domingo, 10 de agosto de 2025

TEXTO: RUÍDO MUSICAL - ARTE EM INTERAÇÃO - COM GABARITO

 Texto: Ruído musical

        De forma geral, o termo ruído remete a sons desagradáveis ou indesejados. Mas o termo também pode ser referir a sons com características acústicas complexas, normalmente relacionadas ao timbre dos sons, diferentes dos sons de altura definida, que reconhecemos como notas. A maioria dos sons de instrumentos de percussão, por exemplo, tem elementos “ruidosos”: sons raspados, sons curtos, chiados etc.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiPJXQtoMhoA2TNMNFo-NF8ysx7GM8loejaF2g_aGTqbpFd8enSOzyE_tgPB5zEUsJxzPkg0Tw3gCfsYdDQS_9A0I4LN3ht0CG_O8SpB_NFOksBwd3TJo3Bfm3_8mzJQjH6MXJYn25bf_qFDuQMB6ZrfgCL03DfMfrUvu_cA4HU67mol2LaVAL9a4AvIw/s320/ruido.jpg


        Durante o século XX o uso desse tipo de sons cresceu muito na produção musical. A guitarra elétrica, por exemplo, presente em vários gêneros musicais, é um instrumento que tem o potencial de criar sons ruidosos em vários níveis, assim como sons similares ao violão.

        Vivemos a realidade mais ruidosa da história da humanidade, com os maiores índices de poluição sonora já registrados. Isso mudou a relação das pessoas com suas paisagens sonoras, especialmente desde a Revolução Industrial e nos centros urbanos. Outros tipos de sons passaram a ser comuns no dia a dia e assim que os músicos tiveram acesso às tecnologias que permitem registrar esses sons começaram a fazer parte da prática musical.

        Após a popularização da fila magnética na década de 1950, os compositores começaram a se apropriar de todo tipo de sons para fazer música. As notas musicais começaram a ser trocadas por sons mais complexos e que oferecessem material sonoro novo. Houve uma mudança no foco dos parâmetros sonoros pelos quais os músicos iriam se interessar. A música contemporânea passou a focar especialmente o timbre.

        Kartheinz Stockhausen (1928-2007) foi um dos compositores mais representativos da música contemporânea, com aproximadamente 370 peças, incluindo obras inusitadas como uma peça para quarteto de helicópteros e quarteto de cordas, e um conjunto de óperas que foram criadas para serem realizadas durante uma semana, com partes escritas para cada dia. O compositor também trabalhou amplamente com obras eletroacústicas. Sua obra O canto da juventude, de 1956, é uma das primeiras grandes obras desse tipo.

        O termo “eletroacústico” se refere a composições que incluem sons eletrônicos nas músicas. Embora quase toda produção musical atual tenha sons eletrônicos, a “música eletroacústica” se diferencia por ter sonoridade e estética próprias, normalmente evitando padrões rítmicos repetitivos ou pulsos muito marcados e apresentando muita variedade nos sons escolhidos para cada música. No caso da peça O canto da juventude, ela inclui sons gravados de voz e sons gerados eletronicamente, ambos muito modificados e editados. Além de trabalhar o material sonoro, o compositor também estruturou a sua espacialização.

        Especializar uma música consiste na manipulação da sensação de localização das fontes sonoras quando reproduzidas em alto-falantes (caixas de som). Hoje em dia, o sistema básico de reprodução é em estéreo, que quer dizer dois alto-falantes, um direito e um esquerdo. Por exemplo: o fone de ouvido. Nesse tipo de sistema, é possível criar a ilusão de localização para parecer que os sons estão mais perto ou longe, mais para cima ou mais para baixo, mais para a esquerda ou para a direita. É possível ainda “movimentar” os sons no espaço. Esse recurso é muito utilizado nos filmes e nas salas de cinema para aumentar o impacto das cenas. Esses sistemas costumam contar com muitos alto-falantes, podendo ter mais de 20 em uma mesma sala.

        Música concreta e música eletrônica

        Na metade do século XX aparecem duas linhas de pensamento de criação musical associadas aos avanços tecnológicos da época. Na França, a chamada musique concrète é resultado de pesquisas feitas em gravações sobre fita magnética e processos de composição que utilizavam esses procedimentos.

        A fita magnética revolucionou as possibilidades de experimentação com sons gravados. Ela passava por vários processos diferentes, inclusive manuais, como cortar e colar pedaços de gravações diferentes, para assim criar sons nunca antes ouvidos. Antes disso, as possibilidades de modificação de sons gravados eram quase inexistentes.

        Hoje em dia, a maioria da edição de material sonoro é feita em arquivos digitais no computador, mas mantém muitos processos que originalmente eram feitos à mão, como cortar e colar ou modificar a velocidade dos sons.

        Atualmente, a expressão “música eletrônica” é associada à música para dançar, normalmente com um pulso muito marcado, com poucos sons acústicos reconhecidos.

        No entanto, originalmente, a música eletrônica nasceu na Alemanha na mesma época que a música concreta, com o intuito de criar os sons por meio de geradores de tons eletrônicos e sua posterior manipulação.

