quinta-feira, 14 de agosto de 2025

CRÔNICA: O BOM E O MAU - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Crônica: O bom e o mau

              Carlos Heitor Cony

        Se me perguntarem (ninguém me pergunta nada há muito tempo) o que mais me irrita atualmente e o que mais me gratifica, eu responderei que é o computador. Na verdade, fica difícil imaginar a vida profissional sem ele, seus recursos de memória e arquivo, a capacidade de fazer correções, eliminar ou acrescentar palavras e parágrafos.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJUzbNTraRpfZmnP2jmMHjPzhQFfCBliXl2rOEjNiM6SMIrCtzIBqpLXpYLroDBN5ZwaLLbkq5MDMzBIR9QnJtgvBqrbh1Bg4M0bQuqgbCG1gesxMXUjMyLALIPrVoMDi24L_M7g1jyE4bIm9BrKQlHzed9wumntiUxBORycO6yq9S8mM_580x3uFC78M/s1600/lossy-page1-250px-Carlos_Heitor_Cony_autografa_seu_livro_%E2%80%9CO_ato_e_o_fato%E2%80%9D,_1964.tif.jpg


        É também irritante, sobretudo com os programas cada vez mais avançados que bolam para os usuários. Não sei qual foi o gênio que programou os dias da semana (segunda, terça, quarta etc.) com maiúsculas. Não os uso assim, e toda vez que começo a escrever "na segunda fila" ou "ter ou não ter, eis a questão" sou obrigado a eliminar a maiúscula, pois o computador, para melhor e mais rapidamente me servir, acha que eu vou escrever o que não quero nem preciso escrever.

        Acho que já contei esta história. Se contei, conto-a outra vez, pois ela expressa exatamente o que o computador pode nos dar de bom e ruim. Um escritor norte-americano escreveu um romance em que o personagem principal teria o nome de Julieta. Um amigo, que leu os originais, achou que o nome italianado não combinava com a mocinha do oeste dos Estados Unidos, que devia se chamar Bárbara, Carol ou Kate.

        O autor concordou e usando o recurso do "replace", ordenou que toda a vez que aparecesse a palavra "Julieta", fosse ela substituída pela palavra "Bárbara". Mandou o original assim emendado para a editora e quando recebeu o primeiro exemplar de sua obra, verificou que os seus personagens haviam ido ao teatro assistir a uma peça de Shakespeare intitulada "Romeu e Bárbara".

        Ao computador pode-se aplicar aquele pensamento do cão de Quincas Borba, que para facilitar as coisas, tinha o mesmo nome do dono: "Nada é completamente bom, nada é completamente mau".

CONY, Carlos Heitor. In: Manuel da Costa Pinto (Org.). Crônica brasileira contemporânea: antologia de crônicas. São Paulo: Salamandra, 2005. p. 30-31.

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 266.

Entendendo a crônica:

01 – O que o autor Carlos Heitor Cony aponta como a coisa que mais o irrita e mais o gratifica atualmente?

      O autor aponta o computador como a coisa que mais o irrita e, ao mesmo tempo, mas o gratifica.

02 – Quais são os principais benefícios do computador, de acordo com o cronista?

      Os principais benefícios do computador, segundo Cony, são seus recursos de memória e arquivo, e a capacidade de fazer correções, eliminar ou acrescentar palavras e parágrafos, tornando a vida profissional muito mais fácil.

03 – Qual é um dos aspectos "irritantes" do computador mencionados pelo autor, relacionado aos programas?

      Um dos aspectos irritantes é a autocorreção e sugestão de escrita dos programas. Cony se irrita com o fato de o computador, por exemplo, escrever os dias da semana com maiúsculas, forçando-o a fazer correções constantes para o que ele realmente quer escrever.

04 – Qual a história que Carlos Heitor Cony utiliza para ilustrar os lados bom e ruim do computador?

      Cony conta a história de um escritor norte-americano que, ao decidir mudar o nome de sua personagem principal de "Julieta" para "Bárbara", usou o recurso "replace" no computador. O problema é que o programa substituiu todas as ocorrências da palavra "Julieta", resultando na infame peça "Romeu e Bárbara", demonstrando uma falha cômica do uso indiscriminado da ferramenta.

05 – Que citação de Quincas Borba o autor usa para resumir sua visão sobre o computador?

      Para resumir sua visão sobre o computador, o autor aplica o pensamento do cão de Quincas Borba: "Nada é completamente bom, nada é completamente mau".

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário