sábado, 9 de agosto de 2025

NOTÍCIA: FESTAS RELIGIOSAS E POPULARES - SECRETARIA DE TURISMO DA BAHIA - COM GABARITO

 Notícia: Festas religiosas e populares

        A cultura da matriz africana desenvolveu-se na Bahia paralelamente à do europeu. Fruto do sincretismo religioso, as festas populares, da forma como as conhecemos hoje, resultam da mistura de elementos que se convencionou chamar de sagrados e profanos.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOd25oqzmzTILlol7lklZ1O4pUfOVeR44cuUFTK2R0eaTChQSgThARcFI6f3mDtMbgmiXkgItfxYEPlNdk6BV69xVirp6u0Ox8yzufMfYOxat61LnaN9mlaTca69JQ7NVg4daoKfsrqXP5vrM9C4ZY7rHbcvB7FEbtVJhwt-uGBsYVHbecO4gZsMe8KFY/s320/Lavagem-do-Bonfim-Valter-Pontes.jpg


        Como não tinha acesso aos estabelecimentos onde os brancos protagonizavam as festas religiosas, os africanos ocupavam, nesses dias, as ruas próximas aos locais onde seus senhores se concentravam.

        Assim, manifestações culturais de diversas origens africanas proliferaram, a exemplo da capoeira, do maculelê e do samba de roda. Ainda hoje, milhares de pessoas vão às ruas para celebrar os santos padroeiros, sejam eles católicos ou africanos.

        É no ciclo de festas populares que o baiano manifesta sua fé, desde as comemorações dos orixás do candomblé, quando os terreiros fazem soar seus tambores, para seus filhos de santo dançarem, até as festas da religião católica, que ganham um cunho profano com muito samba de roda e barracas onde se servem bebidas e comidas variadas.

        O ciclo de festas tem início no dia 4 de dezembro, com a Festa de Santa Bárbara, e tem seu ápice na Lavagem do Bonfim, na Festa de Iemanjá e no Carnaval. No interior do estado, a influência africana aparece nas festividades promovidas em vários municípios.

        Festa da Boa Morte

        A Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte nasceu nas senzalas, locais que abrigavam escravos negros nos engenhos de cana-de-açúcar, há cerca de 150 anos. É formada exclusivamente por mulheres negras que tinham o intuito de alforriar escravos ou dar-lhes fuga, encaminhando-os para o Quilombo do Malaquias, em Terra Vermelha, zona rural da cidade de Cachoeira.

        Com a abolição da escravidão, as irmãs aproximaram-se da Igreja Católica, fundando a entidade que funciona atualmente em um conjunto de quatro sobrados do século XVIII, restaurados pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural – Ipac.

        A força dessas mulheres é sempre motivo de alegria e homenagens. Na cidade de Cachoeira, Recôncavo Baiano, todos os anos, no mês de agosto, acontece a Festa da Boa Morte. São cinco dias de comemorações. No primeiro dia, as irmãs saem em cortejo da Casa da Boa Morte para a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, para recolher o esquife de Nossa Senhora.

        Em seguida, fazem uma breve procissão por apenas um quarteirão, com destino à capela da sede mais nova da irmandade, onde é celebrada uma missa em memória das irmãs falecidas. Logo depois, ocorre uma ceia na Casa da Boa Morte, com pão, vinho e frutos do mar. No restaurante dos dias acontecem missas, confissões, sentinelas, procissões nas ruas da cidade e apresentações de grupos de samba de roda e capoeira.

        Congada

        Mistura de herança africana com toques da cultura portuguesa, a Congada representa a coroação dos reis congos, que desfilam mascarados e trajados com fardas ornamentadas de ouro e diamantes, cercados do bailado dos guerreiros.

        Sua origem remonta ao ano de 1482, em um dos impérios negros mais importantes de todos os tempos: o Congo. Apesar de imponente, ruiu frente ao poderio das esquadras portuguesas em guerra pelo território, restando ao povo negro, aguerrido de força e fé, o título de Rei de Congo como homenagem em memória à dura batalha.

        No Brasil, está presente desde os tempos da colônia, quando os desfiles de congos eram a atenção principal nas festas organizadas pelas irmandades de escravos, por ocasião da coroação simbólica de reis e rainhas africanos ou afrodescendentes.

