Crônica: Solidários
na porta
Vivemos a civilização do automóvel, mas
atrás do volante de um carro o homem se comporta como se ainda estivesse nas
cavernas. Antes da roda. Luta com seus semelhantes pelo espaço na rua como se
fosse o último mamute. Usando as mesmas táticas de intimidação, apenas
buzinando em vez de rosnar ou rosnando em vez de morder.
O trânsito em qualquer cidade do mundo
é uma metáfora para a vida competitiva que a gente leva, cada um dentro do seu
próprio pequeno mundo de metal tentando levar vantagem sobre o outro, ou pelo
menos tentando não se intimidar. E provando que não há nada menos civilizado
que a civilização.
Mas há uma exceção. Uma pequena clareira
de solidariedade na jângal. É a porta aberta. Quando o carro ao seu lado
emparelha com o seu e alguém põe a cabeça para fora, você se prepara para o
pior. Prepara a resposta. “É a sua!” Mas pode ter uma surpresa.
– Porta
aberta.
– O quê?
Você custa a acreditar que nem você nem
ninguém da sua família está sendo xingado. Mas não, o inimigo está sinceramente
preocupado com a possibilidade da porta se abrir e você cair do carro. A porta
aberta determina uma espécie de trégua tácita. Todos a apontam. Vão atrás,
buzinando freneticamente, se por acaso você não ouviu o primeiro aviso. “Olha a
porta aberta!” É como um código de honra, um intervalo nas hostilidades. Se a
porta se abrir e você cair mesmo na rua, aí passam por cima. Mas avisaram.
Quer dizer,
ainda não voltamos ao estado animal.
Luís Fernando Veríssimo. In: O suicida
e o computador.
Porto Alegre:
L&PM, 1992
Entendendo a crônica:
01 – A crônica de Luiz
Fernando Veríssimo baseia-se em que fato do cotidiano?
a) No trânsito, as pessoas tornam-se agressivas.
b) No trânsito, as pessoas tornam-se hospitaleiras.
c) A cada dia que
passa, a máquina é mais valorizada que o homem.
d) O trânsito das grandes cidades é complicado.
e) O automóvel foi a grande descoberta da civilização.
02 – “Vivemos a civilização
do automóvel, mas atrás do volante de um carro o homem se comporta como se
ainda estivesse nas cavernas. “Antes
da roda.” O trecho grifado tem o seguinte sentido:
a) Mostrar a selvageria da pessoa que dirige um carro.
b) Mostrar que a roda foi uma importante descoberta do
homem.
c) Informar ao
leitor que o texto vai estabelecer um paralelo, em caráter científico, entre o
homem de hoje e o da Idade da Pedra.
d) Mostrar que muitas descobertas irão ainda acontecer.
e) Existem duas alternativas corretas.
03 – “... cada um dentro do
seu próprio pequeno mundo de metal tentando levar vantagem sobre o outro...” O
trecho destacado aponta a seguinte reflexão:
a) O homem usa o seu próximo como “degrau” para
subir na vida.
b) O homem do século XXI é altamente materialista.
c) Nos dias atuais é grande
o sentimento de competitividade e individualismo.
d) A ideia de civilização é reforçada.
e) É preciso disputar o “seu” espaço no mundo, custe o que
custar.
04 – O título desta crônica refere-se à(ao):
a) Trânsito caótico das cidades grandes.
b) Solidariedade constante no trânsito.
c) Disciplina exigida, de acordo com o novo código de
trânsito.
d) Porta de esperança que
temos na mudança do comportamento humano.
e) Estranha atitude do homem
em demonstrar solidariedade a respeito de um simples fato aparentemente.
05 – “Vivemos a civilização
do automóvel, mas atrás do
volante de um carro o homem se comporta como se ainda estivesse nas cavernas.”
A opção em que, apesar da alteração, o sentido do trecho não foi mudado é:
a) Vivemos a
civilização do automóvel, porém atrás do volante de um carro o homem se
comporta como se ainda estivesse nas cavernas.
b) Vivemos a civilização do automóvel, ainda
que atrás do volante de um carro o homem se comporta como se ainda estivesse
nas cavernas.
c) Vivemos a civilização do
automóvel, portanto atrás do volante de um carro o homem se comporta como se
ainda estivesse nas cavernas.
d) Vivemos a civilização do
automóvel, mesmo que atrás do volante de um carro o homem se comporta como se
ainda estivesse nas cavernas.
e) Vivemos a civilização do
automóvel, porque atrás do volante de um carro o homem se comporta como se
ainda estivesse nas cavernas.
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