Crônica: O bom e o mau
Carlos Heitor Cony
Se me perguntarem (ninguém me pergunta
nada há muito tempo) o que mais me irrita atualmente e o que mais me gratifica,
eu responderei que é o computador. Na verdade, fica difícil imaginar a vida
profissional sem ele, seus recursos de memória e arquivo, a capacidade de fazer
correções, eliminar ou acrescentar palavras e parágrafos.

É também irritante, sobretudo com os
programas cada vez mais avançados que bolam para os usuários. Não sei qual foi
o gênio que programou os dias da semana (segunda, terça, quarta etc.) com
maiúsculas. Não os uso assim, e toda vez que começo a escrever "na segunda
fila" ou "ter ou não ter, eis a questão" sou obrigado a eliminar
a maiúscula, pois o computador, para melhor e mais rapidamente me servir, acha
que eu vou escrever o que não quero nem preciso escrever.
Acho que já contei esta história. Se
contei, conto-a outra vez, pois ela expressa exatamente o que o computador pode
nos dar de bom e ruim. Um escritor norte-americano escreveu um romance em que o
personagem principal teria o nome de Julieta. Um amigo, que leu os originais,
achou que o nome italianado não combinava com a mocinha do oeste dos Estados
Unidos, que devia se chamar Bárbara, Carol ou Kate.
O autor concordou e usando o recurso do
"replace", ordenou que toda a vez que aparecesse a palavra
"Julieta", fosse ela substituída pela palavra "Bárbara". Mandou
o original assim emendado para a editora e quando recebeu o primeiro exemplar de
sua obra, verificou que os seus personagens haviam ido ao teatro assistir a uma
peça de Shakespeare intitulada "Romeu e Bárbara".
Ao computador pode-se aplicar aquele
pensamento do cão de Quincas Borba, que para facilitar as coisas, tinha o mesmo
nome do dono: "Nada é completamente bom, nada é completamente mau".
CONY, Carlos Heitor.
In: Manuel da Costa Pinto (Org.). Crônica brasileira contemporânea: antologia
de crônicas. São Paulo: Salamandra, 2005. p. 30-31.
Fonte: Língua
Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e
Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 266.
Entendendo a crônica:
01 – O que o autor Carlos
Heitor Cony aponta como a coisa que mais o irrita e mais o gratifica
atualmente?
O autor aponta o
computador como a coisa que mais o irrita e, ao mesmo tempo, mas o gratifica.
02 – Quais são os principais
benefícios do computador, de acordo com o cronista?
Os principais
benefícios do computador, segundo Cony, são seus recursos de memória e arquivo,
e a capacidade de fazer correções, eliminar ou acrescentar palavras e
parágrafos, tornando a vida profissional muito mais fácil.
03 – Qual é um dos aspectos
"irritantes" do computador mencionados pelo autor, relacionado aos
programas?
Um dos aspectos irritantes é a autocorreção e sugestão de
escrita dos programas. Cony se irrita com o fato de o computador, por exemplo,
escrever os dias da semana com maiúsculas, forçando-o a fazer correções
constantes para o que ele realmente quer escrever.
04 – Qual a história que
Carlos Heitor Cony utiliza para ilustrar os lados bom e ruim do computador?
Cony conta a
história de um escritor norte-americano que, ao decidir mudar o nome de sua
personagem principal de "Julieta" para "Bárbara", usou o
recurso "replace" no computador. O problema é que o programa
substituiu todas as ocorrências da palavra "Julieta", resultando na
infame peça "Romeu e Bárbara", demonstrando uma falha cômica do uso
indiscriminado da ferramenta.
05 – Que citação de Quincas
Borba o autor usa para resumir sua visão sobre o computador?
Para resumir sua
visão sobre o computador, o autor aplica o pensamento do cão de Quincas Borba:
"Nada é completamente bom, nada é completamente mau".
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