Texto: COMUNICAÇÃO E
SOCIALIZAÇÃO
Lembre-se
o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, sua patota. A
comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe
transmitidos, pelo qual aprendeu a se “membro” de sua sociedade – de sua
família, de seu grupo de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que
adotou a sua “cultura”, isto é, os modos de pensamento e de ação, suas crenças
e valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por “instrução”, pelo menos
antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está
organizada a sociedade e o que pensa e sente a sua cultura. Isso aconteceu
indiretamente, pela experiência acumulada de numerosos pequenos eventos,
insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com diversas
pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que
“convinha”. Tudo isso foi possível graças à comunicação. Não foram os
professores na escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária
com pais, irmãos, amigos, na casa, na rua, nas lojas, no ônibus, no jogo, no
botequim, na igreja, que lhe transmitiu, menino, as qualidades essenciais da
sociedade e a natureza do ser social.
Contrariamente, então, ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais que os
meios de comunicação social. Esses meios são tão poderosos e importantes na
nossa vida atual, que às vezes esquecemos que representam apenas uma mínima
parte de nossa comunicação total.
Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer
realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia.
A quantidade de atos de comunicação é simplesmente inacreditável, desde o
“bom-dia” à sua mulher, acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura
do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho,
o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos
aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as
reuniões e entrevistas, a vista ao banco e as conversas com seu chefe, os
inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato no menu, a
conversa com os filhos no jantar, o programinha de televisão, o diálogo amoroso
com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio
dela: “boa-noite”.
A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta consciência
de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua
essencial importância quando, por um acidente ou uma doença, perdemos a
capacidade de nos comunicar. Pessoas que foram impedidas de se comunicar
durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura.
A comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social.
Díaz Bordenave, Juan E. O que é comunicação.
São Paulo, Nova Cultura/Brasiliense, 1986. p. 17-9.
Entendendo
o texto:
01 –
Releia atentamente o primeiro parágrafo e responda: Qual a relação entre
comunicação e cultura?
A cultura é adquirida por meio da comunicação, numa infindável sequência de
pequenos atos comunicativos cotidianos. Destacar que o texto lido com um conceito
de cultura amplo: A cultura é entendida como o conjunto dos hábitos, padrões e
valores de um grupo social.
02 – O
segundo parágrafo nos fala em “meios de comunicação social”. O que você sabe
sobre eles.
Essa expressão se relaciona com os meios de comunicação de massa, aos quais
normalmente se remete quando se pensa em comunicação.
03 – O
que pensa o autor sobre os meios de comunicação social?
O autor
deixa claro que os meios de comunicação de massa, apesar de poderosos,
constituem apenas uma parte mínima da nossa comunicação.
04 – O
terceiro parágrafo é construído por enumeração: uma longa série de
atos de comunicação cotidianos nos é apresentada pelo autor. Como podemos
relacionar esses atos com os meios de comunicação social do parágrafo anterior?
Essa enumeração coloca em evidência aquilo que o autor havia declarado no
parágrafo anterior: note-se que, nessa lista bastante extensa, a maioria
absoluta dos atos de comunicação escapa do circuito dos meios de comunicação de
massa, realizando-se nos níveis mais pessoais do cotidiano.
05 – O
quarto parágrafo nos coloca uma conclusão sobre o assunto levantado e discutido
pelo texto. Qual a frase ou passagem que sintetiza essa conclusão?
“A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida”. Destacar o valor da
palavra assim nesse momento conclusivo do texto.
06 –
Relendo cuidadosamente as questões anteriores, é possível detectar o percurso
seguido pelo autor para atingir sua conclusão no quarto parágrafo. Comente esse
percurso.
O autor principia seu texto relacionando cultura e comunicação;
Alude aos
meios de comunicação social; mostra que a comunicação vai muito além desses
meios, sendo parte de cada pequeno ato cotidiano, e se encaminha assim para a
conclusão de que a comunicação se confunde com a própria vida, pois é uma
necessidade básica do ser humano. O aluno deve opinar sobre a eficiência
argumentativa desse percurso.
07 – O
último parágrafo sintetiza todo o conteúdo do texto. Reflita sobre o que ele
diz e responda: sua experiência de vida comprova essa afirmação? Por quê?
Incentivar o aluno a relacionar o conteúdo do texto estudado
com sua própria vivência. É importante que ele se habitue a justificar suas
posições.
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