Poema: ANTIGUIDADES
CORA
CORALINA
Quando eu era menina bem pequena,
em nossa casa,
certos dias da semana se fazia um bolo,
assado na panela
com um testo de borralho em cima.
Era um bolo econômico,
como tudo, antigamente.
Pesado, grosso, pastoso.
(Por sinal que muito ruim.)
Eu era menina em crescimento.
Gulosa, abria os olhos para aquele bolo
que me parecia tão bom e tão gostoso.
Era só olhos e boca e desejo daquele bolo inteiro.
Minha irmã mais velha governava.
Regrava.
Me dava uma fatia, tão fina, tão delgada…
E fatias iguais às outras manas.
E que ninguém pedisse mais!
E o bolo inteiro, quase intangível,
se guardava bem guardado,
com cuidado, num armário, alto, fechado,
impossível.
Era aquilo, uma coisa de respeito.
Não pra ser comido
assim, sem mais nem menos.
Destinava-se às visitas da noite,
certas ou imprevistas.
Detestadas da meninada.
Criança, no meu tempo de criança,
não valia mesmo nada.
A gente grande da casa usava e abusava
de pretensos direitos de educação.
Por dá-cá-aquela-palha, ralhos e beliscão.
Palmatória e chineladas não faltavam.
Quando não, sentada no canto de castigo
fazendo trancinhas, amarrando abrolhos.
“Tomando propósito”.
Expressão muito corrente e pedagógica.
Aquela gente antiga, passadiça, era assim:
severa, ralhadeira.
Não poupava as crianças.
Mas, as visitas…
– Valha-me Deus! …
As visitas… Como eram queridas,
recebidas, estimadas, conceituadas, agradadas!
Eu fazia força de ficar acordada
esperando a descida certa do bolo
encerrado no armário alto.
E quando este aparecia,
vencida pelo sono já dormia.
E sonhava com o imenso armário
cheio de grandes bolos ao meu alcance.
De manhã cedo quando acordava,
estremunhada, com a boca amarga,
– ai de mim – via com tristeza,
sobre a mesa: xícaras sujas de café,
O prato vazio, onde esteve o bolo, e um cheiro
enjoado de rapé.
Entendendo o poema:
01 – Leia os verbetes:
·
Texto:
tampa de vasilha.
· Borralho:
conjunto de brasas acessas cobertas de cinza; cinzas quentes; lar, lareira.
Com base nos significados
das palavras e no conteúdo da 1ª estrofe, explique como era assado o bolo
antigamente na casa do eu lírico do poema.
Assado em panela
tampada, numa braseira.
02 – A hora em que o bolo
era servido parecia um cerimonial. Por quê?
Porque o bolo era
servido para as visitas.
03 – Leia o trecho a seguir:
“Era um bolo econômico,
como tudo, antigamente.
Pesado, grosso, pastoso.
(Por sinal que muito ruim.)”
a)
Explique o significado do pronome indefinido
nos versos acima.
Grande parte das coisas era econômica.
b)
Pode-se afirmar que hoje é diferente?
Justifique sua resposta.
Sim. Hoje há mais fartura e recursos econômicos se compararmos com
tempos remotos.
c)
Que faro narrado no poema se opõe ao último
verso dessa estrofe: “Por sinal muito
ruim”?
O bolo parecia muito “tão bom e tão gostoso”.
04 – Qual o significado do
verbo “regrar” no texto?
Dividia com cuidado, de maneira
econômica.
05 – Que verbo está
subtendido no verso: “E fatias iguais às
outras manas”?
O verbo “eram”.
06 – Aponte os versos do
poema em que a vontade de comer o bolo toma a menina plenamente:
(X) “Abria os olhos para aquele bolo
/ que me parecia tão bom / e tão gostoso”.
( ) “Com atenção. Seriamente. / Eu presente”.
(X) “Era só olhos e boca e desejo / daquele
bolo inteiro”.
( ) “E o bolo inteiro / quase inatingível”.
( ) “Era aquilo uma coisa de respeito / Não
pra ser comido”.
07 – Que tipo de sujeito
apresenta a oração: “Era só olhos e boca
e desejo / daquele bolo inteiro”.
Sujeito desinencial.
08 – Nos versos: “Por dá-cá-aquela-palha / alhos e
beliscão”. Dê um sinônimo para a palavra destacada.
Chicote.
09 – A menina, quando estava
de castigo, permanecia sentada num canto amarrando abrolhos.
· Abrolho:
planta rasteira e espinhosa; O espinho dessa planta; Escolhos; Dificuldades,
contrariedades.
a)
Sublinhe no verbete o melhor significado para
a palavra.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Ficava de castigo pensando nas
dificuldades, refletindo.
b)
Explique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.
Bem explicado.
ResponderExcluirBom dia .
ResponderExcluirUma dúvida A expressão tomando propósito podia ser substituída por qual outro sinônimo na frase.
Obrigado desde já