domingo, 10 de agosto de 2025

CONTO: O PESCADOR E O GÊNIO - CONTO ÁRABE - COM GABARITO

 Conto: O pescador e o gênio – Conto árabe

        Há muito, muito tempo um velho pescador morava com a esposa perto do mar. Todo dia ele lançava sua rede quatro vezes, nem mais nem menos – ganhando a vida com o que tirava do mar. Um dia a má sorte o perseguiu. Na primeira vez em que jogou a rede, pescou um asno morto; na segunda, uma urna cheia de areia e, na terceira, apenas cacos de cerâmica. Desesperado, rezou a Alá, pedindo melhor sorte na sua última tentativa. E realmente, quando puxou a rede, viu nela emaranhada uma pequena ânfora de cobre.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhF7LAJceDh9v03yhRqsg3D6OKaDN85o_2ERtVmBQQgJrNkuobWNDaNLuHN0TY8pSdr-HhAXE9CO2rMUpjZ0AMabKNyG5JZ-n_ke_L3Lp3wg6NOq8JKV3LAiA4skZPhJoWoS2Up7BIPT3_QzTN0yKangYAL8BaZShmoElvmA2TttXMxkXcbO_us-lOqs4/s320/sddefault.jpg


        O objeto estava selado e em sua tampa estavam gravados textos sagrados. Por mera curiosidade, o velho abriu a ânfora. Nada encontrou dentro dela mas, no instante seguinte, começou a vazar fumaça e um gênio horrível se materializou. O monstro curvou-se ante o pescador e disse: – Poderoso Salomão, eu vos saúdo e agradeço por me terdes libertado de minha prisão!

        O pescador tremia aterrorizado. – Eu não sou Salomão – disse –, o grande rei está morto há milhares de anos!

        O gênio parou e depois riu. – Neste caso, prepare-se para morrer, homenzinho!

        O pescador estava apavorado. – Mas eu o libertei da ânfora! – ele gritou. – Que gratidão é essa?

        – Salomão me prendeu nesta ânfora porque me rebelei contra ele – o gênio explicou – e então, durante os primeiros cem anos, fiz o voto de tornar a quem me libertasse mais rico do que se possa sonhar. Mas não apareceu ninguém. Nos cem anos seguintes, prometi conceder três pedidos ao meu libertador. Mas, de novo, não apareceu ninguém. Então fiquei zangado e fiz um juramento solene: que mataria, no ato, o homem que me libertasse. Portanto, mortal, prepare-se para morrer!

        O pescador implorou em vão pela própria vida. Então pensou depressa e disse finalmente: – Muito bem, você pode me matar, monstro ingrato! Mas, invocando o Mais Terrível Nome de Alá, pelo menos me diga a verdade. – O gênio tremeu ao ouvir o nome de Alá. – Como pôde um gênio grande como você caber numa ânfora tão pequena? – O pescador perguntou. – Você deve ter vindo de um outro lugar.

        O gênio se sentiu insultado. – Homem tolo – vociferou –, você não acredita em mim? Vou lhe mostrar o poder da minha magia e depois matá-lo! – Dizendo isso, o gênio transformou-se numa nuvem de fumaça e entrou de novo na ânfora. Imediatamente, o velho pescador fechou a tampa. Uma voz metálica partiu do objeto. – Deixe-me sair! – o gênio gritava.

        – Jamais! Respondeu o pescador.

        Então o gênio falou com mais delicadeza. – Eu o recompensarei generosamente, se você me soltar! – ele prometeu.

        – Você é um assassino – retrucou o pescador – e eu vou jogar sua ânfora no mar, construir minha casa neste lugar como um aviso às pessoas para que nunca mais pesquem aqui.

        – Não, não! – implorou o gênio. – Eu só o estava testando! Agora que sei que você é um homem temente a Alá, vou recompensá-lo!

        – Você me toma por algum tolo? – o pescador disse rindo. Acendeu o cachimbo, sentou-se na areia e então sorriu. – Isto me lembra a história do “Rei ingrato” – o velho ponderou.

        – Eu não conheço essa história – disse o gênio. – Por favor, conte-a para mim! Porém não posso ouvir bem, dentro desta ânfora, por isso você precisa, primeiro, abrir a tampa.

