Texto: Origens do teatro
Teatro
grego
Há várias imagens, que nos mostra a
representação de um ritual sagrado praticado na Grécia antiga, em homenagem ao
deus Dionísio, deus do vinho e da fertilidade. Esses rituais eram chamados de
ditirambo. Os primeiros registros dessas manifestações datam aproximadamente do
século VII a.C.

Anteriormente aos ditirambos,
acredita-se que os rituais representavam cultos agrários, de morte e
ressureição. Neles, animais eram sacrificados em homenagem aos deuses e a pele
era usada como uma espécie de vestimenta em danças nas quais imitavam o animal,
com dizeres os deuses. Daí teriam surgido as primeiras formas de representação
dramática.
Mas é difícil definir com exatidão a
origem geográfica do teatro, visto que manifestações culturais acontecem
paralelamente e de formas similares em todo o mundo.
Porém, o teatro ocidental,
sistematizado como conhecemos hoje, teria surgido, segundo estudiosos das artes
cênicas, a partir do ritual do ditirambo.
Téspis foi considerado o primeiro ator
de que se tem conhecimento. Ele viajava de cidade em cidade, organizando
celebrações do ditirambo, que foram aos poucos transformadas em dramatizações
com textos, acompanhados por música.
Com o tempo, as celebrações foram se
organizando ainda mais em sua forma, com a criação de diálogos, a separação de
funções, criação de situações para representar histórias em devoção primeiro a
Dionísio e depois a outros deuses, até se chegar a uma estrutura conhecimento e
aos primeiros teatros, pela necessidade de uma estrutura física onde
representar as peças.
Durante a Antiguidade Clássica grega,
período que vai do século VIII ao II a.C., a Grécia experimentou o auge das
produções teatrais dessa época, no século V a.C. Existiam atores, autores e
festivais organizados e patrocinados pelo Estado, nos quais a participação da
população, muitas vezes, era obrigatória.
Para se entender a função original do
teatro na Grécia, é preciso considerar dois pontos importantes: a sociedade
grega vivia sob os conceitos de mitos para entender a vida; e nessa época
existia uma mentalidade civilizatória fundamentada na crença de que costumes,
filosofia, arte, normas sociais e a política eram pressupostas de uma sociedade
ideal. E o teatro foi parte fundamental desse processo.
O
que você entende por mitologia?
A palavra “mito” vem da palavra grega
mithos, que significa “fábula”, acontecimentos imaginados. A palavra mitologia
é a junção de mito e do termo grego logos, que significa “estudo”. Assim,
mitologia é o estudo dos mitos.
Você viu, anteriormente, que o mito
representa uma forma de explicar o mundo, em que o sagrado interfere
diretamente nas relações de causa e efeito, nas relações entre os seres humanos
e destes com a natureza.
As histórias míticas aprecem em muitas
sociedades, em muitos momentos da história. Cada qual com seus deuses
representantes.
Na mitologia grega, o Olimpo, nome dado
ao monte mais alto da Grécia, era habitado e regido por deuses. Cada um deles
representava um aspecto da natureza e tinha uma função específica.
Na mitologia romana, aparecem os mesmos
deuses, com outros nomes correspondentes. Alguns deles até ficaram mais
conhecidos pelos nomes romanos.
Leia, a seguir, uma breve descrição
desses e de mais alguns dos principais deuses. Observe que cada um deles tem
uma relação com algum aspecto da natureza, das ciências, da arte ou de
características do ser humano.
Zeus – deus
dos deuses. Na mitologia romana é chamado de Júpiter.
Hera –
protetora da família. Mulher e irmã de Zeus. Chamada de Juno na mitologia
romana.
Palas
Atena – deus da prudência, das ciências e das artes. Filha de Zeus. Chamada
também de Minerva.
Pã
– deus dos caçadores. Filho de Zeus.
Possêidon
– ou Netuno. Deus do mar, irmão de Zeus.
Héstia
– ou Vesta. Deusa do fogo.
Febo
– ou Apolo. Deus da música, da poesia, da medicina e dos oráculos.