        Além de reminiscência de rituais africanos, a manifestação folclórica somou-se aos costumes das Congadas lusitanas, que ilustravam as comemorações de Nossa Senhora do Porto. A primeira apresentação oficial em terras baianas data de 6 de junho de 1760, no Paço do Conselho da cidade de Salvador, em festejo ao casamento da princesa real, D. Maria I, com D. Pedro III.

        A tradição segue com força e respaldo em Juazeiro, com adaptações que a afastam do formato tradicional, entoando cânticos em louvor à Virgem do Rosário durante suas comemorações, no último domingo do mês de outubro.

        Lindro Amor

        Lindro Amor é um peditório que se faz em benefício das festas de Nossa Senhora da Purificação ou São Cosme e Damião. O cortejo, formado por mulheres, homens e crianças, sai em visitação às casas, rogando saúde e prosperidade para os seus donos, professando a esperança de dias melhores e levando algo que simbolize a devoção.

        As mulheres vão sempre no meio, vestindo saias de roda estampadas e chapéu de palha enfeitados com tiras coloridas. Elas dançam e cantam, enquanto os homens seguem atrás, com calças brancas, batucando o pandeiro, tocando a viola ou a sanfona.

        Na frente, as crianças animam o saimento, carregando uma caixa vazia com a imagem dos santos e onde serão depositados as moedas para o preparo do caruru, a ser realizado nos sábados seguintes, até findar o mês de outubro.

        A tradição tem suas origens nos tempos da escravidão, quando os senhores de engenho permitiam que os escravos organizassem suas festas. Com o passar do tempo, o Lindro Amor – originário da expressão colonial portuguesa Lindo Amor – passou a ter conotações religiosas associadas às procissões e peditórios que antecedem aos carurus oferecidos aos santos e orixás. No caso de Nossa Senhora da Purificação, leva-se uma coroa em uma bandeja florida, junto à bandeira, enquanto os participantes entoam cânticos acompanhados de pandeiro e tambor.

        Conde, Candeias, Santo Amaro, São Francisco do Conde e São Sebastião do Passé são as principais localidades onde a manifestação acontece.

        Nego Fugido

        Folguedo variante do quilombo, é mantido há pelo menos um século pelos moradores de Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. A encenação recria anualmente a tentativa de fuga de um escravo, que é caçado e amarrado, para depois comprar sua alforria. Os personagens que representam os negros, quando não estão correndo ou lutando, ficam em espécie de dança lenta, ao ritmo da música, que, segundo pesquisadores, possui ligação com o candomblé.

        A representação conta como os negros que fugiam eram perseguidos nas matas. Para se esconder dos feitores, vestiam-se de folhas de bananeiras. É uma manifestação popular única que se mantém desde o século XIX, originária de escravos africanos de origem nagô. Trata-se, na verdade, da recriação das lutas de resistência negra contra o regime escravocrata, encenada até hoje pelos moradores de Acupe, distrito do município de Santo Amar, no Recôncavo Baiano.

        Zambiapunga

        Herança africana, o Zambiapunga é um cortejo de homens mascarados, trajados com roupas coloridas e feitas com panos e papéis de seda, que sai às ruas durante a madrugada, dançando e acordando a cidade o som ecoante de enxadas, tambores, cuícas e búzios gigantes, usados como instrumentos de percussão.

        Dedicada ao deus supremo do candomblé de Angola, era inicialmente uma cerimônia para afugentar os maus espíritos. Com a utilização de máscaras, a manifestação chegou ao Estado através dos negros bantus, escravizados na região do Congo-Angola e trazidos para cá para trabalhar no plantio dos canaviais do Recôncavo e de grandes extensões de dendezeiros no litoral do Baixo-Sul.

        Não à toa, a região concentra forte expressão do costume folclórico, em especial nas cidades de Nilo Peçanha, Valença, Taperoá e Cairu. Em Nilo Peçanha, onde a tradição é mais forte, a festa acontece, tradicionalmente, na madrugada de 1° de novembro, Dia de Todos os Santos e véspera de Finados.

        Bembé do Mercado

        A Festa do Bembé do Mercado é realizada no dia 13 de maio, no município de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, desde 1889, para comemorar a abolição da escravidão. Organizada por pescadores e vendedores de peixes do Mercado Municipal de Santo Amaro, a festa reúne grupos de samba de roda, afoxés, maculelê e de capoeira, além de representantes dos terreiros de candomblé da região, para homenagear os orixás das águas, dos rios, dos lagos e da chuva, Oxum e Iemanjá. Durante três dias, a praça em frente ao Mercado Municipal, onde são armados barracas e barracões, fica repleta de gente para assistir ao festival de arte e religiosidade ancestral.

        O termo bembé tem origem iorubá e significa bater tambor. A festa é identificada como uma das mais genuínas expressões populares de reconhecimento e afirmação da negritude no Brasil, principalmente por formar um grande culto a céu aberto, realizado desde quando era proibido por lei bater tambor para os orixás.

Secretaria de Turismo da Bahia. Superintendência de Serviços Turísticos. Turismo étnico-afro na Bahia. Salvador: Fundação Pedro Calmon, 2009. p. 71-74.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 146-149.

Entendendo a notícia: 

01 – O que é o sincretismo religioso e como ele se manifesta nas festas baianas?

      O sincretismo religioso é a fusão de elementos de diferentes religiões. Nas festas baianas, ele se manifesta na mistura de elementos sagrados (de santos católicos e orixás do candomblé) e profanos (samba de roda, barracas, bebidas e comidas). O texto explica que, no ciclo de festas, o baiano celebra tanto os orixás quanto os santos padroeiros.

02 – Qual a origem da presença de festas populares nas ruas da Bahia?

      A origem remonta aos tempos da escravidão. Como os africanos e seus descendentes não tinham acesso aos estabelecimentos onde os brancos faziam suas festas, eles ocupavam as ruas próximas, desenvolvendo manifestações culturais próprias, como a capoeira, o maculelê e o samba de roda.

03 – Qual o propósito original da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte?

      A Irmandade, formada por mulheres negras, nasceu nas senzalas com o objetivo principal de alforriar escravos ou ajudá-los a fugir, encaminhando-os para um quilombo. A aproximação com a Igreja Católica e a função religiosa vieram após a abolição da escravidão.

04 – O que a Congada representa e qual a sua origem histórica?

      A Congada representa a coroação simbólica dos reis congos e é uma mistura da herança africana com a cultura portuguesa. Sua origem remonta a 1482, no Império do Congo, e celebra a memória da resistência do povo negro contra as esquadras portuguesas. No Brasil, tornou-se a principal atração nas festas de irmandades de escravos durante o período colonial.

05 – O que é o "Lindro Amor" e qual a sua finalidade?

      O "Lindro Amor" é um peditório que ocorre em cortejo, formado por homens, mulheres e crianças. Sua finalidade é arrecadar doações (moedas) em benefício das festas de Nossa Senhora da Purificação ou São Cosme e Damião. As doações são usadas para o preparo de um caruru, que é oferecido aos santos e orixás.

06 – Como o folguedo "Nego Fugido" se mantém vivo até hoje?

      O "Nego Fugido" é uma encenação que recria a tentativa de fuga de um escravo, sua perseguição, captura, e posterior alforria. É uma manifestação popular única, originária de escravos de origem nagô, que recria as lutas de resistência negra contra a escravidão e é mantida há pelo menos um século pelos moradores de Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação.

07 – Qual a origem da manifestação Zambiapunga e o que ela simboliza?

      A Zambiapunga é uma herança africana, trazida pelos negros bantos da região do Congo-Angola. Era inicialmente uma cerimônia para afugentar maus espíritos. O cortejo de homens mascarados e coloridos, que sai de madrugada com instrumentos de percussão, simboliza essa tradição ancestral e é uma celebração ao deus supremo do candomblé de Angola.

08 – Quando e onde a tradição da Zambiapunga é mais forte?

      A tradição da Zambiapunga tem uma forte expressão folclórica em cidades do Baixo-Sul da Bahia, como Nilo Peçanha, Valença, Taperoá e Cairu. Em Nilo Peçanha, onde a tradição é mais forte, a festa acontece na madrugada de 1º de novembro, Dia de Todos os Santos.

09 – O que significa "Bembé" e qual o propósito da Festa do Bembé do Mercado?

      O termo "bembé" tem origem iorubá e significa "bater tambor". A Festa do Bembé do Mercado é realizada desde 1889, em Santo Amaro da Purificação, para comemorar a abolição da escravidão. É uma das mais genuínas expressões de afirmação da negritude no Brasil, pois reúne grupos de samba, afoxé e candomblé em um culto a céu aberto.

10 – A quem a Festa do Bembé do Mercado presta homenagem?

      A festa, que é organizada por pescadores e vendedores, homenageia os orixás das águas, dos rios, dos lagos e da chuva: Oxum e Iemanjá. Essa homenagem reflete a forte ligação da comunidade com a natureza e com suas divindades africanas.

 

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