domingo, 3 de agosto de 2025

REPORTAGEM: CRIADA A MEMBROS CIA. DE DANÇA - FRAGMENTO - LETÍCIA DE SOUZA - COM GABARITO

 Reportagem: Criada a Membros Cia. de Dança – Fragmento

        Criada há 10 anos em Macaé, a Membros Cia. De Dança. Traz linguagem política para os palcos em três espetáculos

Por Letícia de Souza

        Nenhum passo da companhia de dança Membros é em falso. Cada movimento no palco assume uma dimensão política, seja para contestar um preconceito, para levantar questões sociais importantes – que merecem ser vistas sob outros ângulos –, seja para mostrar um novo horizonte a quem não tinha perspectiva. Talvez por isso o grupo criado em Macaé, no Rio de Janeiro, tenha tanta visibilidade no exterior. A companhia já se apresentou em mais de 100 cidades de 20 países e desembarca em Brasília com um projeto inédito no Brasil: a trilogia Membros, o corpo político que dança, que havia sido levada somente à Áustria.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhycAn5Qq_VJU0n-L-UR5Cwvq1pK8zNtSwvJc-b2qPKrKeKtyWIgjE_pUO8jsC1XjKwGnhOhQPljdHC6RyuJAnu0CFjr6B13kLTcSQqq-tVbaAc4gFpwvT8XWbSjxCbMobcPoAoJjWcMI0ZRF_CX1ty12jrYvDVcwd9aPwovdWbp70-4p83zA4Ms-Q083k/s320/1575055329.jpg


        Composto pelos espetáculos Raio X, Febre e Medo, que abordam a violência, o projeto pode ser conferido neste fim de semana no Teatro da Caixa. Apesar de formarem um conjunto, eles são apresentados em dias diferentes, de forma sequencial, com o objetivo de sugerir um aprofundamento do tema. Raio X entra em cena hoje, Febre, amanhã, e Medo, no domingo. O público, contudo, não perde o fio da meada se assistir a apenas uma das narrativas.

        Raio X é baseado nos conflitos típicos do sistema carcerário brasileiro. “Buscamos estudos de literatura marginal, que são livros escritos por detentos ou por pesquisadores desse campo de investigação”, conta Paulo Azevedo, diretor artístico da companhia. Em Febre, o grupo utiliza a figura do menino em situação de risco como metáfora para tratar as “doenças” da sociedade. Na última narrativa, a violência se projeta no corpo feminino, numa perspectiva que flerta com a prostituição. A intenção é romper o rótulo de fragilidade do gênero.

        A Membros Cia. de Dança foi fundada por Paulo Azevedo e pela coreógrafa Taís Vieira em 1999. Na época, eles apresentaram a jovens de escolas públicas de Macaé a dança a partir da cultura do hip hop. A iniciativa foi tão bem sucedida que surgiu uma escola de formação. Nas apresentações em Brasília, sobem ao palco 12 intérpretes (como são chamados os dançarinos) e todos se profissionalizaram dentro da própria companhia.

        Três perguntas – Paulo Azevedo

        Vocês são uma companhia reconhecida por tratar a dança como manifestação política. O que isso significa?

        Significa que nos amparamos no principal referencial que entendemos como político, que é o corpo. Então, no momento em que esse corpo refaz o seu papel enquanto instrumento político, seja ele em forma de manifestação, protesto, silêncio, torna-se para a gente um referencial de pesquisa.

        Por que a opção por retratar a violência?

        De forma geral, a primeira violência que a gente constata é sobre gente mesmo. Vivemos em uma cidade cujo referencial é apenas o petróleo. Para a comunidade de uma forma geral, o imaginário de sucesso é quando um jovem da região consegue um emprego em uma firma que presta serviço para a Petrobras ou na própria Petrobras. As famílias dificilmente vão enxergar o processo artístico desses jovens como algo exitoso. Então, a primeira violência que surgiu para a gente foi a de colocarem que não era possível acreditar nos nossos projetos, fazer tudo o que a gente acabou conseguindo fazer.

        Qual é a linguagem do espetáculo?