Ártemis
– ou Diana. Deusa das florestas, irmã de Febo.
Deméter
– ou Ceres. Deusa da agricultura.
Hefesto
– ou Vulcano. Deus do fogo.
Hermes
– ou Mercúrio. Mensageiro dos deuses.
Ares
– ou Marte. Deus da guerra.
Afrodite
– ou Vênus. Deusa da beleza, do amor, dos casamentos e nascimentos.
Eros
– ou Cupido. Deus do amor, filho de Afrodite.
Hades
– ou Plutão. Deus dos infernos.
Erineas
– ou Fúrias. Tem a função de executar as sentenças do interno
Dionísio
– ou Baco. Deus da fertilidade, da sensualidade, do vinho. É patrono do
teatro.
Príapo
– ou Phallos. Deus da fecundidade, filho de Dionísio.
Era por meio da crença nessas divindades
que os gregos procuravam explicar tudo que os cercava.
Na Grécia antiga, os mitos eram a base
fundamental de toda a formação da sociedade. Todos os cidadãos, desde cedo,
aprendem sobre os deuses, suas relações com os “mortais” e todas as decorrências
de se enfrentar ou desobedecer as regras divinas. Não eram simplesmente
histórias, faziam parte da cultura como uma crença real, ditada por normas e
regras que deveriam ser seguidas.
Dada toda essa importância para a
sociedade grega, a transmissão desse conhecimento era feita de forma muito
cuidadosa. Por exemplo, os primeiros narradores dos mitos eram considerados
homens escolhidos pelos deuses. Tinham de ser de alta confiabilidade e seriam
pessoas que teriam testemunho o próprio mito. Esses narradores eram os chamados
rapsodos. Os rapsodos iam de cidade em cidade narrando os mitos em forma de
poesia ou música.
Desta forma, as artes foram se tornando
importantes meios de transmissão dos mitos. E aos poucos o teatro aparece como
uma das principais, por ter adquirido a complexidade necessária para mostrar
todos os aspectos da história: personagens, situações, lugares, relações de
causa e efeito, entre outros. O teatro era a possibilidade de fazer o público
vivenciar a história e, assim, apreendê-la de forma mais completa.
Tragédia
Da Grécia antiga, a forma de teatro que
mais teve registros e textos preservados foi a tragédia.
Certamente, você já ouviu esse termo e
é provável que também o use. Até os dias atuais, a palavra tragédia é muito
usada, principalmente pelos meios de comunicação, quando se quer noticiar algum
acontecimento catastrófico, de grandes proporções ou associado à morte.
O significado do termo obviamente foi
modificado desde a época da Grécia antiga, mas ainda mantém relações de
sentido.
A palavra “tragédia” vem do grego
tragoedia. Tragos significa “bode”, e oidé, “ode”, “canto”. Assim, a tragédia
pode ser entendida como “canto do bode”. Existem algumas versões que tentam
explicar a relação do bode com a tragédia. Uma delas diz que, em alguns
rituais, bodes eram sacrificados em homenagem aos deuses, e sua pele usada como
vestimenta; em outras, que os cantos serviam para espantar (ou atrair)
espíritos silvestres em forma de homens misturados com bodes e que costumavam
participar dos ditirambos. Por isso, acredita-se que a tragédia como gênero
teatral também tenha vindo desse culto.
Nas peças trágicas gregas, o objetivo
maior era mostrar como os humanos estavam condicionados à vontade dos deuses e
como qualquer deslize, por menos intencional que fosse, levaria o personagem à desgraça
inevitável. As tragédias falam de situações sem saída, ligadas à posição do ser
humano no Universo.
Essas peças serviam para ensinar a
moral e dar ao cidadão um sentido de identidade, mostrando uma situação em que
ele poderia se enxergar para seguir ou não o exemplo de algo que estava sendo
mostrado. O ator era considerado uma espécie de sacerdote.
A tragédia, nessa época, pode ser
considerada muito mais do que uma manifestação teatral: representava uma
situação social, patrocinada diretamente pelo Estado e por outros cidadãos de
poder. Patrocinar o teatro era considerado um dever cívico.
