segunda-feira, 26 de março de 2018

POESIA: VIOLÕES QUE CHORAM... - CRUZ E SOUSA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

 Poesia: VIOLÕES QUE CHORAM...
            Cruz e Sousa

Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites de solidão, noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.


Sutis palpitações à luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

(...)

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos
São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Para onde vão, fatigadas do sonho,
Almas que se abismaram no mistério.

Sons perdidos, nostálgicos, secretos,
Finas, diluídas, vaporosas brumas,
Longo desolamento dos inquietos
Navios a vagar à flor de espumas.
                                                                     CRUZ E SOUSA

Entendendo a poesia:

01 – Descreva o trabalho lexical (de vocabulário) desenvolvido em Violões que choram...
      O trabalho lexical em Violões que choram... se irmana perfeitamente ao trabalho fonológico (de sons). Ambos vão provocando novas relações no campo dos significados (semântico).

02 – De que forma acontece o envolvimento poético no texto?
      O envolvimento poético neste poema acontece graças a uma bem-estruturada repetição de consoantes (aliteração), principalmente na estrofe antológica: “Vozes veladas, veludosas vozes”.

03 – Comente o trabalho sonoro no poema, isto é, as aliterações ocorridas.
      O trabalho sonoro, realizado com as consoantes VZ e I, transmite musicalidade por meio das palavras. É importante observar que o recurso das aliterações foi empregado em todo o poema, e a quantidade de substantivos usados no plural é bastante significativa, sugerindo os sons do violão na sibilante S.

04 – Os elementos sensoriais – sons, cores e odores – constituem estímulos para a imaginação do poeta simbolista, que, a partir deles, desenvolve associações de ideias bem particulares. Nesse texto, que elemento sensorial serve de partida para o poema?
      Os sons dos violões que o poeta escuta ao longe, durante a noite.

05 – Com que são comparados ou associados os sons dos violões?
      A “soluços ao luar”, “choros ao vento”, “gemidos, prantos”. Destacar o tom triste e melancólico dessa associações, que revelam o estado de espírito do poeta.

06 – Os sons dos violões despertam que recordações no eu lírico?
      Recordações de outras noites, “noites de além, remotas”. Destacar que os sons dos violões trazem à tona, para o poeta, todo um mundo de sensações indefiníveis, mas tristes, fazendo vibrar em sua alma dolências adormecidas, saudades esquecidas.

07 – Considere agora o aspecto sonoro dos versos. Que trabalho de linguagem se destaca no texto? Por quê?
      A aliteração, que percorre praticamente todas as estrofes. Chamamos a atenção, em particular, para as estrofes 1, 4, 6 e 7.

08 – Em resumo: que características tipicamente simbolistas estão presentes nesse texto?
      Forte musicalidade, intensão de sugerir e não de descrever, acentuado subjetivismo.


09 – A linguagem simbolista caracteriza-se por ser vaga, fluida, imprecisa. Por isso, emprega abundantemente substantivos abstratos e adjetivos. Destaque das duas primeiras estrofes do poema:
a)   Alguns substantivos e adjetivos responsáveis por essa fluidez;
“... violões dormentes, mornos”; “... vagos contornos”; “... noites remotas”; “... visões ignotas”.

b)   Alguns versos que conotem algo indefinido, vago.
“... soluços ao luar”; “nos azuis da Fantasia bordo”.

10 – Na linguagem realista, a adjetivação é empregada com a finalidade de compor um painel objetivo do objeto. Observe os adjetivos empregados no poema. Eles contribuem para formar um painel subjetivo ou objetivo da realidade.
      Subjetivo, pois como característica do Simbolismo as poesias tem sentido vago.

11 – Em vez de nomear ou explicar objetivamente, a linguagem simbolista procura sugerir.
a)   O que sugere a aliteração do fonema /v/ da 7ª estrofe?
Musicalidade.

b)   Com base na 1ª e na 5ª estrofes e no título do poema, indique que sentimentos ou estados d’alma sugerem, na visão do eu lírico, os sons do violão.
Tristeza, melancolia e nostalgia.

c)   Ao se atribuírem aos violões características como “dormentes”, “chorosos” e “tristonhos”, que figura de linguagem se verifica?
Personificação.

12 – Para os simbolistas, uma das formas de expressar as sensações interiores por meio da linguagem verbal é a aproximação ou o cruzamento de campos sensoriais diferentes, procedimento denominado sinestesia.
a)   Que campos sensoriais o poeta aproxima nas três estrofes iniciais?
“Doce como o oboé, verdes como a campina”.

b)   Destaque da 7ª estrofe um exemplo de sinestesia.
“Veludosas vozes”.




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