ruidosos em vários níveis.
02 – De que forma a Revolução
Industrial e o avanço tecnológico influenciaram a incorporação de ruídos na
música?
A Revolução
Industrial e o crescimento dos centros urbanos levaram a um aumento
significativo da poluição sonora, tornando novos tipos de sons comuns no dia a
dia das pessoas. Com o avanço tecnológico e o acesso dos músicos a tecnologias
que permitem registrar esses sons (especialmente após a popularização da fita
magnética na década de 1950), esses "ruídos" começaram a ser
incorporados na prática musical. Houve uma mudança de foco, e os compositores
passaram a se interessar por sons mais complexos e a priorizar o timbre em suas
composições contemporâneas.
03 – Quem foi Karlheinz
Stockhausen e qual a importância de sua obra "O canto da juventude"
para a música eletroacústica?
Karlheinz Stockhausen
(1928-2007) foi um dos compositores mais representativos da música
contemporânea, com uma vasta obra que incluiu peças inusitadas e trabalhos
eletroacústicos. Sua obra "O canto da juventude" (1956) é destacada
como uma das primeiras grandes obras eletroacústicas. Ela é importante por
combinar sons gravados de voz e sons gerados eletronicamente, ambos
intensamente modificados e editados, além de explorar a espacialização do som.
Isso a torna um marco na experimentação e fusão de diferentes fontes sonoras na
composição musical.
04 – O que significa
"espacializar uma música" e como esse recurso é utilizado atualmente?
Espacializar uma
música consiste na manipulação da sensação de localização das fontes sonoras
quando reproduzidas em alto-falantes. Isso permite criar a ilusão de que os
sons estão mais perto ou longe, para cima ou para baixo, ou para a esquerda ou
direita, além de possibilitar o "movimento" dos sons no espaço.
Atualmente, esse recurso é muito utilizado em filmes e salas de cinema para
aumentar o impacto das cenas, muitas vezes com sistemas que contam com
múltiplos alto-falantes para criar uma experiência sonora imersiva.
05 – Qual a diferença
conceitual fundamental entre "música concreta" e "música
eletrônica" em suas origens?
A principal
diferença conceitual entre a música concreta (França) e a música eletrônica
(Alemanha), ambas surgidas na metade do século XX, reside na base de seu
material sonoro. Na música concreta, o material a ser modificado era a gravação
de sons da realidade (sons "concretos") usando fita magnética. Já na
música eletrônica, os sons eram sintetizados, ou seja, criados por aparelhos
eletrônicos que produziam sons em sua forma mais pura, como a "onda
senoidal", que não existem naturalmente. Apesar dessa distinção inicial na
origem do som, ambos os processos de manipulação eram similares, e os
compositores, como Stockhausen, eventualmente os misturaram em suas criações.
06 – Como a fita magnética
revolucionou a experimentação com sons na metade do século XX?
A fita magnética
revolucionou as possibilidades de experimentação com sons gravados porque,
antes de sua popularização na década de 1950, as opções de modificação de sons
gravados eram quase inexistentes. Com a fita, os compositores puderam submeter
o material sonoro a diversos processos diferentes, inclusive manuais, como
cortar e colar pedaços de gravações distintas ou alterar a velocidade dos sons.
Isso permitiu a criação de sons nunca antes ouvidos, expandindo radicalmente o
universo sonoro disponível para a composição.
07 – De que forma a
"música eletroacústica" se diferencia da produção musical atual que
também utiliza sons eletrônicos?
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