As Dionisíacas, festival em homenagem
aos deuses, organizado pelo Estado, duravam seis dias, e a participação do povo
era obrigatória. Nelas, a principal atração eram as apresentações de teatro.
A produção era bastante intensa. Os
principais tragediógrafos gregos de que se tem registro são: Ésquilo, Sófocles
e Eurípedes. Este último, por exemplo, produziu, em 50 anos, 92 peças, sendo
que 19 chegaram completas aos dias de hoje.
Nas apresentações das tragédias, os
atores usavam roupas e adereços grandes, como os onkus, uma espécie de adereço
utilizado na cabeça para dar maior altura ao personagem; o coturnos, que são os
sapatos de saltos grandes, nome que até hoje é conhecido; e grandes máscaras
feitas de couro, pano ou madeira, que tinham algumas funções importantes, como
amplificar a voz dos atores, possibilitar que o mesmo ator fizesse mais de um
personagem sem revelar sua identidade durante a peça, algo que era considerado
impróprio na época. Esses adereços davam ao ator uma postura hierática e
sagrada.
Nas peças, além dos atores, um elemento
muito importante era o coro, um personagem coletivo, formado por muitas
pessoas, que representavam a voz do cidadão, e que servia para difundir os
pontos de vista oficiais. Discordavam e comentavam o enredo, porém sem
interferir nele ou na ação. Ao coro cabiam ações contemplativas, de comentários
e reflexão, ou falas para explicar acontecimentos anteriores à história da
peça. O coro movia-se segundo um ritmo fixo, com seus membros juntos, cantando
ao som de flautas e alternando perguntas e respostas.
A figura do herói também aparece nas
tragédias, mas não como um semideus, como na mitologia. O herói é o personagem
que desencadeia a história. Na maioria das vezes ele é o personagem principal.
É ele quem sofre a falha trágica, situação em que o personagem faz alguma coisa
errada sem saber, inconscientemente, mas que depois vai viver as consequências
desse infortúnio de maneira consciente. O erro do herói trágico não é uma falha
de caráter, mas uma falha por engano. O conflito na tragédia se dá entre a
vontade do herói o seu destino.
O público acompanha a trajetória do
herói e vive com ele todos os momentos da história, culminando com a catarse,
do grego kátharsis, que pode ser traduzida como “purificação” ou “purgação”.
Era o nome dado à sensação que é despertada no espectador no desfecho da peça,
uma descarga emocional, a fim de causar uma relação de empatia com o personagem
e a história.
Comédia
A palavra “comédia” vem da junção dos
termos gregos komos, que significa “rurais” ou “campestres”; e ode, que
significa “canto”: “cantos rurais”.
Acredita-se que também a comédia tenha
se originado dos rituais ao deus Dionísio, mas ela teria tomado outro rumo em relação
às tragédias, tanto em características quanto em funções.
As tragédias cultuavam os deuses e suas
regras sociais, já as comédias se desdobraram dos rituais de fertilidade,
celebrando a vida e os assuntos mais mundanos, cotidianos, cultuando o
divertimento. Os personagens eram inventados, as histórias falavam de zombaria,
defeitos, vícios, críticas sociais, sempre de forma divertida e improvisada. E
os finais eram felizes.
Assim, tinha-se que a tragédia era
digna dos deuses, e a comédia, digna dos homens.
Na comédia, os atores improvisavam,
paravam a peça para falar diretamente ao público, fazer brincadeiras, sugerir
participação. Essas pausas eram chamadas parábase.
Os mimos eram atores populares que
improvisavam e iam de cidade em cidade levando histórias cômicas. Esses atores,
segundo dados históricos, teriam representado textos falados e depois
desenvolvido o gestual, originando o que conhecemos hoje como mímica.
Aristófanes e Menandro fôramos autores
de comédias mais representativos dessa época e de quem se tem mais registros
até os dias de hoje. Eles participavam das Leneias, que eram as festas de
comédias realizadas durante o inverno na Grécia.
Fonte: Arte em
Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume
único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 21-28.
