quinta-feira, 13 de junho de 2019

TEXTO: A PALAVRA - PABLO NERUDA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: A Palavra
              
              Pablo Neruda

        ...Tudo o que você quiser, sim senhor, mas são as palavras que cantam, que sobem e descem... Prosterno-me diante delas... Amo--as, abraço-as, persigo-as, mordo-as, derreto-as... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que glutonamente se amontoam, se espreitam, até que de súbito caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras de cores, saltam como irisados peixes, são espuma, fio, metal, orvalho... Persigo algumas palavras... São tão belas que quero pô-las a todas no meu poema... Agarro-as em voo, quando andam a adejar, e caço-as, limpo-as, descasco-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então revolvo-as, agito-as, bebo-as, trago-as, trituro-as, alindo-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites no meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes das ondas... Tudo está na palavra... Uma ideia inteira altera-se porque uma palavra mudou de lugar, ou porque outra se sentou como um reizinho dentro de uma frase que não a esperava, nas que lhe obedeceu... Elas têm sombra, transparência, peso, penas, pelos, têm de tudo quanto se lhes foi agregando de tanto rolar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto serem raízes... São antiquíssimas e recentíssimas... Vivem no féretro escondido e na flor que desponta... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos torvos conquistadores... Andavam a passo largo pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, em busca de batatas, chouriços, feijões, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele voraz apetite que nunca mais se viu no mundo... Tudo engoliam, juntamente com as religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que traziam nas grandes bolsas... Por onde passavam ficava arrasada a terra... Mas aos bárbaros caíam das botas, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que ficaram aqui, resplandecentes... o idioma. Ficamos a perder... Ficamos a ganhar... Levaram o ouro e deixaram-nos o ouro... Levaram tudo e deixaram-nos tudo... Deixaram-nos as palavras. 
Pablo Neruda, in "Confesso que Vivi" 
Entendendo o texto:

01 – Esse texto foi escrito pelo chileno Pablo Neruda, personagem do texto lido em Lendo mais. Nele, o autor fala da colonização espanhola e de seu amor pela palavra. Qual a importância das palavras na vida dele?
      A palavra é o instrumento de trabalho. É por meio dela que ele exprime seus pensamentos e sentimentos. As palavras representam tudo para ele.

02 – Logo no início do texto, a palavra é apresentada de forma metafórica. Transcreva para o caderno um trecho em que isso ocorre.
      “Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho...”.

03 – Há várias passagens no texto em que está presente a linguagem figurada. Explique os significados de algumas dessas expressões:
a)   “Estes [os conquistadores torvos] andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras...”.
Os conquistadores dominaram rapidamente o território de montanhas muito elevadas.

b)   “Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas bolsas...”.
Destruíram a cultura local e as crenças que encontravam, as quais eram equivalentes às que traziam consigo.

c)   “Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma”.
Os conquistadores deixaram no local colonizado o seu idioma.

04 – A ação do colonizador é mostrada, no texto, sob seus aspectos negativo e positivo. Explique esses dois aspectos.
      Negativo: o colonizador levou a destruição.
      Positivo: o colonizador deixou as palavras, a língua espanhola.

05 – No trecho “Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras...”, a palavra “ouro” é usada duas vezes: uma em sentido próprio e outra em sentido figurado. Explique esses dois sentidos, mostrando o que foi levado pelos colonizadores e o que foi deixado por eles.
      Eles levaram as riquezas da terra, o ouro inclusive (sentido próprio) e deixaram algo de muito valor, o idioma, as palavras (sentido figurado).



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