Poema: O Artista Inconfessável
João Cabral Neto
Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.

Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.
João Cabral de Melo
Neto. Fonte: Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de
textos – Módulo 1. p. 153.
Entendendo o poema:
01 – Qual é a principal
contradição expressa pelo eu lírico no início do poema?
A principal
contradição é a afirmação de que "Fazer o que seja é inútil" e
"Não fazer nada é inútil". Essa dualidade inicial estabelece o dilema
existencial do poema.
02 – Por que o eu lírico
sugere que "mais vale o inútil do fazer"?
O eu lírico sugere que "mais vale o
inútil do fazer" não para esquecer a inutilidade, mas porque o ato de
fazer, mesmo que inútil, é mais difícil do que a inação. Há um valor intrínseco
no esforço e na dificuldade.
03 – Qual é a condição para o
"fazer" que o poema propõe como mais significativo?
A condição para o "fazer" mais significativo é
fazer o inútil sabendo que ele é inútil e que seu sentido "não será sequer
pressentido". É um fazer consciente da falta de propósito externo.
04 – A quem o poema se dirige
com a frase "dizer mais direto ao leitor Ninguém"? Qual o efeito
dessa escolha?
O poema se dirige
a um leitor “Ninguém", o que enfatiza a ideia de que a obra é feita sem
expectativa de reconhecimento ou compreensão por parte de um público. Essa
escolha reforça o tema da inutilidade e do desdém em relação à recepção da
arte.
05 – Qual a conclusão final do
poema sobre o propósito da criação para o "Artista Inconfessável"?
A conclusão é que
a criação, para o "Artista Inconfessável", não visa utilidade,
reconhecimento ou esquecimento da inutilidade. Ela é realizada pela própria
dificuldade do ato e como uma forma de expressar desdém ou de comunicar
diretamente ao leitor “Ninguém" que o que foi feito é, em última
instância, para ninguém.
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