Poema: OVNI
Ferreira GullarSou uma coisa entre coisas.
O espelho me reflete
Eu (meus
Olhos)
Reflito o espelho.
Se me afasto um passo
O espelho me esquece:
— Reflete a parede
A janela aberta
Eu guardo o espelho
O espelho não me guarda
(Eu guardo o espelho
A janela a parede rosa
Eu guardo a mim mesmo
Refletido nele):
Sou possivelmente
Uma coisa onde o tempo
Deu defeito.
Ferreira
Gullar. Sou uma coisa entre coisas. In: Vera Aguiar (Org.) Poesia fora da
estante. Porto Alegre: Projeto, 2002. v. 2.
Entendendo o poema:
01 – Como é possível
interpretar a afirmação do eu lírico na última estrofe: “Sou possivelmente /
Uma coisa onde o tempo / Deu defeito”?
O eu lírico guarda para si, em suas lembranças,
tudo o que viveu: o tempo não foi capaz de apagar suas lembranças. Por isso,
afirma que, com ele, o tempo deu defeito.
02 – De que outro modo
poderia ocorrer a colocação pronominal no verso “O espelho me reflete”? Por que
no texto foi utilizada essa posição do pronome em relação ao verbo?
O espelho
reflete-me. Por que, no Brasil, a próclise é mais frequente do que a ênclise.
03 – Nos versos “Eu guardo a
mim mesmo / Refletido nele”, foi empregado o pronome oblíquo tônico: mim. Se, em vez de pronome
oblíquo tônico, tivesse sido empregado pronome oblíquo átono, como ficariam
esses versos?
Eu me guardo /
refletido nele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário