Texto: Conta de novo a história da noite em que eu nasci
Conta de novo a história da noite em
que eu nasci.
Conta de novo que vocês estavam
dormindo encaixadinhos feito duas colheres e como o pai roncava!
Conta de novo que o telefone tocou no
meio da noite e eles disseram que eu nasci.
Conta de novo como você começou a
gritar!
Conta de novo que você ligou logo para
a vovó e o vovô, mas eles não atenderam o telefone porque dormiam como uma
pedra.
Conta de novo que vocês foram me buscar de
avião, levando uma sacola de fraldas e mamadeiras, e que no avião só tinha
amendoim para comer e nem um filmezinho pra ver.
Conta de novo que você não podia ter um
neném na sua barriga e por isso eu saí da barriga de uma outra moça que não
podia cuidar de nenhuma criança. E eu vim para ser sua filhinha e vocês serem
meus pais.
Conta de novo que vocês chegaram de
mãos dadas ao hospital, morrendo de curiosidade de me conhecer.
Conta de novo a primeira vez que vocês
me viram pelo vidro do berçário: eu berrava de fome e vocês riam que nem bobos.
Conta de novo como eu era picurrucha e
perfeitinha.
Conta de novo a primeira vez em que
você me abraçou e me chamou de filhinha querida. Conta de novo que você chorou
de tanta felicidade!
Conta de novo como vocês me levaram
toda embrulhadinha pra casa e ficaram furiosos se alguém espirrasse perto de
mim.
Conta de novo como eu adorei a minha
primeira mamadeira.
Conta de novo como eu detestei trocar de
fralda.
Pai, conta de novo a primeira noite em
que você cuidou de mim e ficou me contando que o beisebol é um jogo que os
americanos adoram.
Mãe, conta de novo a primeira noite em
que você me ninou, cantando a mesma música que a vovó cantava pra você.
Contem de novo a história da nossa
família.
Mãe, pai, contem de novo a história da
noite em que eu nasci.
CURTIS, Jamie-Lee. Conta de novo a história da
noite em que eu nasci.
São Paulo: Salamandra,
1998.
Entendendo o texto:
01 – Você gostou ou não da
história? Justifique sua opinião.
Resposta pessoal.
De todo modo, procure entender por que gostou ou não gostou: sua opinião foi
formada pelo assunto, pela estrutura repetitiva?
02 – O pedido “Conta de
novo”, repetido a cada novo detalhe a ser lembrado, traz para você um efeito
agradável ou desagradável? Justifique.
Resposta pessoal. Mas a repetição é que,
diferentemente da nossa experiência, possibilita contar a história pedindo que
seja contada. Além disso, a repetição dá um ritmo embalador ao texto, como nas
histórias para fazer dormir.
03 – Em que momento você
percebe que tanto pai como mãe contam a história?
Primeiro, pede à mãe (“você não podia ter
neném na sua barriga”). Depois, ora ela pede ao pai, ora à mãe. No fim, pede
aos dois.
04 – Que pormenores sugerem
para você o companheirismo do casal?
Eles dormiam encaixadinhos como duas
colheres; entraram no hospital de mãos dadas; ambos contam a mesma história para
a menina.
05 – Teóricos da literatura infantil
costumam criticar o uso de diminutivos nas histórias para crianças, achando que
o recurso “picurrucha” para criança, seria um tentativa ilusória de se
aproximar do público infantil. Assinale os diminutivos do texto. Neste caso,
você acha que o efeito foi bom ou ruim?
Aqui, o diminutivo é muito bem empregado.
Ela era, então, pequenininha. E ela apenas repete a linguagem dos pais.
06 – Que conceito de família você percebeu, a
partir do texto? A questão da adoção lhe pareceu bem posta?
Resposta pessoal.
Em todo caso, percebemos que a menina é filha dos dois, e que constituem os
três uma família. (Na ilustração, ainda temos o cachorro como membro dessa
família.
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