Fábula: De um Quati
chamado Chico
Este texto faz parte de um projeto de
livro que está sendo executado em parceria com DIMER J. WEBBER, denominado
provisoriamente MITOLOGIA CASCAVELENSE.
Cortando a região sul de Cascavel, há
um pequeno riacho batizado com o nome de Rio Quati. Não à toa, o nome foi dado
em homenagem ao simpático e atrevido mamífero da família dos procionídeos, que
até hoje habita as imediações.
Os quatis de Cascavel são, portanto, a
maior prova de que é possível conciliar o desenvolvimento econômico com a
preservação do meio ambiente. Além disso, mostram que é possível ao homem conviver
em harmonia com a natureza. Vejamos a história real do Chico, um quati muito
esperto.
Nas proximidades do atual aeroporto de
Cascavel, por onde passa o Rio Quati, há várias chácaras e sítios com reservas
de florestas nativas, onde os referidos bichos fazem, até hoje, seus
costumeiros passeios em busca de alimentação e também de lazer. Num desses
sítios, uma lotada de uns trinta quatis aparecia com bastante frequência,
intrigando o caseiro.
Chico era um quatizinho muito simpático
nascido a uns dez quilômetros ao norte da região do aeroporto, na mesma época
em que também vieram à luz, naquela morada, outros quatizinhos de ambos os
sexos. Tão logo iniciou suas primeiras atividades independentes, mas ainda
muito jovem para se defender das emboscadas impostas pela vida e pelos caminhos
por onde andava, seus pais, como o são quase todos, lhe orientavam dizendo na
linguagem quatinês:
– Cuidado com essas escapadas! Escolha
bem as suas companhias! Veja bem com quem você anda! Não vá se meter em
encrencas! E Chico, já se achando maduro o suficiente, respondia:
– Não se preocupem. Sei o que estou
fazendo! Posso me cuidar sozinho.
Além de seus pais, havia também a
Chica, uma quatizinha da mesma idade que gostava muito dele e tentava mantê-lo
o mais próximo possível, sob sua guarda e proteção, como fazem as mães, as
esposas, as namoradas, etc. Mas Chico, se sentindo diferente de todos, meio
intransigente, meio contestador, meio dono do próprio nariz alongado, apesar de
sentir certa paixão por Chica, teimava fazer tudo do jeito que sua adolescência
prescrevia.
Saía sem pedir permissão. Demorava
voltar para casa. Vivia intensamente a sua liberdade. Nada era capaz de
detê-lo, até que numa incursão feita pelo grupo ao sítio daquele caseiro
incomodado, Chico acabou sendo preso em uma armadilha previamente arrumada para
ele.
No começo ele sentiu-se privado de sua
tão preciosa liberdade. Imaginou que seus companheiros viessem lhe salvar, mas
demorariam muito tempo a voltar. Com o curso dos dias ele foi se ambientando e
passou a apreciar a comida diferente que o caseiro lhe servia. Acabou viciado,
de modo que se sentia muito bem quando vinham lhe oferecer a comida caseira.
Perdeu o contato com seus companheiros de passeio, mas a sua docilidade foi se
tornando tão clara que conquistou a liberdade.
Durante alguns meses Chico ficou por
ali, ao redor da casa, convivendo com o caseiro e sua família, como se fosse um
cão. O jovem quati estava totalmente domesticado e parecia ter esquecido para
sempre suas origens, até que um belo dia, o grupo de quatis que o havia
extraviado meses antes, resolveu aparecer na propriedade.
O caseiro pensou que, devido ao fato de
Chico ter se acostumado com a nova vida, jamais ousaria voltar para o seu
bando. Contudo, o quatizinho se mostrou hesitante. Volvia seus olhos brilhantes
entre a lotada e o caseiro, demonstrando o cruel dilema entre ficar ou partir.
E o instinto ou a natureza do bichinho sopesou no último momento. Quando o grupo
já se deslocava visando partir, Chico saiu correndo visando alcançá-lo. E se
foi com os seus entes como quem se vai para nunca mais voltar!
O sentimento do caseiro e de sua
família foi qual a perda de um ente próximo e querido. Ele que era acostumado a
sacrificar alguns animais silvestres para servir de alimentação, prometeu que
jamais imolaria qualquer outro ser vivo.
Contudo, em torno de um mês mais tarde,
Chico voltou sozinho. Quando avistado ao longe, se mostrava trôpego, triste,
cansado, enfim todo estropiado. Chegou-se à conclusão de que seu reingresso no
grupo fora recusado, e de que, por conta de sua insistência, tivera recebido
como reprimenda uma série de violência física advinda de seus próprios pares.
O caseiro o abrigou mais uma vez, como
quem recebe o filho pródigo. Deu-lhe carinho, alimento e tratamento. Contudo,
alguns dias mais tarde, o grupo de quatis fez nova incursão naquele sítio e
Chico de maneira irreprimível decidiu acompanhá-lo em nova tentativa de
regresso.
Nessas alturas da história, Chico já
era um quati adulto e com a experiência de perambular sozinho pelas margens do
Rio Quati. Presume-se que ele tenha sido aceito de volta ao seu habitat devido
a sua persistência, à sua capacidade de superar desafios, e ao conhecimento que
adquirira no relacionamento com o ser humano. O que se sabe, com certeza, é que
Chico retornara muitas vezes ao sítio, tal qual um parente que vem nos visitar
de vez em quando, inicialmente em companhia da amada Chica, e depois, além
dela, trazia consigo alguns quatizinhos que pareciam ser seus filhotes.
Moral
da história: A desobediência do jovem é natural, assim como é natural a
qualquer ser vivo aprender as lições que a vida ensina.
Entendendo a fábula:
01 – Quais são os
personagens dessa fábula?
Chico, o caseiro, Chica e o grupo de
quatis.
02 – Todas as ações da
fábula se passam no mesmo dia? Explique.
Não, pois o Chico
teve no sítio em vários momentos de sua vida.
03 – Que outro título você daria
à fábula?
Resposta pessoal do aluno.
04 – Numa fábula há sempre
uma crítica a determinado tipo de comportamento que se deveria evitar. Nessa
fábula a crítica refere-se a que tipo de atitude?
Refere-se as
atitudes de Chico que se sentia diferente de todos, meio intransigente, meio
contestador, meio dono de seu próprio nariz.
05 – A moral desta fábula
apresenta uma reflexão sobre o comportamento humano. Você acredita que existam
pessoas que agem assim? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal
do aluno.
06 – Você seria capaz de
lembrar de alguma situação da vida real onde o contexto da fábula se aplicaria?
Resposta pessoal
do aluno.
07 – Qual o desfecho
(situação final) da fábula?
O Chico foi
aceito de volta ao seu habitat, devido sua persistência e a capacidade de
superar desafios, mas sempre voltava ao sítio, da qual um parente que vem
visitar de vez enquanto, acompanhado de Chica e seus quatizinhos.
Lindo esse texto , amei
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