Pedro Bandeira
Era um problema dos grandes. A
turminha reuniu-se para discuti-lo e Xexéu voltou para casa preocupado. Por
mais que pensasse, não atinava com uma solução. Afinal, o que poderia ele fazer
para resolver aquilo? Era apenas um menino!
Xexéu decidiu falar com o pai e
explicar direitinho o que estava acontecendo. O pai ouviu calado, muito sério,
compreendendo a gravidade da questão. Depois que o garoto saiu da sala, o pai
pensou um longo tempo. Era mesmo preciso enfrentar o problema. Não estava em
suas mãos, porém, resolver um caso tão difícil.
Procurou o guarda do quarteirão, um
sujeito muito amigo que já era conhecido de todos e costumava sempre dar uma
paradinha para aceitar um cafezinho oferecido por algum dos moradores.
O guarda ouviu com a maior das
atenções. Correu depois para a delegacia e expôs ao delegado tudo o que estava
acontecendo.
O delegado balançou a cabeça,
concordando. Sim, alguma coisa precisava ser feita, e logo! Na mesma hora, o
delegado passou a mão no telefone e ligou para um vereador, que costumava
sensibilizar-se com os problemas da comunidade.
Do outro lado da linha, o vereador
ouviu sem interromper um só instante. Foi para a prefeitura e pediu uma
audiência ao prefeito. Contou tudo, tintim por tintim. O prefeito ouviu todos
os tintins e foi procurar um deputado estadual do mesmo partido para contar o
que havia.
O deputado estadual não era desses
políticos que só se lembram dos problemas da comunidade na hora de pedir votos.
Ligou para um deputado federal, pedindo uma providência urgente. O deputado
federal ligou para o governador do estado, que interrompeu uma conferência para
ouvi-lo.
O problema era mesmo grave, e o
governador voou até Brasília para pedir uma audiência ao ministro.
O ministro ouviu tudinho e, como já
tinha reunião marcada com o presidente, aproveitou e relatou-lhe o problema.
O presidente compreendeu a gravidade da
situação e convocou uma reunião ministerial. O assunto foi debatido e, depois
de ouvir todos os argumentos, o presidente baixou um decreto para resolver a
questão de uma vez por todas.
Aliviado, o ministro procurou o
governador e contou-lhe a solução. O governador então ligou para o deputado
federal, que ficou muito satisfeito. Falou com o deputado estadual, que, na
mesma hora, contou tudo para o prefeito. O prefeito mandou chamar o vereador e
mostrou-lhe que a solução já tinha sido encontrada.
O vereador foi até a delegacia e disse
a providência ao delegado. O delegado, contente com aquilo, chamou o guarda e
expôs a solução do problema. O guarda, na mesma hora, voltou para a casa do pai
do Xexéu e, depois de aceitar um café, relatou- lhe satisfeito que o problema
estava resolvido.
O pai do Xexéu ficou alegríssimo e
chamou o filho.
Depois de ouvir tudo, o menino
arregalou os olhos:
– Aquele problema? Ora, papai, a gente
já resolveu há muito tempo!
Pedro
Bandeira
Entendendo o conto:
01 – “(...) Afinal, o que
poderia ele fazer para resolver aquilo? Era apenas um menino!” Apesar de pensar
assim no início, ao final do conto Xexéu e sua turma conseguem resolver o
“grande problema”. A atitude das crianças se diferencia da atitude dos adultos
diante esse problema. Segundo o conto nos relata, como os adultos agem para
resolver o problema?
a)
Os adultos agem de maneira irracional,
apaixonada. Ao invés de proporem uma solução ao problema, pela sua forma
irrefletida de agir, eles acabam complicando ainda mais toda situação.
b)
Os adultos acreditam na rígida
hierarquia social, que subordinada uma autoridade a outra, e esperam que, ao
delegar o problema para pessoas de maior autoridade, esse seria um bom caminho
para resolvê-lo.
c)
Os adultos não confiam nas crianças para
resolverem seus próprios problemas, e por isso as obrigam a esperar que elas
cresçam e adquiram uma outra uma visão sobre como encarar as dificuldades da
vida.
d)
Devido à sua grande experiência, os adultos
acreditam que o melhor caminho para resolver problemas é se apoiarem no
conhecimento da comunidade e da tradição, e se esse caminho funcionou muitas
vezes então deve funcionar todas as vezes.
02 – “Aliviado, o ministro
procurou o governador e contou-lhe a solução. O governador então ligou para o
deputado federal, que ficou muito satisfeito. Falou com o deputado estadual,
que, na mesma hora, contou tudo para o prefeito. O prefeito mandou chamar o
vereador e mostrou-lhe que a solução já tinha sido encontrada. (...)” O conto
de Pedro Bandeira é escrito a partir de uma estrutura que vai se repetindo, de
uma maneira lúdica e interessante, que nos prende até o final da história. Se
fôssemos caracterizar essa estrutura do conto com uma imagem,
uma metáfora, qual poderia ser essa imagem?
a)
Poderia
ser um labirinto. Pois parece que, quando uma pessoa relata o problema
para outra, esta relata para outras pessoas mais, como se um caminho fosse se
desdobrando em outros novos caminhos, de maneira cada vez mais complexa.
b)
Poderia ser uma corrida. Pois, para
o resolver o problema da maneira mais rápida possível, todas as pessoas
envolvidas se valem de todos os meios à sua disposição. É uma forma de
competição. Quem conseguir resolver o problema com mais rapidez é o
vencedor.
c)
Poderia ser a brincadeira de telefone
sem fio. Pois, quando uma pessoa relata o problema para outra pessoa, esta
compreende de maneira imperfeita, e passa a mensagem para uma outra pessoa que
também entende imperfeitamente, e assim por diante, até que no final a mensagem
inicial já foi completamente distorcida e o problema não precisa mais ser
resolvido.
d)
Poderia ser uma escada. Pois o
problema é relatado de uma autoridade a outra, seguindo a estrutura da hierarquia
estatal. E assim como o relato do problema sobe por essa estrutura, ao final,
quando a solução é encontrada, ela também precisa descer.
03 – “(...) Aquele problema?
Ora, papai, a gente já resolveu há muito tempo!” A fala de Xexéu ao final do
conto revela que a solução para o “grande problema” não precisava acontecer do
modo como os adultos encontraram a solução. Segundo o conto, por que o modo dos
adultos de resolver o problema parece inadequado?
a)
Porque os adultos, devido a suas
responsabilidades no trabalho, possuem pouco tempo para resolver o “grande
problema” que Xexéu lhes apresenta. A crianças se viram melhor quando agem
sozinhas.
b)
Porque os adultos não compreendem o que as
crianças dizem para eles. Portanto, quando as crianças relatam seus problemas
para os adultos, estes compreendem outra coisa, e não podem ajudá-las.
c)
Porque o caminho que os adultos
tomaram para resolver o problema é complicado e demorado. É possível que aquele
problema específico não precisava seguir todo esse caminho para ser
resolvido.
d)
Porque o “grande problema”, assim como todos
os problemas fundamentais da vida, tem sua solução numa forma de agir simples e
descomplicada. As crianças, por estarem mais próximas da simplicidade, são as
que conseguem melhor resolver problemas.
04 – O conto de Pedro
Bandeira, ao mesmo tempo em que apresenta um enredo coerente e bem humorado,
permite diversas camadas de interpretações, que descortinam alguns de seus
elementos. Entre as interpretações abaixo, qual delas é incorreta,
e não pode ser feita acerca do conto de Pedro Bandeira?
a)
As autoridades só se comunicam com seus
subordinados e superiores imediatos, de modo que, até percorrer toda a cadeia
hierárquica entre as autoridades, o problema apresentado por Xexéu e sua turma
demora muito para encontrar uma solução.
b)
Os adultos, que representam a obediência a
regras e a ordens hierárquicas, estão de certa forma limitados por essa
obediência. As crianças, por outro lado, por estarem relativamente livres de
obedecer a regras e hierarquias, podem dispor de criatividade e astúcia para
resolver seus problemas.
c)
O governo é incapaz de resolver os
problemas da população, pois, até que a voz do povo chegue aos governantes que
podem fazer algo, os problemas já foram resolvidos pela própria população e já
deixaram de existir.
d)
Por não sabermos que problema é esse proposto
por Xexéu e sua turma, torna-se mais extraordinário o fato de que eles tenham
resolvido esse problema sozinhos e antes de todas as autoridades.
05 – Qual é a tipologia
predominante no conto:
(X) Narrativa.
( ) Argumentativa.
( ) Descritiva.
06 – Em relação ao discurso
das personagens. Presença de discurso:
( ) Direto.
(X) Indireto.
07 – Dentro deste tipo
textual (conto) há que narrador?
(X) Narrador-personagem.
( ) Narrador-observador.
( ) Narrador-onisciente.
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