domingo, 10 de agosto de 2025

NOTÍCIA: GRUPO GALPÃO REESTREIA ROMEU E JULIETA EM LONDRES - BBC BRASIL - COM GABARITO

 Notícia: Grupo Galpão reestreia Romeu e Julieta em Londres

Da BBC Brasil

        Não faltam peças de William Shakespeare nos teatros das grandes cidades brasileiras. Só em São Paulo, por exemplo, há três versões de Romeu e Julieta no momento – provavelmente, ao lado de Hamlet, a peça mais conhecida do bardo quinhentista – à disposição.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwvIkJv_WWEGJpOhnBRpH5VKGWycW1EIkBZ9h13V5DCIc9nACaazLAs1OAXDMeffuRQyC3XyIeFkP3nxzKriR5v0PwMkoZ2acO16RwT6MIERL0tSRhyphenhyphen3-i7d0tXWu2QK5xN7W6YrChKR9yNNoSg1q2wt7par3hR2D9ShKIlg2rL8qvbofpVMe3NwFWKik/s320/Romeo_and_juliet_brown.jpg


        Mas quase todos os críticos apontam uma montagem como a mais marcante no teatro contemporâneo brasileiro: o Romeu e Julieta do Grupo Galpão, que estreou no início dos anos 90, com direção de Gabriel Vilela.

        Para comemorar os 30 anos do grupo sediado em Belo Horizonte, o Galpão está remontando esta peça, que vai reestrear em Londres, no Globe Theatre, num festival que vai trazer grupos de teatro de 37 países para encenar todas as peças de William Shakespeare, cada um em sua língua.

        "Essa montagem do Grupo Galpão é uma preciosidade. Fico muito feliz que eles estejam remontando essa peça para que quem viu possa relembrar e quem não viu tenha mais esta oportunidade", disse à BBC Brasil a tradutora e crítica Bárbara Heliodóra, considerada uma das maiores autoridades em Shakespeare do Brasil.

        Depois de estrear em Londres em maio a peça deve ainda ser apresentada em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, mas não há detalhes sobre as datas nem expectativa de apresentação em outras partes do país.

        Cultura popular

        A montagem do Galpão é baseada numa tradução clássica de Shakespeare para o português, mas buscou elementos na cultura barroca mineira – evidentes mais do que tudo nos figurinos e na música – para trazer uma história universal de amor a um contexto da cultura popular brasileira.

        Aliás, o Galpão é originalmente um grupo de teatro de rua e é para esse espaço que a peça foi inicialmente concebida. O grupo já se apresentou ao ar livre para plateias de mais de 4 mil pessoas.

        "Quando Shakespeare escreveu suas peças elas eram encenadas ao ar livre. Levar Romeu e Julieta para a rua é o melhor jeito de recriar o clima do teatro do período elisabetano (do reinado de rainha Elizabete I, entre 1558 e 1603)", disse o diretor Gabriel Vilela, que aceitou o convite para dirigir a remontagem da peça.

        Os próprios ensaios da montagem original da peça do Grupo Galpão foram feitos em praça pública, numa pequena cidade do interior de Minas Gerais. "Fazíamos nossos ensaios na praça da cidade, e as pessoas que voltavam do trabalho no campo, no fim da tarde, paravam para nos ver. E as reações do público também nos ajudavam a encontrar o tom da peça", explica o ator Eduardo Moreira, o intérprete de Romeu e um dos fundadores do Grupo Galpão.

        Moreira conta que à medida que os dias passavam, a população local se envolvia na tragédia dos jovens amantes. "Algumas vezes, quando o Gabriel parava o ensaio para dar alguma instrução aos atores ou pedia para repetir a cena, as pessoas reclamavam. Começavam a gritar pra gente continuar a história", conta Moreira.

        O diretor Gabriel Vilela diz que as paixões despertadas pela tragédia chegaram a causar uma pequena confusão quando o grupo se apresentava nas ruas de Ouro Preto, cidade em que a peça estreou no início dos anos 90. "Uma mulher na plateia começou a gritar que estava apaixonada pelo Romeu e invadiu a cena", relembra.

        Pernas de pau

        Um dos aspectos mais marcantes da peça é a interpretação em cima de pernas de pau. "O Galpão sempre teve muita experiência com isso por conta de sua característica de ser um grupo de teatro de rua onde pernas de pau são muito úteis para que o público, possa ver os atores", diz Eduardo Moreira.

        Mas, além dessa razão, há também uma intenção simbólica por trás do uso do adereço. Moreira explica que Romeu e Julieta é uma tragédia de "precipitação", em que os personagens agem muito mais do que pensam. "A perna de pau da muito bem essa ideia de uma certa falta de equilíbrio. Você está lá em cima, mas pode cair a qualquer momento."

        Outra marca registrada do espetáculo é a perua Veraneio 1974 que faz as vezes de balcão onde Romeu e Julieta trocavam suas juras de amor. "Mas fizemos uma inversão: Romeu fica em cima (numa plataforma de madeira montada sobre o carro) e Julieta fica embaixo, sentada ao volante da Veraneio".

        O carro tem história: nos anos 1980, carregava os jovens atores do grupo Galpão apresentando peças nas ruas Brasil afora. "Quando convidamos Gabriel Vilela para dirigir uma peça nossa a primeira coisa que ele decidiu é que o cenário seria nossa Veraneio. Antes mesmo de saber que peça íamos fazer, já sabíamos que seria encenada no carro."

