Reportagem: Por que fazemos amigos? – Fragmento
Pura,
sincera, desinteressada. A amizade humana não nasceu assim. Mas um improviso do
cérebro revolucionou tudo – e fez a humanidade ser o que é hoje
Por Camilla Costa e Bruno
Garattoni
[...]
Bem
menos que 1 milhão
Ter amigos só traz benefícios. Quanto
mais, melhor. Mas há um limite. Um estudo feito na Universidade de Oxford
comparou o tamanho do cérebro humano, mais precisamente do neocórtex (área
responsável pelo pensamento consciente), com o de outros primatas. Ele cruzou
essas informações com dados sobre a organização social de cada uma das espécies
ao longo do tempo. E chegou a uma conclusão revelador 150 é o máximo de amigos
que uma pessoa consegue ter ao mesmo tempo.
Para que você mantenha uma amizade com
alguém, precisa memorizar informações sobre aquela pessoa (desde o nome até
detalhes da personalidade dela), que serão acionadas quando vocês interagirem.
Por algum motivo, o cérebro não comporta dados sobre mais de 150 pessoas. Os
relacionamentos que extrapolam esse número são inevitavelmente mais casuais.
Não são amizade. Outros pesquisadores foram além e constataram que, dentro
desse grupo de 150, há uma série de círculos concêntricos de amizades 5, 15, 50
e 150 pessoas, cada um com características diferentes.
O curioso é que esses círculos já
haviam sido mencionados por filósofos como Confúcio, Platão e Aristóteles – e
também estão presentes em várias formas de organização humana. Na Antiguidade
clássica, já era considerado o número máximo de amigos íntimos que alguém
poderia ter. Tirando o futebol, 12 a 15 pessoas é a quantidade de jogadores na
maioria dos esportes coletivos. Cinquenta é o número médio de pessoas nos
acampamentos de caça em comunidades primitivas (como os aborígenes da
Austrália, por exemplo). Cento e cinquenta é o tamanho médio dos grupos do
período neolítico, dos clãs da sociedade pré-industrial, das menores cidades
inglesas no século 11 e, até hoje, de comunidades camponesas tradicionais como
os amish que dividem uma comunidade em duas quando ela ultrapassa as 150
pessoas. Os 150 podem, inclusive, ser a chave do sucesso profissional. Como no
caso da Gore-Tex, uma empresa têxtil americana que se divide e abre uma nova
sucursal cada vez que seu número de funcionários passa de 150 pessoas. A vantagem
disso é que todos os empregados se conhecem, têm relações amistosas e cooperam
melhor. “As coisas ficavam confusas quando havia mais de 150 pessoas”, explicou
o fundador da empresa, William Gore, numa entrevista concedida alguns anos
antes de morrer, em 1986.
[...].
COSTA, Camila;
GARATTONI, Bruno. Por que fazemos amigos? Superinteressante. São Paulo, p. 48-49,
fev. 2011. (Fragmento adaptado).
Fonte: Língua
Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e
Shirley Goulart – 7º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 321-322.
Entendendo a reportagem:
01 – Qual é a ideia central da
reportagem sobre a origem da amizade humana?
A reportagem
sugere que a amizade humana, hoje vista como pura e desinteressada, nem sempre
foi assim. Ela evoluiu de um "improviso do cérebro" que revolucionou
a humanidade.
02 – Qual é a relação entre o
tamanho do cérebro humano e o número de amigos que uma pessoa pode ter?
Um estudo da
Universidade de Oxford comparou o neocórtex (área responsável pelo pensamento
consciente) de humanos e outros primatas, concluindo que 150 é o número máximo
de amigos que uma pessoa consegue ter ao mesmo tempo.
03 – Por que existe um limite
para o número de amizades que o cérebro consegue manter?
Para manter uma
amizade, o cérebro precisa memorizar informações sobre a pessoa (desde o nome
até detalhes da personalidade). Por algum motivo, o cérebro não comporta dados
sobre mais de 150 pessoas, tornando relacionamentos que extrapolam esse número
mais casuais.
04 – Além do limite de 150
amigos, o que outros pesquisadores descobriram sobre a organização das
amizades?
Outros
pesquisadores foram além e constataram que, dentro do grupo de 150, existem
círculos concêntricos de amizades: 5, 15, 50 e 150 pessoas, cada um com
características diferentes.
05 – Como os filósofos antigos
e as comunidades primitivas se relacionam com os números de amizade
identificados no estudo?
É curioso que esses círculos de amizade
já haviam sido mencionados por filósofos como Confúcio, Platão e Aristóteles.
Além disso, eles também estão presentes em várias formas de organização humana,
como o número médio de pessoas em acampamentos de caça de comunidades
primitivas (50 pessoas) e o tamanho médio dos grupos do período neolítico (150
pessoas).
06 – Cite exemplos históricos
e modernos que reforçam a teoria dos limites de amizade ou de grupo.
Exemplos incluem o número de jogadores na
maioria dos esportes coletivos (12 a 15 pessoas), o tamanho médio de clãs na
sociedade pré-industrial (150 pessoas), e o modo como comunidades camponesas
tradicionais como os amish se dividem ao ultrapassar 150 pessoas.
07 – Como a empresa Gore-Tex
utilizou o conceito do número de Dunbar para seu sucesso profissional?
A Gore-Tex, uma
empresa têxtil americana, adotou o princípio de se dividir e abrir uma nova
sucursal cada vez que seu número de funcionários ultrapassa 150 pessoas. Isso
garante que todos os empregados se conheçam, mantenham relações amistosas e
cooperem melhor, evitando a "confusão" que William Gore, o fundador,
percebeu em grupos maiores.
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