Notícia: Festas religiosas e populares
A cultura da matriz africana
desenvolveu-se na Bahia paralelamente à do europeu. Fruto do sincretismo
religioso, as festas populares, da forma como as conhecemos hoje, resultam da
mistura de elementos que se convencionou chamar de sagrados e profanos.

Como não tinha acesso aos
estabelecimentos onde os brancos protagonizavam as festas religiosas, os
africanos ocupavam, nesses dias, as ruas próximas aos locais onde seus senhores
se concentravam.
Assim, manifestações culturais de
diversas origens africanas proliferaram, a exemplo da capoeira, do maculelê e
do samba de roda. Ainda hoje, milhares de pessoas vão às ruas para celebrar os
santos padroeiros, sejam eles católicos ou africanos.
É no ciclo de festas populares que o
baiano manifesta sua fé, desde as comemorações dos orixás do candomblé, quando
os terreiros fazem soar seus tambores, para seus filhos de santo dançarem, até
as festas da religião católica, que ganham um cunho profano com muito samba de
roda e barracas onde se servem bebidas e comidas variadas.
O ciclo de festas tem início no dia 4
de dezembro, com a Festa de Santa Bárbara, e tem seu ápice na Lavagem do
Bonfim, na Festa de Iemanjá e no Carnaval. No interior do estado, a influência
africana aparece nas festividades promovidas em vários municípios.
Festa
da Boa Morte
A Irmandade de Nossa Senhora da Boa
Morte nasceu nas senzalas, locais que abrigavam escravos negros nos engenhos de
cana-de-açúcar, há cerca de 150 anos. É formada exclusivamente por mulheres
negras que tinham o intuito de alforriar escravos ou dar-lhes fuga,
encaminhando-os para o Quilombo do Malaquias, em Terra Vermelha, zona rural da
cidade de Cachoeira.
Com a abolição da escravidão, as irmãs
aproximaram-se da Igreja Católica, fundando a entidade que funciona atualmente
em um conjunto de quatro sobrados do século XVIII, restaurados pelo Instituto
do Patrimônio Artístico e Cultural – Ipac.
A força dessas mulheres é sempre motivo
de alegria e homenagens. Na cidade de Cachoeira, Recôncavo Baiano, todos os
anos, no mês de agosto, acontece a Festa da Boa Morte. São cinco dias de
comemorações. No primeiro dia, as irmãs saem em cortejo da Casa da Boa Morte
para a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, para recolher o esquife de Nossa
Senhora.
Em seguida, fazem uma breve procissão
por apenas um quarteirão, com destino à capela da sede mais nova da irmandade,
onde é celebrada uma missa em memória das irmãs falecidas. Logo depois, ocorre
uma ceia na Casa da Boa Morte, com pão, vinho e frutos do mar. No restaurante
dos dias acontecem missas, confissões, sentinelas, procissões nas ruas da
cidade e apresentações de grupos de samba de roda e capoeira.
Congada
Mistura de herança africana com toques
da cultura portuguesa, a Congada representa a coroação dos reis congos, que
desfilam mascarados e trajados com fardas ornamentadas de ouro e diamantes,
cercados do bailado dos guerreiros.
Sua origem remonta ao ano de 1482, em
um dos impérios negros mais importantes de todos os tempos: o Congo. Apesar de
imponente, ruiu frente ao poderio das esquadras portuguesas em guerra pelo
território, restando ao povo negro, aguerrido de força e fé, o título de Rei de
Congo como homenagem em memória à dura batalha.
No Brasil, está presente desde os
tempos da colônia, quando os desfiles de congos eram a atenção principal nas
festas organizadas pelas irmandades de escravos, por ocasião da coroação
simbólica de reis e rainhas africanos ou afrodescendentes.
Além de reminiscência de rituais
africanos, a manifestação folclórica somou-se aos costumes das Congadas
lusitanas, que ilustravam as comemorações de Nossa Senhora do Porto. A primeira
apresentação oficial em terras baianas data de 6 de junho de 1760, no Paço do
Conselho da cidade de Salvador, em festejo ao casamento da princesa real, D.
Maria I, com D. Pedro III.
A tradição segue com força e respaldo
em Juazeiro, com adaptações que a afastam do formato tradicional, entoando
cânticos em louvor à Virgem do Rosário durante suas comemorações, no último
domingo do mês de outubro.