        Em geral, o carro chega a ser ligado e Romeu engata uma ré em cena. Mas no Globe Theatre – o teatro com palco ao ar livre, construído nos moldes daquele em que Shakespeare apresentava suas peças – o carro vai ter que ser empurrado porque pelas regras de casa motores não podem ser ligados ali dentro.

        "O momento mais olímpico da trajetória dessa peça foi nossa apresentação no Globe no ano 2000. Aquilo é praticamente um templo porque Shakespeare é uma religião, no melhor sentido da palavra", diz Gabriel Vilela. "Voltar agora é uma honra e uma grande emoção."

        O Galpão é o único dos 37 grupos convidados para o festival Globe to Globe a já ter se apresentado neste cultuado teatro prestes a se tornar uma torre de Babel, com cada país trazendo as palavras do mais reconhecido dramaturgo do mundo em sua língua transmitindo as mensagens, símbolos e tipos universais de William Shakespeare.

Disponível em: http://www.folha.uol.com.br/bbc/1079356-grupo-galpao-reestreia-romeu-e-julieta-em-londres.shtml. Acesso em: fev. 2013.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 89-91.

Entendendo a notícia:

01 – Por que a montagem de "Romeu e Julieta" do Grupo Galpão é considerada tão marcante no teatro contemporâneo brasileiro, e o que motivou sua remontagem?

      A montagem do Grupo Galpão é considerada a mais marcante no teatro contemporâneo brasileiro por críticos como Bárbara Heliodóra, uma das maiores autoridades em Shakespeare no Brasil. A remontagem da peça celebra os 30 anos do Grupo Galpão, sediado em Belo Horizonte, e marca sua reestreia em Londres, no Globe Theatre, como parte de um festival internacional que reúne grupos de 37 países para encenar todas as peças de Shakespeare em suas respectivas línguas.

02 – Como a montagem do Grupo Galpão incorpora elementos da cultura brasileira em uma peça clássica de Shakespeare?

      A montagem do Galpão, embora baseada em uma tradução clássica de Shakespeare para o português, buscou elementos na cultura barroca mineira para contextualizar a história universal de amor. Isso é evidente principalmente nos figurinos e na música, que trazem a peça para o universo da cultura popular brasileira, criando uma fusão entre o clássico e o regional.

03 – Qual a importância do fato de o Grupo Galpão ser originalmente um grupo de teatro de rua para a concepção de "Romeu e Julieta", e como isso se conecta com a época de Shakespeare?

      O Grupo Galpão é originalmente um grupo de teatro de rua, e a peça "Romeu e Julieta" foi inicialmente concebida para esse espaço. O diretor Gabriel Vilela explica que levar a peça para a rua é a melhor forma de recriar o clima do teatro do período elisabetano, quando as peças de Shakespeare eram encenadas ao ar livre. Essa característica do grupo permite uma autenticidade na experiência teatral, remetendo às origens do bardo e aproximando o público da performance.

04 – Descreva como os ensaios originais da peça em Minas Gerais influenciaram o tom da montagem e a interação com o público.

      Os ensaios da montagem original foram realizados em praça pública em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. O ator Eduardo Moreira, intérprete de Romeu, conta que as pessoas que voltavam do trabalho no campo paravam para assistir aos ensaios, e suas reações ajudaram a encontrar o tom da peça. O envolvimento da população era tão grande que, às vezes, eles reclamavam quando os ensaios eram interrompidos, chegando a gritar para que a história continuasse. Essa interação direta com o público nas ruas moldou a dinâmica e a expressividade da peça.

05 – Qual o significado do uso de pernas de pau pelos atores na peça, tanto do ponto de vista prático quanto simbólico?

      O uso de pernas de pau pelos atores é um dos aspectos mais marcantes da peça. Do ponto de vista prático, elas são "muito úteis para que o público possa ver os atores", especialmente porque o Grupo Galpão é um grupo de teatro de rua. Simbolicamente, as pernas de pau representam a ideia de "precipitação" na tragédia de Romeu e Julieta. Eduardo Moreira explica que elas dão a noção de uma "certa falta de equilíbrio", ilustrando como os personagens agem impulsivamente, podendo "cair a qualquer momento", o que reflete a natureza impetuosa de suas decisões.

06 – Qual elemento cênico inusitado é uma marca registrada do espetáculo, e qual a história por trás dele?

      Uma marca registrada do espetáculo é uma perua Veraneio 1974, que funciona como o balcão onde Romeu e Julieta trocam juras de amor, porém com uma inversão: Romeu fica em uma plataforma sobre o carro e Julieta sentada ao volante. O carro tem uma história simbólica, pois nos anos 1980, ele transportava os jovens atores do Grupo Galpão em suas apresentações pelas ruas do Brasil. O diretor Gabriel Vilela decidiu que o carro seria o cenário principal da peça antes mesmo de escolher qual obra seria encenada.

07 – Por que a apresentação no Globe Theatre em Londres é considerada um momento "olímpico" para o Grupo Galpão, e qual o significado do festival "Globe to Globe"?

      A apresentação no Globe Theatre é considerada um momento "olímpico" para o Grupo Galpão porque o local é visto como um "templo" para a obra de Shakespeare, que é quase uma "religião" no bom sentido. Voltar a este palco icônico, onde Shakespeare originalmente apresentava suas peças, é uma "honra e uma grande emoção" para o grupo. O festival "Globe to Globe" é significativo por ser uma "torre de Babel" artística, reunindo grupos de 37 países para encenar todas as peças de Shakespeare em suas respectivas línguas, transmitindo as mensagens universais do dramaturgo em diferentes contextos culturais. O Grupo Galpão é o único dos 37 grupos convidados que já havia se apresentado nesse teatro anteriormente (no ano 2000).

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário