domingo, 2 de junho de 2019

SONETO: CAMINHO - CAMILO PESSANHA - COM QUESTÕES GABARITADAS


Soneto: CAMINHO


Tenho sonhos cruéis; n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.

Porque a dor, esta falta d’ harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora.

                Camilo Pessanha. Biblioteca Ulisséia de Autores Portugueses, p. 37.

Entendendo a poesia:
01 – Os movimentos poéticos parnasiano e simbolista diferem em diversos aspectos. Porém, a partir do texto acima, percebemos que ambos apresentam semelhança quando:

a) Exaltam o caráter subjetivo da poesia.
b) Apresentam uma predileção pela forma do soneto.
c) Expressam o pessimismo e a dor do poeta pela existência.
d) Retomam elementos da tradição romântica.
e) Privilegiam o misticismo e a religiosidade.

02 – O caráter lírico da poesia lido advém sobretudo da exposição dos sentimentos do eu lírico. Observe algumas das imagens do poema: “sonhos cruéis”, “alma doente”, “medo”, “saudades do presente”, “véu escuro”, etc. Como se sente o eu lírico diante da vida e do mundo?
      Nota-se que o “eu lírico” não se separa da saudade por estar agarrado ao presente, e o poeta, de alma doente, viaja ao futuro por um caminho cheio de arestas.

03 – O tempo predominante na poesia é o presente, como se verifica pelas formas verbais “tenho”, “sinto”, “vou”, “alumia” e outras. No entanto, na primeira estrofe, o eu lírico faz uma projeção para o futuro, nestes versos:
          “Vou a medo na aresta do futuro,
          Embebido em saudades do presente...”

a)   Que contradição reside nas “saudades” sentidas pelo eu lírico?
O fato de, no futuro, ele sentir saudades do presente, ou seja, saudades da dor que o oprime.

b)   Logo, o futuro representa uma perspectiva para o eu lírico?
Não, no futuro ele vai sentir saudades do presente, e no presente não consegue eliminar a dor que sente no peito. Assim, o eu lírico é um ser deslocado e sem perspectiva.

04 – A dor, a angústia e o sofrimento são elementos constantes na poesia de Camilo Pessanha. Não se trata, contudo, de uma dor de natureza amorosa.
a)   Qual é a natureza da dor vivida pelo eu lírico?
A dor de existir.

b)   De acordo com as ideias da poesia, que interpretação pode ser dada ao verso “Sem ela (a dor) o coração é quase nada”?
A dor é a essência do coração humano, logo, para o eu lírico a vida resume num jogo, cujo objetivo é expulsar a dor do peito, sendo porém ela a própria razão desse jogo.

05 – A poesia de Camilo Pessanha é valorizada pela riqueza sonora e musical e pela originalidade de suas imagens. Tais qualidades podem ser encontradas também na poesia “Caminho”? Justifique.
      Destacam-se as aliterações, com fonemas oclusivos na segunda estrofe (fonemas /d/ e /k/), e imagens ricas como “Vou a medo na aresta do futuro”, ao desmaiar sobre o poente / Cobrir-me o coração dum véu escuro!", entre” outros.


Nenhum comentário:

Postar um comentário