Lindro
Amor
Lindro Amor é um peditório que se faz
em benefício das festas de Nossa Senhora da Purificação ou São Cosme e Damião.
O cortejo, formado por mulheres, homens e crianças, sai em visitação às casas,
rogando saúde e prosperidade para os seus donos, professando a esperança de
dias melhores e levando algo que simbolize a devoção.
As mulheres vão sempre no meio,
vestindo saias de roda estampadas e chapéu de palha enfeitados com tiras
coloridas. Elas dançam e cantam, enquanto os homens seguem atrás, com calças
brancas, batucando o pandeiro, tocando a viola ou a sanfona.
Na frente, as crianças animam o
saimento, carregando uma caixa vazia com a imagem dos santos e onde serão
depositados as moedas para o preparo do caruru, a ser realizado nos sábados
seguintes, até findar o mês de outubro.
A tradição tem suas origens nos tempos
da escravidão, quando os senhores de engenho permitiam que os escravos
organizassem suas festas. Com o passar do tempo, o Lindro Amor – originário da
expressão colonial portuguesa Lindo Amor – passou a ter conotações religiosas
associadas às procissões e peditórios que antecedem aos carurus oferecidos aos
santos e orixás. No caso de Nossa Senhora da Purificação, leva-se uma coroa em
uma bandeja florida, junto à bandeira, enquanto os participantes entoam cânticos
acompanhados de pandeiro e tambor.
Conde, Candeias, Santo Amaro, São
Francisco do Conde e São Sebastião do Passé são as principais localidades onde
a manifestação acontece.
Nego
Fugido
Folguedo variante do quilombo, é
mantido há pelo menos um século pelos moradores de Acupe, distrito de Santo
Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. A encenação recria anualmente a
tentativa de fuga de um escravo, que é caçado e amarrado, para depois comprar
sua alforria. Os personagens que representam os negros, quando não estão
correndo ou lutando, ficam em espécie de dança lenta, ao ritmo da música, que,
segundo pesquisadores, possui ligação com o candomblé.
A representação conta como os negros
que fugiam eram perseguidos nas matas. Para se esconder dos feitores,
vestiam-se de folhas de bananeiras. É uma manifestação popular única que se
mantém desde o século XIX, originária de escravos africanos de origem nagô.
Trata-se, na verdade, da recriação das lutas de resistência negra contra o regime
escravocrata, encenada até hoje pelos moradores de Acupe, distrito do município
de Santo Amar, no Recôncavo Baiano.
Zambiapunga
Herança africana, o Zambiapunga é um
cortejo de homens mascarados, trajados com roupas coloridas e feitas com panos
e papéis de seda, que sai às ruas durante a madrugada, dançando e acordando a
cidade o som ecoante de enxadas, tambores, cuícas e búzios gigantes, usados
como instrumentos de percussão.
Dedicada ao deus supremo do candomblé
de Angola, era inicialmente uma cerimônia para afugentar os maus espíritos. Com
a utilização de máscaras, a manifestação chegou ao Estado através dos negros
bantus, escravizados na região do Congo-Angola e trazidos para cá para
trabalhar no plantio dos canaviais do Recôncavo e de grandes extensões de
dendezeiros no litoral do Baixo-Sul.
Não à toa, a região concentra forte
expressão do costume folclórico, em especial nas cidades de Nilo Peçanha,
Valença, Taperoá e Cairu. Em Nilo Peçanha, onde a tradição é mais forte, a festa
acontece, tradicionalmente, na madrugada de 1° de novembro, Dia de Todos os
Santos e véspera de Finados.
Bembé do Mercado
A Festa do Bembé do Mercado é realizada
no dia 13 de maio, no município de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo
Baiano, desde 1889, para comemorar a abolição da escravidão. Organizada por
pescadores e vendedores de peixes do Mercado Municipal de Santo Amaro, a festa
reúne grupos de samba de roda, afoxés, maculelê e de capoeira, além de
representantes dos terreiros de candomblé da região, para homenagear os orixás
das águas, dos rios, dos lagos e da chuva, Oxum e Iemanjá. Durante três dias, a
praça em frente ao Mercado Municipal, onde são armados barracas e barracões,
fica repleta de gente para assistir ao festival de arte e religiosidade
ancestral.
O termo bembé tem origem iorubá e
significa bater tambor. A festa é identificada como uma das mais genuínas
expressões populares de reconhecimento e afirmação da negritude no Brasil,
principalmente por formar um grande culto a céu aberto, realizado desde quando
era proibido por lei bater tambor para os orixás.