        O hip hop a dança contemporânea talvez sejam mais fáceis de identificar. Mas, se fossem enquadrar a gente, acho que fazemos uma dança política. Também trazemos elementos da capoeira. [...]

Correio Brasiliense, em 30 de out. de 2009.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 282-283.

Entendendo a reportagem:

01 – Qual é a principal característica e o propósito da Membros Cia. de Dança, e como isso se manifesta em suas apresentações?

      A principal característica da Membros Cia. de Dança é sua linguagem política, onde cada movimento no palco assume uma dimensão de crítica social. O propósito da companhia é usar a dança para contestar preconceitos, levantar questões sociais importantes e oferecer novas perspectivas. Isso se manifesta em suas apresentações através da abordagem de temas como a violência, explorando conflitos do sistema carcerário, a figura do menino em situação de risco como metáfora para doenças sociais, e a violência projetada no corpo feminino, buscando romper o rótulo de fragilidade. Para o diretor Paulo Azevedo, o corpo em si é um instrumento político, e sua pesquisa se baseia nesse referencial.

02 – Descreva a trilogia "Membros, o corpo político que dança", mencionando seus espetáculos constituintes e a temática central de cada um.

      A trilogia "Membros, o corpo político que dança" é um projeto inédito no Brasil, que havia sido apresentado somente na Áustria. Ela é composta por três espetáculos: "Raio X", "Febre" e "Medo". A temática central que permeia os três é a violência, com o objetivo de aprofundar a discussão sobre o tema ao longo das apresentações sequenciais.

      "Raio X" é baseado nos conflitos típicos do sistema carcerário brasileiro, utilizando estudos de literatura marginal.

      "Febre" emprega a figura do menino em situação de risco como uma metáfora para as "doenças" da sociedade.

      "Medo" projeta a violência no corpo feminino, explorando uma perspectiva que flerta com a prostituição, com a intenção de romper o rótulo de fragilidade do gênero.

03 – Como a Membros Cia. de Dança foi fundada e qual a relevância de sua escola de formação para os dançarinos?

      A Membros Cia. de Dança foi fundada em 1999 por Paulo Azevedo e pela coreógrafa Taís Vieira, em Macaé, Rio de Janeiro. Inicialmente, eles apresentaram a dança a partir da cultura do hip hop para jovens de escolas públicas da cidade. A iniciativa foi tão bem-sucedida que culminou na criação de uma escola de formação. A relevância dessa escola é que ela permitiu que todos os 12 intérpretes (como são chamados os dançarinos) que sobem ao palco nas apresentações em Brasília se profissionalizassem dentro da própria companhia. Isso demonstra um modelo de desenvolvimento e capacitação interna, valorizando e formando talentos a partir de suas próprias bases.

04 – De acordo com Paulo Azevedo, por que a companhia optou por retratar a violência em suas obras?

      Segundo Paulo Azevedo, a opção por retratar a violência surgiu de uma constatação sobre a primeira violência que o grupo enfrentou: a descrença em seus projetos artísticos. Vivendo em uma cidade como Macaé, cujo referencial econômico é majoritariamente o petróleo, o imaginário de sucesso para a comunidade estava centrado em empregos na Petrobras ou em empresas ligadas ao setor. As famílias, de forma geral, tinham dificuldade em enxergar o processo artístico como algo exitoso ou viável. Portanto, a violência inicial que a companhia buscou abordar foi a de ser desacreditada em sua capacidade de alcançar o sucesso por meio da arte, transformando essa experiência em um pilar para suas criações.

05 – Qual é a linguagem de dança predominante nos espetáculos da Membros Cia. de Dança, e o que mais a caracteriza?

      A linguagem de dança predominante nos espetáculos da Membros Cia. de Dança é o hip hop e a dança contemporânea, que são as mais fáceis de identificar. No entanto, Paulo Azevedo ressalta que a companhia faz uma "dança política", o que a caracteriza de forma mais abrangente. Além disso, a companhia também incorpora elementos da capoeira em suas coreografias. Essa fusão de estilos, combinada com a forte dimensão política de seus movimentos, define a identidade artística da Membros Cia. de Dança.

 

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