Texto: A SUCURI
Quando fui ao barracão para a quinzena, seu João Antônio ficou
satisfeito com a minha produção.
- Inverno está chegando! Vamos aproveitar o dia de sol pra uma caçada?
Concordei. Munimos as cartucheiras. Botamos o terçado no quarto e o rifle nas
costas; pulamos pra montaria e subimos o rio – remando os dois com talento – em
busca do furo que levava à bocaina do Igapó Água Preta.
--- Caboclos andam assustados... e seringueiros da
beira deixaram de pescar.
--- Por quê?
--- Coisa de cobra-grande.
--- O senhor acredita, seu João Antônio?
--- Por que não? No território de Guaporé foi morta a metralhadora uma sucuriju
de trinta metros de comprimentos.
--- Já ouvi falar.
--- E no lago Macuricana, no Alto Amazonas, no lago Grande do Sol,
no Distrito de Óbitos, também foram vistas cobras-grandes de mais de trinta
metros de tamanho!
--- Mas a maior parte desses casos são lendas. Conheço meia dúzia de
variedades de lendas da cobra-grande.
--- Ver, o senhor nunca viu?
--- Não vi não.
--- Pois ainda há de ver.
A montaria, a certa altura, bateu num grosso tronco de árvore, e quase vira e
alaga... Seu João Antônio mergulha, ágil, a mão no rio, para ver que tronco era
aquele – e o tronco se mexeu embaixo da montaria, lento pesado, indiferente.
Ele não teve dúvida: pulou na água e montou no tronco mole, frio e pegajoso,
que deslizava lerdo entre suas pernas. De repente, a sucuri alçou o lombo,
levantou a cabeça, procurou envolve-lo com a cauda. João Antônio tratou de
sacar o terçado, para defender-se, mas com os movimentos do bicho perdeu o
equilíbrio e caiu dentro da água.
A sucuri enrolou-se nele com força e lhe tolheu a ação dos braços. Homem frio,
que igual à força só tinha a coragem, seu João Antônio tentou dominar a cobra
com as pernas. A água não lhe permitia firmeza para a manobra. Vi o homem
morto, e a sucuri enrolada nele, apertando-o, como quem queria quebrar-lhe os
ossos.
Corri a bala na agulha do rifle – eu sempre tive boa pontaria – e atirei bem na
cabeça da cobra. Se errasse, matava seu João Antônio. Mas não errei: acertei no
olho da bicha. E foi como se eu não tivesse atirado: ela não deu confiança.
Dei-lhe mais cinco tiros. E, depois, para arrematar, remei para peto, e de
terçado, fustiguei-a com vontade, até ela soltar o homem.
Seu João Antônio, desvencilhando-se da cobra-grande, nadou tranquilamente para
a montaria como se nada tivesse sucedido com ele.
--- Se você não tivesse aqui, eu dava conta dela sozinho, disse ele. Já estava
com o terçado na mão esquerda pra corta-la pelo meio.
Rebocamos a sucuri para a beira do lago: tinha doze metros de comprimento!
Peregrino
Júnior. A Mata Submersa Outras
Histórias
da Amazônia. págs. 314-315.
Editora
José Olympio, Rio, 1960.
Entendendo o texto:
01 – Em
que lugar do Brasil aconteceu o episódio narrado no texto?
Na Amazônia.
02 – As
duas palavras que melhor caracterizam esse lugar são:
( )
Barracão.
( ) Rio.
(X) Seringueiro.
(X) Igapó. (
) Cabolo.
03 – O
personagem narrador da história é:
( ) João Antônio.
(X) O
companheiro de João Antônio.
( ) Peregrino Júnior.
04 – O
companheiro de João Antônio:
( ) Acreditava na cobra-grande.
( ) Não acreditava na existência da cobra-grande.
(X)
Duvidava se existia a cobra-grande.
05 – Que
“tronco de árvore” era aquele de que se fala na linha 25?
Era a
sucuri.
06 –
Assinale o que o narrador quis dizer com a frase:
“Vi o homem morto”
( ) Notei que João Antônio tinha morrido.
( ) O homem não se mexia mais,, parecia morto.
(X) Eu já o considerava morto, tão certo estava de que a cobra o mataria.
07 – Na
luta com a sucuri, João Antônio demonstrou ser um homem:
( ) Fraco e mole.
( ) Afobado e nervoso.
(X) Calmo, frio e corajoso.
( ) Desajeitado e desprevenido.
08 – Na
linha 41, os travessões foram usados para:
(X)
Isolar uma explicação estranha ao período, uma observação à parte.
( ) Indicar mudança de interlocutor, no diálogo.
( ) Indicar início da fala do personagem.
Obgda ❤️❤️
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