Secretaria de Turismo
da Bahia. Superintendência de Serviços Turísticos. Turismo étnico-afro na
Bahia. Salvador: Fundação Pedro Calmon, 2009. p. 71-74.
Fonte: Universos –
Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 9º ano – Camila Sequetto
Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª
edição, 2015. p. 146-149.
Entendendo a notícia:
01 – O que é o sincretismo
religioso e como ele se manifesta nas festas baianas?
O sincretismo
religioso é a fusão de elementos de diferentes religiões. Nas festas baianas,
ele se manifesta na mistura de elementos sagrados (de santos católicos e orixás
do candomblé) e profanos (samba de roda, barracas, bebidas e comidas). O texto
explica que, no ciclo de festas, o baiano celebra tanto os orixás quanto os
santos padroeiros.
02 – Qual a origem da presença
de festas populares nas ruas da Bahia?
A origem remonta aos tempos da
escravidão. Como os africanos e seus descendentes não tinham acesso aos
estabelecimentos onde os brancos faziam suas festas, eles ocupavam as ruas
próximas, desenvolvendo manifestações culturais próprias, como a capoeira, o maculelê
e o samba de roda.
03 – Qual o propósito original
da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte?
A Irmandade,
formada por mulheres negras, nasceu nas senzalas com o objetivo principal de
alforriar escravos ou ajudá-los a fugir, encaminhando-os para um quilombo. A
aproximação com a Igreja Católica e a função religiosa vieram após a abolição
da escravidão.
04 – O que a Congada
representa e qual a sua origem histórica?
A Congada
representa a coroação simbólica dos reis congos e é uma mistura da herança
africana com a cultura portuguesa. Sua origem remonta a 1482, no Império do
Congo, e celebra a memória da resistência do povo negro contra as esquadras
portuguesas. No Brasil, tornou-se a principal atração nas festas de irmandades
de escravos durante o período colonial.
05 – O que é o "Lindro
Amor" e qual a sua finalidade?
O "Lindro
Amor" é um peditório que ocorre em cortejo, formado por homens, mulheres e
crianças. Sua finalidade é arrecadar doações (moedas) em benefício das festas
de Nossa Senhora da Purificação ou São Cosme e Damião. As doações são usadas
para o preparo de um caruru, que é oferecido aos santos e orixás.
06 – Como o folguedo
"Nego Fugido" se mantém vivo até hoje?
O "Nego
Fugido" é uma encenação que recria a tentativa de fuga de um escravo, sua
perseguição, captura, e posterior alforria. É uma manifestação popular única,
originária de escravos de origem nagô, que recria as lutas de resistência negra
contra a escravidão e é mantida há pelo menos um século pelos moradores de
Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação.
07 – Qual a origem da
manifestação Zambiapunga e o que ela simboliza?
A Zambiapunga é
uma herança africana, trazida pelos negros bantos da região do Congo-Angola.
Era inicialmente uma cerimônia para afugentar maus espíritos. O cortejo de
homens mascarados e coloridos, que sai de madrugada com instrumentos de
percussão, simboliza essa tradição ancestral e é uma celebração ao deus supremo
do candomblé de Angola.
08 – Quando e onde a tradição
da Zambiapunga é mais forte?
A tradição da
Zambiapunga tem uma forte expressão folclórica em cidades do Baixo-Sul da
Bahia, como Nilo Peçanha, Valença, Taperoá e Cairu. Em Nilo Peçanha, onde a
tradição é mais forte, a festa acontece na madrugada de 1º de novembro, Dia de
Todos os Santos.
09 – O que significa
"Bembé" e qual o propósito da Festa do Bembé do Mercado?
O termo
"bembé" tem origem iorubá e significa "bater tambor". A
Festa do Bembé do Mercado é realizada desde 1889, em Santo Amaro da
Purificação, para comemorar a abolição da escravidão. É uma das mais genuínas
expressões de afirmação da negritude no Brasil, pois reúne grupos de samba,
afoxé e candomblé em um culto a céu aberto.
10 – A quem a Festa do Bembé
do Mercado presta homenagem?
A festa, que é
organizada por pescadores e vendedores, homenageia os orixás das águas, dos
rios, dos lagos e da chuva: Oxum e Iemanjá. Essa homenagem reflete a forte
ligação da comunidade com a natureza e com suas divindades africanas.
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