        – Eu não vou libertá-lo – disse o pescador rindo –, mas vou contar-lhe a história. – E assim ele contou a história de um rei que fora vitimado por uma horrível doença, pior que a lepra. Nenhum de seus médicos e magos o puderam curar até que, um dia, passou por lá um médico que diagnosticou o mal… Esse médico o tratou e o rei, em sinal de gratidão, distinguiu-o com honrarias que jamais concedera a nenhum homem em seus domínios. Isso suscitou a inveja do vizir, que segredou aos ouvidos do rei sobre a facilidade com que o médico poderia envenená-lo. O tolo rei atentou à mentira do vizir e atirou o médico à prisão. Todos os rogos do bom homem foram vãos e o rei condenou-o à morte. Antes de morrer, ele fez menção a um livro que possuía e que continha toda a sabedoria do mundo. Então, o rei apossou-se do livro do defunto e folheou-o simplesmente para descobrir que o volume não trazia uma palavra escrita. Pelo contrário, suas páginas estavam envenenadas e logo depois o rei morreu, em agonia. – Da mesma forma, Alá se vingaria de você, se você me tivesse matado! – o pescador concluiu.

        – Mas nosso caso não tem nada que ver com essa história – protestou o gênio. – É mais parecida com a história do “Príncipe e o Ogre”.

        – Ah! – murmurou o pescador. – Essa eu não conheço. Conte-a para mim.

        – Não consigo lembrar-me dela dentro desta ânfora – disse o gênio. – Solte-me e tenho certeza de que a relembrarei melhor.

        – Outros milhares de anos no fundo do mar refrescarão talvez a sua memória? – perguntou o pescador.

        – Não, não – respondeu o gênio. – Agora me lembro dela.

        – E então ele contou a história, que era, por sinal, maravilhosa. Quando o gênio terminou, o pescador sorriu.

        – Essa foi uma bela história – disse –, mas não tão boa quanto esta aqui… – E assim os dois passaram a tarde trocando histórias, até que o pescador notou a hora avançada. – Preciso deixá-lo em breve, meu amigo – ele disse ao gênio.

        – Por favor, me liberte! – o gênio insistiu. – Prometo que não lhe farei nenhum mal e que o ajudarei. Diante do Mais Terrível Nome, eu juro! – A ânfora sacudiu-se toda quando o gênio tremeu lá dentro.

        O pescador fez uma pausa e depois disse: – Muito bem, eu vou libertá-lo.

        O velho tirou a tampa e o gênio reapareceu. No mesmo instante, com um pontapé, jogou a ânfora ao mar. – Lembre-se do seu juramento! – balbuciou o pescador, cujos joelhos começaram a tremer.

        O gênio franziu o sobrolho e depois ordenou mal-humorado: – Siga-me.

        O gênio conduziu o velho ao mais profundo seio da floresta e pararam junto a um lindo lago rodeado por quatro montanhas. Nas águas nadavam peixes de quatro cores – vermelhos, amarelos, azuis e brancos. – Lance a sua rede aqui – o gênio disse ao velho –, mas somente uma vez por dia. Depois leve ao sultão o que pescar. – Com isso, o gênio bateu o pé no chão, a terra se abriu e ele desapareceu.

        O pescador lançou a rede no lago e pescou imediatamente quatro peixes, um de cada cor. Eram a coisa mais bonita que já vira, de forma que ele correu ao palácio do sultão e os deu de presente ao monarca. O sultão ficou encantado com a beleza dos peixes e recompensou o velho regiamente. Depois entregou-os a um cozinheiro para que os fritasse. Quando este os colocou sobre o fogão, a parede da cozinha rompeu-se com violência e dos escombros saiu uma mulher. – Vocês foram fiéis a seus compromissos? – perguntou aos peixes, e todas as criaturas responderam sim, e a mulher e os peixes desapareceram.

        O cozinheiro relatou o fato ao sultão, mas ele não acreditou. De forma que pediu ao pescador que trouxesse no dia seguinte mais quatro peixes, o que o velho fez. Porém, aconteceu o mesmo: no momento em que o cozinheiro estava prestes a fritar os peixes, a mulher saiu de dentro da parede, dirigiu-se às criaturas e depois desapareceu juntamente com elas. O sultão decidiu constatar o estranho fato por si mesmo, de forma que pediu ao pescador que trouxesse mais quatro peixes, e o velho novamente atendeu. Dessa vez o sultão ficou observando, enquanto o cozinheiro se aprestava para fritá-los. A parede se escancarou e um negro surgiu, perguntando aos peixes: – Vocês foram fiéis aos seus compromissos? – Todos responderam: – Sim – e depois desapareceram juntamente com o estranho.

        – Aqui tem magia! – o sultão falou. Então chamou o pescador ao palácio e perguntou: – Onde você pesca seus peixes? – O velho guiou o sultão até o lago rodeado pelas quatro montanhas. – Acho – pensou o sultão – que vou explorar esta área pessoalmente.

        Nessa noite o sultão enveredou pessoalmente pelas encostas das montanhas até que, afinal, chegou a um castelo. Aventurou-se por aquele lugar sombrio onde não havia viva alma. Então ouviu alguém gemer e, seguindo o som, chegou a um jovem cuja cintura e pernas estavam petrificadas e que se contorcia de dor!

        – Alá tenha piedade! – o sultão exclamou. – O que aconteceu com você? – O jovem espantou-se ao ver um rosto humano no castelo encantado, mas logo lhe contou a história de sua desdita. Ele era o príncipe da Ilhas Ocidentais, explicou, e havia desposado uma mulher maravilhosa. Porém, sua esposa era, na verdade, uma terrível feiticeira, e, pior ainda, amava um outro homem. – Quando soube desse caso maldito – o príncipe continuou – saquei a espada e golpeei o vilão. – Em vingança, a bruxa transformara metade de seu corpo em pedra e enfeitiçara todo o seu reino. Suas ilhas se converteram em montanhas, o mar, num deserto e seu povo querido, nos peixes do lago – rubis, amarelos, azuis e brancos, devido aos quatro compromissos assumidos pelo reino.

        O infeliz príncipe contou que toda noite a feiticeira aparecia e o açoitava; que em algum lugar do palácio jazia seu amante, nem morto nem curado de seu ferimento. – Você precisa partir depressa, antes que a bruxa o encontre aqui! – o príncipe concluiu.

        – Não – respondeu o Sultão –, se puder vou ajudá-lo.

        Estudou a situação e arquitetou um plano. Vasculhou todo o castelo até que descobriu o amante da bruxa, semi-adormecido, em um quarto escuro. O vilão tomou o sultão pela feiticeira e sussurrou por alguns minutos. O sultão ouviu atentamente e depois matou o desgraçado, afastou o infame cadáver e deitou-se na cama, puxando o cortinado. Logo depois a bruxa chegou.

        O sultão imitou a voz de seu amante: – Querida do meu coração – ele disse –, agora, enquanto dormia, soube em sonhos por que não saro de meu sofrimento. É porque todas as noites você atormenta o moço e não ficarei bom até que você o liberte!

        A malvada regozijou-se e correu a libertar o jovem do feitiço. Voltou depois para junto do amado. O sultão sussurrou em voz mais audível: – Sinto que as forças estão me voltando, mas ainda não estou curado. O povo que você transformou em peixe, todas as noites clama a Alá e até que você não o liberte desse sofrimento, Alá não terá compaixão de mim.

        A feiticeira correu para o lago. Pronunciou umas palavras mágicas e, no mesmo instante, as montanhas se transformaram em ilhas, o deserto, em mar, o lago em cidade e, em lugar dos peixes, surgiram todos os súditos. A bruxa correu ao encontro de seu amado e o sultão a matou.

        No momento seguinte, o castelo sombrio converteu-se em um palácio cheio de fontes e de flores. O príncipe e toda a sua corte apressaram-se em agradecer ao sultão por libertá-los e entoaram louvores à sua inteligência e bravura. O sultão, porém, era um homem honesto e justo, de forma que mandou chamar o velho pescador. – Este é o homem a quem devemos homenagear – declarou. O sultão não era casado e quando conheceu a filha mais velha do pescador, apaixonou-se e casou-se com ela, fazendo-a sua rainha. Depois, o príncipe conheceu a filha mais moça do pescador, apaixonou-se e casou-se com ela. Finalmente, o sultão concedeu ao pescador uma túnica de honra e uma riqueza fabulosa.

        – Você nunca mais precisará pescar – declarou o sultão. E assim o velho e sua esposa passaram o resto de seus dias cercados de conforto e honrarias. O velho, porém, ia frequentemente pescar – para matar as saudades.

Resumo do conto “O pescador e o gênio”, extraído de R. Burton, Tales from the Arabian Nigths. Nova York, Avenel, 1978.

Entendendo o conto:

01 – Qual era a rotina diária do velho pescador e o que aconteceu em um dia de má sorte?

      O velho pescador lançava sua rede quatro vezes ao dia, nem mais nem menos, para ganhar a vida. Em um dia de má sorte, ele pescou um asno morto, uma urna cheia de areia e apenas cacos de cerâmica nas três primeiras tentativas.

02 – O que o pescador encontrou na sua última tentativa e qual foi a sua reação inicial ao abri-lo?

      Na última tentativa, o pescador encontrou uma pequena ânfora de cobre selada com textos sagrados. Ao abri-la por curiosidade, uma nuvem de fumaça vazou e um gênio horrível se materializou, deixando o pescador aterrorizado.

03 – Qual foi a promessa original do gênio para seu libertador nos primeiros cem anos e o que mudou depois?

      Nos primeiros cem anos de prisão, o gênio prometeu tornar quem o libertasse mais rico do que se possa sonhar. Como ninguém apareceu, nos cem anos seguintes ele prometeu conceder três pedidos. Por fim, zangado pela espera, ele jurou matar quem o libertasse.

04 – Como o pescador conseguiu enganar o gênio para que ele retornasse à ânfora?

      O pescador usou de astúcia, questionando a capacidade do gênio de caber numa ânfora tão pequena, sugerindo que ele "deve ter vindo de um outro lugar". Sentindo-se insultado e para provar seu poder, o gênio se transformou em fumaça e voltou para dentro da ânfora, momento em que o pescador rapidamente a fechou.

05 – Que história o pescador conta ao gênio enquanto ele está preso na ânfora, e qual é a moral dessa história?

      O pescador conta a história do "Rei Ingrato". A moral da história é que a ingratidão e a falta de ética podem levar a consequências desastrosas e à própria ruína, como aconteceu com o rei que, por inveja de seu vizir, matou o médico que o curou e acabou envenenado pelo próprio livro do médico.

06 – Como o gênio finalmente consegue ser libertado da ânfora?

      O gênio consegue ser libertado ao insistir e jurar diante do "Mais Terrível Nome" de Alá que não faria mal ao pescador e o ajudaria. O pescador, após uma pausa, decide confiar e remove a tampa da ânfora.

07 – Para onde o gênio leva o pescador após ser libertado e o que ele o instrui a fazer?

      O gênio leva o pescador ao mais profundo seio da floresta, onde encontram um lindo lago rodeado por quatro montanhas. O gênio instrui o pescador a lançar sua rede ali somente uma vez por dia e a levar o que pescar ao sultão.

08 – Qual é o mistério dos peixes coloridos e o que acontece quando o cozinheiro tenta fritá-los?

      Os peixes são de quatro cores: vermelhos, amarelos, azuis e brancos. Quando o cozinheiro tenta fritá-los, a parede da cozinha se rompe, e uma mulher ou um negro (dependendo da vez) emerge, pergunta aos peixes se foram fiéis aos seus compromissos, e então desaparece com eles.

09 – Quem é o jovem petrificado encontrado pelo sultão no castelo encantado e qual é a causa de sua maldição?

      O jovem petrificado é o príncipe das Ilhas Ocidentais, cuja cintura e pernas foram transformadas em pedra. Sua maldição foi causada por sua esposa, uma terrível feiticeira, que o amava e, em vingança por ele ter golpeado seu amante, o petrificou e enfeitiçou todo o seu reino, transformando-o em montanhas, o mar em deserto, e seu povo em peixes coloridos.

10 – Como o sultão consegue reverter o feitiço e quais são as recompensas para o pescador e sua família?

      O sultão arquitetou um plano, descobriu o amante da bruxa, o matou e se passou por ele. Ele enganou a feiticeira fazendo-a libertar primeiro o príncipe e depois o povo transformado em peixes, usando o nome de Alá. Após a libertação, o sultão mata a bruxa, e o castelo se transforma. O sultão casa-se com a filha mais velha do pescador, o príncipe casa-se com a filha mais moça, e o pescador recebe uma túnica de honra e uma riqueza fabulosa, nunca mais precisando pescar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário