domingo, 16 de junho de 2019

POEMA: ANTIGUIDADES - CORA CORALINA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: ANTIGUIDADES
         
                  CORA CORALINA

Quando eu era menina bem pequena,
em nossa casa,
certos dias da semana se fazia um bolo,
assado na panela
com um testo de borralho em cima.

Era um bolo econômico,
como tudo, antigamente.
Pesado, grosso, pastoso.
(Por sinal que muito ruim.)

Eu era menina em crescimento.
Gulosa, abria os olhos para aquele bolo
que me parecia tão bom e tão gostoso.

Era só olhos e boca e desejo daquele bolo inteiro.
Minha irmã mais velha governava.
Regrava.
Me dava uma fatia, tão fina, tão delgada…
E fatias iguais às outras manas.
E que ninguém pedisse mais!

E o bolo inteiro, quase intangível,
se guardava bem guardado,
com cuidado, num armário, alto, fechado,  impossível.
Era aquilo, uma coisa de respeito.

Não pra ser comido
assim, sem mais nem menos.
Destinava-se às visitas da noite,
certas ou imprevistas.

Detestadas da meninada.
Criança, no meu tempo de criança,
não valia mesmo nada.
A gente grande da casa usava e abusava
de pretensos direitos de educação.

Por dá-cá-aquela-palha, ralhos e beliscão.
Palmatória e chineladas não faltavam.
Quando não, sentada no canto de castigo
fazendo trancinhas, amarrando abrolhos.

“Tomando propósito”.
Expressão muito corrente e pedagógica.
Aquela gente antiga, passadiça, era assim:
severa, ralhadeira.

Não poupava as crianças.
Mas, as visitas…
– Valha-me Deus! …
As visitas… Como eram queridas,
recebidas, estimadas, conceituadas, agradadas!
Eu fazia força de ficar acordada
esperando a descida certa do bolo
encerrado no armário alto.

E quando este aparecia,
vencida pelo sono já dormia.
E sonhava com o imenso armário
cheio de grandes bolos ao meu alcance.
De manhã cedo quando acordava,
estremunhada, com a boca amarga,
– ai de mim – via com tristeza,
sobre a mesa: xícaras sujas de café,
O prato vazio, onde esteve o bolo, e um cheiro enjoado de rapé.

Cora Coralina

Entendendo o poema:
01 – Leia os verbetes:
·        Texto: tampa de vasilha.
·  Borralho: conjunto de brasas acessas cobertas de cinza; cinzas quentes; lar, lareira.

Com base nos significados das palavras e no conteúdo da 1ª estrofe, explique como era assado o bolo antigamente na casa do eu lírico do poema.
      Assado em panela tampada, numa braseira.

02 – A hora em que o bolo era servido parecia um cerimonial. Por quê?
      Porque o bolo era servido para as visitas.

03 – Leia o trecho a seguir:
        “Era um bolo econômico,
         como tudo, antigamente.
         Pesado, grosso, pastoso.
         (Por sinal que muito ruim.)”

a)   Explique o significado do pronome indefinido nos versos acima.
Grande parte das coisas era econômica.

b)   Pode-se afirmar que hoje é diferente? Justifique sua resposta.
Sim. Hoje há mais fartura e recursos econômicos se compararmos com tempos remotos.

c)   Que faro narrado no poema se opõe ao último verso dessa estrofe: “Por sinal muito ruim”?
O bolo parecia muito “tão bom e tão gostoso”.

04 – Qual o significado do verbo “regrar” no texto?
      Dividia com cuidado, de maneira econômica.

05 – Que verbo está subtendido no verso: “E fatias iguais às outras manas”?
      O verbo “eram”.

06 – Aponte os versos do poema em que a vontade de comer o bolo toma a menina plenamente:
(X) “Abria os olhos para aquele bolo / que me parecia tão bom / e tão gostoso”.
(   ) “Com atenção. Seriamente. / Eu presente”.
(X) “Era só olhos e boca e desejo / daquele bolo inteiro”.
(   ) “E o bolo inteiro / quase inatingível”.
(   ) “Era aquilo uma coisa de respeito / Não pra ser comido”.

07 – Que tipo de sujeito apresenta a oração: “Era só olhos e boca e desejo / daquele bolo inteiro”.
      Sujeito desinencial.

08 – Nos versos: “Por dá-cá-aquela-palha / alhos e beliscão”. Dê um sinônimo para a palavra destacada.
      Chicote.

09 – A menina, quando estava de castigo, permanecia sentada num canto amarrando abrolhos.
·   Abrolho: planta rasteira e espinhosa; O espinho dessa planta; Escolhos; Dificuldades, contrariedades.
a)   Sublinhe no verbete o melhor significado para a palavra.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Ficava de castigo pensando nas dificuldades, refletindo.

b)   Explique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.



2 comentários:

  1. Bom dia .
    Uma dúvida A expressão tomando propósito podia ser substituída por qual outro sinônimo na frase.
    Obrigado desde já

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