        A diferença principal entre elas se encontra na base conceitual do processo de criação artístico: na música concreta o material a ser modificado era a gravação dos sons da realidade; na música eletrônica, os sons eram sintetizados, isto é, criados por aparelhos que produziam sons em sua forma mais pura, chamada “onda senoidal” (esses sons não existem na natureza nessa forma). A não ser por essa diferença, as duas vertentes utilizaram processos de manipulação similares. Inclusive, já à época, vários compositores utilizaram e eventualmente juntaram ambos os processos em suas criações musicais, caso da peça de Stockhausen, O canto da juventude.

        Na atualidade, esses processos em que se misturam sons gravados com sons gerados por computadores são muito comuns em diferentes gêneros musicais. Às vezes, inclusive, são misturados com performances ao vivo para criar novas peças musicais, em particular no que diz respeito à música eletroacústica.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 114-117.

Entendendo o texto:

01 – Como o texto define "ruído" no contexto musical e quais exemplos são dados para ilustrar essa definição?

      No contexto musical, o termo "ruído" refere-se a sons com características acústicas complexas, geralmente ligadas ao timbre, que são diferentes dos sons de altura definida (notas). O texto ilustra isso mencionando que a maioria dos sons de instrumentos de percussão possui elementos "ruidosos", como sons raspados, curtos ou chiados. Além disso, a guitarra elétrica é citada como um instrumento com potencial para criar esses sons ruidosos em vários níveis.

02 – De que forma a Revolução Industrial e o avanço tecnológico influenciaram a incorporação de ruídos na música?

      A Revolução Industrial e o crescimento dos centros urbanos levaram a um aumento significativo da poluição sonora, tornando novos tipos de sons comuns no dia a dia das pessoas. Com o avanço tecnológico e o acesso dos músicos a tecnologias que permitem registrar esses sons (especialmente após a popularização da fita magnética na década de 1950), esses "ruídos" começaram a ser incorporados na prática musical. Houve uma mudança de foco, e os compositores passaram a se interessar por sons mais complexos e a priorizar o timbre em suas composições contemporâneas.

03 – Quem foi Karlheinz Stockhausen e qual a importância de sua obra "O canto da juventude" para a música eletroacústica?

      Karlheinz Stockhausen (1928-2007) foi um dos compositores mais representativos da música contemporânea, com uma vasta obra que incluiu peças inusitadas e trabalhos eletroacústicos. Sua obra "O canto da juventude" (1956) é destacada como uma das primeiras grandes obras eletroacústicas. Ela é importante por combinar sons gravados de voz e sons gerados eletronicamente, ambos intensamente modificados e editados, além de explorar a espacialização do som. Isso a torna um marco na experimentação e fusão de diferentes fontes sonoras na composição musical.

04 – O que significa "espacializar uma música" e como esse recurso é utilizado atualmente?

      Espacializar uma música consiste na manipulação da sensação de localização das fontes sonoras quando reproduzidas em alto-falantes. Isso permite criar a ilusão de que os sons estão mais perto ou longe, para cima ou para baixo, ou para a esquerda ou direita, além de possibilitar o "movimento" dos sons no espaço. Atualmente, esse recurso é muito utilizado em filmes e salas de cinema para aumentar o impacto das cenas, muitas vezes com sistemas que contam com múltiplos alto-falantes para criar uma experiência sonora imersiva.

05 – Qual a diferença conceitual fundamental entre "música concreta" e "música eletrônica" em suas origens?

      A principal diferença conceitual entre a música concreta (França) e a música eletrônica (Alemanha), ambas surgidas na metade do século XX, reside na base de seu material sonoro. Na música concreta, o material a ser modificado era a gravação de sons da realidade (sons "concretos") usando fita magnética. Já na música eletrônica, os sons eram sintetizados, ou seja, criados por aparelhos eletrônicos que produziam sons em sua forma mais pura, como a "onda senoidal", que não existem naturalmente. Apesar dessa distinção inicial na origem do som, ambos os processos de manipulação eram similares, e os compositores, como Stockhausen, eventualmente os misturaram em suas criações.

06 – Como a fita magnética revolucionou a experimentação com sons na metade do século XX?

      A fita magnética revolucionou as possibilidades de experimentação com sons gravados porque, antes de sua popularização na década de 1950, as opções de modificação de sons gravados eram quase inexistentes. Com a fita, os compositores puderam submeter o material sonoro a diversos processos diferentes, inclusive manuais, como cortar e colar pedaços de gravações distintas ou alterar a velocidade dos sons. Isso permitiu a criação de sons nunca antes ouvidos, expandindo radicalmente o universo sonoro disponível para a composição.

07 – De que forma a "música eletroacústica" se diferencia da produção musical atual que também utiliza sons eletrônicos?

      Apesar de quase toda a produção musical atual incluir sons eletrônicos, a "música eletroacústica" se diferencia por sua sonoridade e estética próprias. Ela normalmente evita padrões rítmicos repetitivos ou pulsos muito marcados, características comuns na "música eletrônica" associada à dança. Em vez disso, a música eletroacústica busca muita variedade nos sons escolhidos para cada peça, focando na exploração do timbre e da espacialização, muitas vezes misturando sons gravados com sons gerados por computador e até performances ao vivo. Isso a distingue de gêneros que usam sons eletrônicos de forma mais convencional ou com fins comerciais específicos

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