quarta-feira, 12 de junho de 2019

MENSAGEM ESPÍRITA: O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC - MATERIALISMO - PARA REFLEXÃO


Mensagens Espírita: O livro dos Espíritos

ALLAN KARDEC – Tradução Matheus R. Camargo
Perguntas e respostas
                      Livro Segundo
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
                       Capítulo II
        ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS

MATERIALISMO
147 – Por que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral aqueles que se aprofundam nas ciências naturais são tão frequentemente levados ao materialismo?
      -- O fisiologista relaciona tudo àquilo que vê. Orgulho de homens que julgam tudo saber, não admitindo que algo possa ultrapassar o seu entendimento. Seu próprio conhecimento lhes dá essa presunção; pensam que a Natureza não lhes pode ter ocultado nada.

148 – Não é lamentável que o materialismo seja uma consequência de estudos que deveriam, ao contrário, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa o mundo? Deve-se concluir que eles são perigosos?
      -- Não é verdade que o materialismo seja uma consequência desses estudos; é o homem que deles tira uma falsa consequência, pois pode fazer mau uso de tudo, mesmo das melhores coisas. O nada, aliás, assusta-os mais do que eles querem demonstrar, e os espíritos fortes são, muitas vezes, mais fanfarrões do que valentes. A maior parte deles só é materialista por não ter nada que preencha este vazio experimentado ante o abismo que se abre à sua frente. Mostrai-lhes uma tábua de salvação, e eles se agarrarão prontamente a ela.
      Por uma aberração da inteligência, há pessoas que só veem nos seres orgânicos a ação da matéria, atribuindo a ela todos os nossos atos. Veem, no corpo humano, somente a máquina elétrica. Limitaram o estudo do mecanismo da vida ao funcionamento dos órgãos; viram a vida extinguir-se pela ruptura de um fio, e não perceberam nada além desse fio. Procuraram descobrir se restava algo, e como só encontraram a matéria inerte, não viram a alma escapar e nem puderam apanhá-la, concluíram que tudo estava nas propriedades da matéria e que, assim, após a morte há penas a aniquilação do pensamento. Triste consequência, se assim fosse, pois então não haveria finalidade para o bem e o mal, o homem estaria certo em pensar apenas em si mesmo e em colocar a satisfação de seus prazeres materiais acima de tudo; os laços sociais seriam rompidos e os afetos mais puros irreversivelmente destruídos. Felizmente, essas ideias estão longe de ser generalizadas; pode-se até dizer que elas são muito circunscritas e que constituem apenas opiniões individuais, pois em parte alguma foram transformadas em doutrina. Uma sociedade fundada sobre essas bases traria em si o germe de sua dissolução, e seus membros iriam dilacerar-se mutuamente como animais ferozes.
      O homem tem, instintivamente, a convicção de que, para ele, nem tudo termina com a vida; tem horror ao nada. Em vão se esforça para resistir à ideia da vida futura, quando chega o momento supremo; poucos são os que não se perguntam o que vai ser de si, pois a ideia de deixar sem retorno tem algo de desolador. Quem realmente poderia encarar com indiferença uma separação absoluta e eterna de tudo o que amou? Quem suportaria, sem terror, ver abrir-se diante de si o imenso abismo do nada, onde seriam tragadas todas as nossas faculdades, todas as nossas esperanças, e dizer: “O quê! Depois de mim, nada, mais nada, a não ser o vazio; tudo está irreversivelmente acabado; mais alguns dias e minha lembrança será apagada da memória dos que sobreviveram a mim; em breve não restará nenhum traço de minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido pelos ingratos a quem ajudei. E não há para compensar tudo isso, nenhuma outra perspectiva, a não ser a do meu corpo devorado pelos vermes!”
      Esse quadro não tem algo de tenebroso, de glacial? A religião nos ensina que não pode ser assim e a razão nos confirma isso. No entanto, essa existência futura, vaga e indefinida, não tem nada que satisfaça nosso amor pela positividade; e é isso que, em muitos, engendra a dúvida. Temos uma alma, que seja; mas o que é a nossa alma? Ela tem uma forma, uma aparência qualquer? É um ser limitado ou indefinido? Uns dizem que é um sopro de Deus; outros, que é uma centelha, outros, uma parte do Grande Todo, o princípio da vida e da inteligência. Mas o que tudo isso nos ensina? De que nos vale ter uma alma se, extinguindo-se nossa vida, ela se perde na imensidão como as gotas d’água no Oceano? A perda de nossa individualidade não equivale, para nós, ao nada? Diz-se ainda que a alma é imaterial; mas uma coisa imaterial não poderia ter proporções definidas; e, para nós, isso não é nada. A religião também nos ensina que seremos felizes ou infelizes, conforme o bem ou o mal que tivermos feito. Mas que bem-aventurança é esta que nos aguarda no seio de Deus? É uma beatitude, uma contemplação eterna, sem outra finalidade senão cantar louvores ao Criador? As chamas do inferno são uma realidade ou uma figura? A própria Igreja entende o inferno nesse último sentido, mas que sofrimentos são esses? Onde fica esse lugar de suplício? Em resumo, o que se faz e o que se vê nesse mundo que espera por todos nós? Costuma-se dizer que ninguém retornou para nos prestar contas. Isto é um erro, e a missão do Espiritismo é precisamente esclarecer-nos sobre esse futuro, fazer-nos – até certo ponto – tocá-lo com os dedos e olhos, não mais através do raciocínio, mas pelos fatos. Graças às comunicações espíritas, isto não é mais uma presunção, uma probabilidade sobre a qual cada um aborda a seu modo, e que os poetas embelezam com suas ficções ou semeando imagens alegóricas que nos enganam.
É uma realidade que nos aparece, pois são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever sua situação, dizer-nos o que fazem, permitir-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias de sua nova vida. Dessa forma, mostram-nos o destino inevitável que nos é reservado, de acordo com nossos méritos e delitos. Há nisto algo de anti-religioso? Muito pelo contrário, pois os incrédulos aí encontram a fé, e os indecisos um meio de renovar o fervor e a confiança. O Espiritismo é, portanto, o mais poderosos aliado da a religião. E, se é assim, é porque Deus o permite, e Ele o permite com o intuito de reanimar nossas esperanças vacilantes e de conduzir-nos de volta ao caminho do bem, pela perspectiva do futuro.

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