Texto: Uma coisa grande mesmo
Ricardo Guimarães
Difícil falar de sustentabilidade para
pessoas que não querem, não gostam e têm dificuldade de pensar no futuro. Mas a
pauta do mundo hoje é essa, goste ou não, queira ou não. Porque
sustentabilidade é isto: trazer o futuro para o presente. É resolver os seus
problemas e realizar seus sonhos hoje sem comprometer os sonhos de quem ainda
nem nasceu.
Para quem é jovem e brasileiro, então, a dificuldade de incluir o futuro nas
suas decisões é maior ainda. Vou explicar começando pelo que temos em comum:
Brasil. Vivemos numa região do planeta que é muito boa e generosa com as nossas
condições de vida. Para nós, humanos, para as plantas e para os animais.
Aprendi isso no livro de Eduardo Giannetti, “O Valor do amanhã”. Ele diz que
uma árvore No hemisfério norte, como por exemplo o carvalho, tem que armazenar
energias no verão para atravessar o inverno, senão morre. Uma palmeira nos
trópicos, onde o inverno é quente, não tem esse mecanismo de armazenagem porque
não precisa.
Isto é, nós, que vivemos nos trópicos, tendemos naturalmente a não esquentar a
cabeça com o inverno, isto é, com o futuro. Daí para essa tendência virar
atitude, cultura, estilo de vida, não custa nada. Conclusão: o brasileiro é
cabeça fresca por natureza.
O mesmo acontece quando temos pouca idade. Quando jovens, temos tanto para
viver no presente e tanto futuro pela frente, que não temos nenhuma motivação
nem espaço na cabeça para pensar no futuro. Dizem que o máximo de futuro que a
maioria dos jovens consegue pensar é três ou quatro dias. Mais praticamente, o
tempo da próxima balada ou o prazo para entregar o trabalho da escola.
Normal. De verdade, a gente só começa a pensar no futuro para valer quando
casamos e temos filhos. Aí é que se começa a pensar sério na vida, fazer
planos, poupar, essas coisas.
Então, para jovens brasileiros, sustentabilidade é papo cabeça, abstrato, que
só vira realidade quando vê crianças morrendo de falta de água, ursinho
morrendo de falta de frio, peixe morrendo de falta de ar, floresta morrendo de
falta de inteligência humana e boate fechando por falta de energia elétrica
para a guitarra e o ar-condicionado.
Estou falando isso para mostrar o tamanho do desafio para um jovem dos trópicos
entender o que de fato está por trás da sustentabilidade e poder se preparar
para contribuir na virada deste jogo que está pondo em risco o seu próprio
futuro.
Não adianta chorar o leite derramado, a árvore derrubada e colocar a culpa nas
gerações passadas. É bola pra frente. Tem mais é que entender o que os outros
não entenderam e reinventar nosso estilo de vida a partir de uma nova consciência.
A nova consciência diz que o tamanho do “aqui, agora” tem que ser muito grande,
tão grande que não fique nada de fora. Nenhuma criança, nenhum urso, nenhum
buriti, ninguém, não importa se é do hemisfério norte ou sul, se é muçulmano ou
judeu, se é do passado, do futuro ou do presente. Porque tudo é
interdependente.
É uma coisa grande mesmo. Muito maior do que o aqui, agora da minha geração,
que muita gente entendeu que era pequeno e curto e acabou detonando sua saúde
em poucos anos, destruindo sua vida e privando o futuro do seu talento. Muitos
amigos, muitos músicos geniais foram destruídos por essa má compreensão do
“aqui, agora”.
Minha geração pagou caro para aprender, mas corrigiu o erro em tempo e colocou
um big e um long na frente do here e do now. São só dois adjetivos, mas fazem
toda a diferença na hora de sonhar um sonho que não vira pesadelo, na hora de
escolher uma profissão que não vira um mico.
Vamos combinar: para sustentabilidade não existe futuro nem passado, só existe
o presente, um presente eterno, um presente tão grande que só cabe na nossa
consciência, e se está na consciência vira estilo de vida. Então, a saída é
acordar para essa nova consciência. Como cantam Céu e Beto Villares na sua
“Roda”: “Caiu na roda, ou acorda ou vai dançar”.
Ricardo Guimarães – Revista MTV
Entendendo o texto:
01 – Antes de ler esse
artigo, o que você já sabia a respeito de sustentabilidade? Explique.
Resposta pessoal do aluno.
02 – Ao explicar o
desinteresse dos jovens brasileiros pela sustentabilidade, o autor apresenta
duas justificativas.
a)
Quais são elas e a que características estão
relacionadas, segundo o texto?
A explicação para os jovens brasileiros não se preocuparem está
justamente no fato de serem jovens e serem brasileiros. O texto procura fazer o
leitor reconhecer que “o brasileiro é cabeça fresca por natureza” e que os
jovens não “têm” nenhuma motivação nem espaço na cabeça para pensar no futuro.
b)
Você concorda com esse ponto de vista do
autor? Justifique.
Resposta pessoal do aluno.
03 – Releia o segundo e o
terceiro parágrafos do texto.
a)
O articulista afirma: “Aprendi isso no livro do Eduardo Giannetti, O valor do amanhã”. A
que informação apresentada no livro de Giannetti se refere o termo isso?
O termo refere-se ao fato de que “[...] Vivemos numa região do
planeta que é muito boa e generosa com as nossas condições de vida. Para nós,
humanos, para as plantas e para os animais.”
b)
Que outro ensinamento, presente no mesmo
livro, é reproduzido no artigo?
O ensinamento a respeito do carvalho, árvore do hemisfério Norte que
tem de armazenar energias no verão para atravessar o inverno, e da palmeira,
árvore dos trópicos que sobrevive de modo diferente, pois o clima e o ambiente
são favoráveis.
c)
Quando o autor do artigo insere a referência
a Eduardo Giannetti em seu texto, que tipo de argumento está usando? Que efeito
sobre o leitor se espera com o uso desse tipo de argumento?
Trata-se do argumento baseado na autoridade, que busca aumentar a
credibilidade do texto.
04 – Além da faixa etária,
que outras características podem ser associadas ao público para o qual o artigo
foi escrito? Explique sua resposta.
O texto foi
escrito para um jovem favorecido economicamente, um jovem que não precisa pensar
na própria subsistência e, por isso, pode ter como únicas preocupações as
baladas e os trabalhos escolares.
05 – Qual estratégia é
adotada no artigo para alcançar o seu objetivo?
O articulista
enfatiza os defeitos dos jovens, generalizando seu comportamento e reprovando
sua postura alienada, autocentrada e pouco racional. Esse modo de enxergar o
jovem explica certo tom agressivo presente em todo o texto e a opção de
persuadir o leitor por meio do choque.
06 – Qual o tema central do
artigo?
A
sustentabilidade.
07 – O autor generaliza os
jovens como alienados. Transcreva um trecho que comprove sua resposta.
“Difícil falar de sustentabilidade para
pessoas que não querem, não gostam e têm dificuldade de pensar no futuro”.
08 – Em sua opinião, essa é
uma estratégia eficaz para atingir o leitor?
Resposta pessoal do aluno.
09 – O que a expressão “dizem que” revela a respeito das
fontes consultadas pelo articulista ao afirmar que os jovens só pensam no
presente?
Essa expressão
revela que ele se baseou no senso comum.
10 – A que se refere o
pronome isso no início do
oitavo parágrafo no texto?
O pronome isso refere-se a todo o pensamento
articulado nos parágrafos anteriores (exceto o parágrafo de introdução).
Salve Geiza!
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