sábado, 24 de março de 2018

CONTO: A ANÃ PRÉ-FABRICADA E SEU PAI, O AMBICIOSO MARRETADOR - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - COM GABARITO

CONTO– A ANÃ PRÉ-FABRICADA E SEU PAI, o ambicioso marretador
                 Ignácio de Loyola Brandão


    Era uma vez uma anã pré-fabricada. Tinha cinquenta centímetros de altura. Os pais eram pessoas normais. A anã era anã porque desde pequena o pai batia com a marreta na cabeça dela. Ele batia e dizia: “Diminua, filhinha”. O sonho do pai era ter uma filha que trabalhasse no circo. E se ele conseguisse uma anã, o circo aceitaria.
        Assim, a menina não cresceu. Tinha as pernas tortas, a cabeça plana como mesa, os olhos esbugalhados. Um globo, com as marretadas, chegara a sair. E deste modo o olho andava dependurado pelos nervos. Com o olho caído, a menina enxergava o chão – e enxergava bem. Por isso, nunca deu topadas.
        A menina diminuiu, entrou para a escola, se diplomou. E o pai esperando que o circo viesse para a cidade. A anã teve poucos namorados em sua vida. Os moços da cidade não gostavam de sua cabeça plana como mesa. Um dos namorados foi um mudo; o outro, um cego.
        Com o passar do tempo, o pai ia ensinando à filha anã os truques do circo: andar na corda bamba, atirar facas, equilibrar pratos na ponta de varas, equilibrar bolas, andar sobre roletes, fazer exercícios na barra, pular através de um arco de fogo, cair ao chão (fazendo graça) sem se machucar, ficar de pé no dorso de cavalos.
        De vez em quando, o pai emprestava a filha ao padre, por causa da quermesse. Ela substituía o coelho nos jogos de sorteio. Havia uma porção d casinhas dispostas em círculo. Cada casinha tinha um número. A um sinal do quermesseiro, a menina entrava na casinha. Quem tivesse aquele número ganhava a prenda. A anã não gostava de quermesse porque se cansava muito e também porque no dia seguinte ficava triste, com o pessoal que tinha perdido. Eles a seguiam pela rua, gritando: “Aí, baixinha..., por que não entrou no meu número?”.
        Um dia, o circo chegou à cidade, com lona colorida, um elefante inteirinho rosa, uma onça pintada, palhaços, cartazes e uma trapezista gorda que vivia caindo na rede. O pai mandou fazer para a anã um vestido de cetim vermelho, com cinto verde. Comprou um sapato preto e meias três-quartos. Levou a filha ao circo. Ela mostrou tudo que sabia, mas o diretor disse que faziam aquilo: andavam no arame, na corda bamba, equilibravam coisas, pulavam através de arcos de fogo, andavam no dorso de cavalos. Só havia uma vaga, mas esta ele não queria dar para a menina, porque estava achando a anã muito bonitinha. Mas o pai insistiu e a anã também. Ela estava cansada da vida da cidadezinha, onde o povo só via televisão o tempo inteiro. E o dono do circo disse que o lugar era dela: a anã seria comida pelo leão, porque andava uma falta de carne tremenda. E, assim, no dia seguinte, às seis horas, a menina tomou banho, passou perfume Royal Briar, jantou, colocou seu vestido vermelho, de cinto verde, uma rosa na cabeça e partiu contente para o emprego.

                        BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Os melhores contos. São Paulo:
                                                      Global, 1993. (Seleção de Deonísio da Silva).

Entendendo o texto:
01 – Os contos do Realismo Fantástico mesclam elementos reais e fatos absurdos ou inexplicáveis no mundo real. O que, no conto de Ignácio de Loyola Brandão, faz parte da realidade que conhecemos? O que pode ser considerado fato absurdo?
     A menina e o pai, o circo, a escola, a igreja, o leão de circo, etc. são elementos reconhecíveis no mundo real. O fato de o pai bater com a marreta na cabeça da filha para ela não crescer (e ela não cresce!) faz parte do fantástico.

02 – Observe que o conto é bastante visual, é possível imaginar, por exemplo, a aparência da anã.
     a) Que técnica permite que a imagem da anã se forme para o leitor?
      A descrição minuciosa.
     b) Que impressão causa a imagem da anã?
      Desconforto, a descrição é impactante.

03 – Note que o início do conto, “era uma vez uma anã pré-fabricada”, cria uma certa expectativa no leitor. A que remete a expressão “era uma vez”?
     Remete aos contos de fada, contos da carochinha.

04 – O final do conto cumpre a expectativa inicial? Explique.
     Não. O final dos contos de fadas são “finais felizes”, o que não ocorre no final desse conto. Professor, comente que a quebra de expectativa causa insatisfação, frustação no leitor.

05 – É possível que o conto fantástico constitua uma alegoria? Ao falar do pai que marreta a filha, pode-se estar dizendo outra coisa, defendendo-se uma ideia do mundo real. Que ideia pode ser essa? Levante algumas hipóteses.
     Resposta pessoal.



40 comentários:

  1. Quais metaforas esta escondida nesse conto?o que casa elemento simboliza
    O pai,a anã,a marreta,o circo e o Leão?

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  2. Respostas
    1. eu acho que narrador obiservador

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    2. O narrador onisciente(o que sabe de tudo,até dos sentimentos,pensamentos e etc.)

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  3. o conto esta ligado com a vida real

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  4. qual o tempo
    (⌐■_■)(☞゚ヮ゚)☞☜(゚ヮ゚☜)fusão

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  5. O conto de Inácio de Loyola Brandão mescla em sua construção elementos fantásticos a elementos da vida real. Quais deles podem ser considerados:

    Fantásticos? Ligados a vida real?

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    1. pode ser ligados a vida real por ter uma quebra de expectativas

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  6. Respostas
    1. Eu acho,mais não tenho certeza que o espaço é na cidade ou no circo,mas também é possível ser os dois.

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  7. Oq posso considerar fantástico e vida real?

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  8. quais metáforas podem estar escondidas neste conto?

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  9. Construa outro final porem bem fantástico ou seja um final impossivel

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