Entendendo o texto:
01 – Qual divindade grega é
associada aos rituais que deram origem ao teatro ocidental, e qual o nome
desses rituais?
O teatro
ocidental, como conhecemos hoje, teria surgido a partir dos rituais chamados
ditirambos, praticados na Grécia antiga em homenagem a Dionísio, deus do vinho
e da fertilidade.
02 – Quem foi Téspis e qual
sua importância para a história do teatro?
Téspis foi
considerado o primeiro ator de que se tem conhecimento. Ele viajava organizando
celebrações do ditirambo, que gradualmente foram transformadas em dramatizações
com textos e música, contribuindo para a evolução para o teatro.
03 – Quais eram os dois pontos
importantes a serem considerados para entender a função original do teatro na
Grécia Antiga?
Para entender a função original do teatro
na Grécia Antiga, era preciso considerar que a sociedade grega vivia sob os
conceitos de mitos para entender a vida e que existia uma mentalidade
civilizatória fundamentada na crença de que costumes, filosofia, arte, normas
sociais e política eram pressupostos de uma sociedade ideal.
04 – O que significa
"mitologia" e qual era sua importância na sociedade grega antiga?
"Mitologia"
é o estudo dos mitos. Na Grécia antiga, os mitos eram a base fundamental de
toda a formação da sociedade, sendo considerados crenças reais que ditavam
normas e regras a serem seguidas por todos os cidadãos.
05 – Qual é a origem
etimológica da palavra "tragédia" e quais eram os objetivos
principais das peças trágicas gregas?
A palavra
"tragédia" vem do grego tragoedia, que significa "canto do
bode". O objetivo maior das peças trágicas gregas era mostrar como os
humanos estavam condicionados à vontade dos deuses e como qualquer deslize
levaria o personagem à desgraça inevitável, ensinando moral e oferecendo um
sentido de identidade ao cidadão.
06 – Quais eram os principais
adereços utilizados pelos atores nas tragédias gregas e quais suas funções?
Os atores nas
tragédias gregas usavam adereços grandes como os onkus (adereço na cabeça para
dar altura), os coturnos (sapatos de saltos grandes) e grandes máscaras (feitas
de couro, pano ou madeira). As máscaras tinham funções importantes como
amplificar a voz, permitir que o mesmo ator fizesse múltiplos personagens e
manter uma postura hierática e sagrada.
07 – Qual era a função do coro
nas apresentações das tragédias gregas?
O coro era um
personagem coletivo que representava a voz do cidadão e servia para difundir os
pontos de vista oficiais. Ele comentava o enredo, realizava ações
contemplativas e de reflexão, e explicava acontecimentos anteriores à história,
sem, no entanto, interferir na ação.
08 – O que é a "falha
trágica" do herói e o que o público vivenciava ao final da peça, conhecido
como "catarse"?
A falha trágica do herói é uma situação
em que o personagem comete um erro inconscientemente, mas depois sofre as
consequências de forma consciente. A catarse (do grego kátharsis, purificação
ou purgação) era a descarga emocional que o espectador vivenciava no desfecho
da peça, causando empatia com o personagem e a história.
09 – Qual é a origem
etimológica da palavra "comédia" e como ela se diferenciava da
tragédia em termos de função e características?
A palavra "comédia" vem da junção dos termos gregos
komos ("rurais" ou "campestres") e ode ("canto"),
significando "cantos rurais". Ao contrário das tragédias que
cultuavam os deuses, as comédias celebravam a vida e assuntos cotidianos,
focando no divertimento, com personagens inventados, zombaria, críticas sociais
de forma divertida, improvisação e finais felizes. Enquanto a tragédia era "digna
dos deuses", a comédia era "digna dos homens".
10 – O que eram as
"parábases" nas comédias gregas e quem eram os "mimos"?
As parábases eram
pausas nas comédias gregas onde os atores improvisavam e falavam diretamente ao
público, fazendo brincadeiras e sugerindo participação. Os mimos eram atores
populares que improvisavam e viajavam de cidade em cidade, levando histórias
cômicas e que, segundo dados históricos, teriam originado a mímica moderna ao
desenvolver o gestual.
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