Poema: Ítaca
Kaváfis
Se partires um dia rumo a Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
Repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
Nem o colérico Posseidon te intimidem;
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for o teu pensamento, se sutil
Emoção teu corpo e teu espírito toca.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
Nem o bravio Posseidon hás de ver,
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de encontrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos Fenícios
e belas mercadorias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
e perfumes sensuais de toda espécie
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E findares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho.
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te
Ítaca não te iludiu, se achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência
E agora sabes o que significam Ítacas.
Kaváfis é um poeta
grego contemporâneo. Esta poesia foi retirada de uma antologia de seus poemas
publicados pela Editora Nova Fronteira.
Fonte: Programa de
Formação de Professores Alfabetizadores. Coletânea de textos – Módulo 1. p.
167.
Entendendo o poema:
01 – Qual é o desejo central
que o eu lírico faz para quem parte rumo a Ítaca?
O desejo central
é que o caminho seja longo, "repleto de aventuras, repleto de saber",
enfatizando a importância da jornada em si e das experiências acumuladas.
02 – Como o poema sugere que
se evitem os perigos mitológicos (Lestrigões, Ciclopes, Posseidon)?
O poema afirma que esses perigos não intimidarão nem serão
encontrados se o pensamento for altivo e a emoção sutil. Mais crucialmente,
eles não serão vistos se a própria pessoa não os levar dentro da alma ou se sua
alma não os puser diante de si, indicando que os verdadeiros obstáculos são
internos.
03 – Que tipo de experiências
o eu lírico recomenda buscar durante a jornada?
O eu lírico
recomenda buscar intercâmbios comerciais ("correr as lojas dos Fenícios e
belas mercadorias adquirir") e aprendizado ("A muitas cidades do
Egito peregrina / Para aprender, para aprender dos doutos"), valorizando
tanto a riqueza material quanto a intelectual.
04 – Qual a importância de
"ter todo o tempo Ítaca na mente" sem apressar a viagem?
Ter Ítaca na mente serve como um objetivo
constante, mas o poema insiste em não apressar a viagem para que se possa
acumular experiências e sabedoria ao longo dos anos. A lentidão permite que o
viajante chegue à ilha "rico de quanto ganhaste no caminho".
05 – O que Ítaca realmente
oferece ao viajante, segundo o poema?
Ítaca não oferece
riquezas materiais em si, mas sim a oportunidade de uma "bela
viagem". O valor de Ítaca está em ser o motivo ou o destino que impulsiona
a jornada, proporcionando o aprendizado e a experiência que transformam o
viajante em alguém sábio.
06 – Qual o significado da
frase "Ítaca não te iludiu, se achas pobre"?
Essa frase sugere
que a expectativa de riquezas materiais em Ítaca seria uma ilusão do próprio
viajante. Ítaca cumpre seu papel ao oferecer a jornada; se o destino final
parecer "pobre", a culpa não é da ilha, mas talvez da expectativa
equivocada do indivíduo sobre o que a vida ou o destino devem entregar.
07 – Que transformação o
viajante sofre ao final da jornada, e o que ele finalmente compreende sobre
"Ítacas"?
Ao final da
jornada, o viajante se torna "sábio, um homem de experiência". Ele
compreende que o verdadeiro valor de "Ítacas" (ou de qualquer
objetivo na vida) não reside na chegada ou em bens materiais, mas nas lições,
no crescimento e nas vivências.
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