terça-feira, 20 de março de 2018

QUESTÕES DO ENEM - COM GABARITO

ENEM (2000)
POEMA: BICHO URBANO

Se disser que prefiro morar em Pirapemas
Ou em outra qualquer pequena cidade do país,
Estou mentindo
Ainda que lá se possa de manhã
Lavar o rosto no orvalho
E o pão preserve aquele branco
Sabor de alvorada.
A natureza me assusta.

Com seus matos sombrios suas águas
Suas aves que são como aparições
Me assusta quase tanto quanto
Esse abismo
De gases e de estrelas
Aberto sobre minha cabeça.

              GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991.

          Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das pequenas comunidades. Para expressar a relação do ser humano com alguns desses elementos, ele recorre à sinestesia, construção de linguagem em que se mesclam impressões sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa esse recurso.
a)  “e o pão preserva aquele branco / sabor de alvorada”.
     b) “ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no o orvalho”.
     c)  “ a natureza me assusta./ com seus matos sombrios suas águas”.
     d) “suas aves que são como aparições / me assusta quase tanto quanto”.
     e) “me assusta quase tanto quanto / esse abismo / de gazes e de estrelas”.

ENEM (2011)



       Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê:  o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: - Zé-Zim, por quê é que você não cria galinhas-d´angola, como todo o mundo faz? – Quero criar nada não... – me deu resposta: - Eu gosto muito de mudar. [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. [...] essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de- janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.
                     ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas.
                                                                   Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.

01 – Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador:
     a)  Relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
     b)  Descreve o processo de transformação de um meeiro – espécie de agregado – em proprietário de terra.
     c)  Denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.
    d)  Mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
    e)   Mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

02 – Esta história, com narrador-observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miquilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miquilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:
     a) “O homem trouxe o cavalo cá bem junto”.
     b) “Ele era de óculos, corado, alto [...]”.
     c) “O homem esbarrava o avanço do cavalo [...]”
     d) “Miquilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, [...]”.
     e) “Estava mãe, estava tio Terêz, estavam todos”.

UEL (1995)

      O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é pôr os campos-gerais a fora e dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. [...] Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniões... O sertão está em toda a parte.

     a)  José Lins do Rego.
     b) Graciliano Ramos.
     c)  João Guimarães Rosa.
     d) Jorge Amado.
     e) João Cabral de Melo Neto.

ENEM (2010)

S. O. S. PORTUGUÊS

     Por que pronunciamos muitas palavras de um jeito diferente da escrita? Pode-se refletir sobre esse aspecto da língua com base em duas perspectivas. Na primeira delas, fala e escrita são dicotômicas, o que restringe o ensino da língua ao código. Daí vem o entendimento de que a escrita é mais complexa que a fala, e seu ensino restringe-se ao conhecimento das regras gramaticais, sem a preocupação com situações de uso. Outra abordagem permite encarar as diferenças como um produto distinto de duas modalidades da língua: a oral e a escrita. A questão é que nem sempre nos damos conta disso.

                             S.O.S. Português. Nova Escola. São Paulo: abril, ano XXV.                                                                                          n. 231, abr. 2010.

      O assunto tratado no fragmento é relativo à língua portuguesa e foi publicado em uma revista destinada a professores. Entre as características próprias desse tipo de texto, identificam-se as marcas linguísticas próprias do uso.
     a)     Regional, pela presença de léxico de determinada região do Brasil.
     b)    Literário, pela conformidade com as normas da gramática.
     c)     Técnico, por meio de expressões próprias de textos científicos.
     d)    Coloquial, por meio do registro de informalidade.
     e)     Oral, por meio do uso de expressões típicas da oralidade.


ENEM (2011)

         LÉPIDA E LEVE


Língua do meu Amor velosa e doce.
Que me convences de que sou frase
Que me contornas, que me vestes quase.
Como se o corpo meu de ti vindo me fosse
Língua que me cativas, que me enleias


Os surtos de ave estranha,
Em linhas longas de invisíveis teias,
De que és, há tanto, habilidosa aranha...
[...]
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
Te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
Pela carne de som que à ideia emprestas
E pelas frases mudas que proferes
Nos silêncios de amor!...

                                    MACHADO, Gilka, in: MORICONI, Ítalo. (Orgs.).
                                                   Os sem maiores poemas brasileiros do século.
                                                                     Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

          A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado incorpora referências temáticas e formais modernistas, já que, nele, a poeta:
     a)  Procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal.
     b) Concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona o poder da palavra.
     c)  Questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verbo livre.
     d) Propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e propõe a simplificação verbal...
    e)  Explora a construção da essência feminina, a partir da polissemia de “língua”, e inova o léxico.

 PUC – CAMP (2010)


      A sua ferocidade ultrapassa tudo: sulcam de profundas cicatrizes, com um ferro, as faces dos recém-nascidos para lhes destruir as raízes dos pelos; e desse modo crescem e envelhecem imberbes e sem graça, como eunucos. Têm o corpo atarracado, os membros robustos e a nuca grossa: a largura das costas fá-los assustadores. [...] Não põem pé em terra nem para comer nem para dormir e dormem deitados sobre o magro pescoço da montada, onde sonham à sua vontade [...] Nenhum deles se for interrogado poderá dizer donde é natural, porque, concebido num lugar, nasceu já noutro ponto e foi educado mais longe.

                             Descrição dos Hunos em Fernando Espinosa. Antologia de
                       Textos históricos medievais. Lisboa: Sá da Costa, 1972, p. 4-6.

          Nessa descrição que faz Espinosa, os elementos da barbárie e da animalização do homem ganham uma expressão igualmente violenta, e parecem antecipar.
     a) O prestígio que ganhariam as descrições pitorescas e detalhistas nos tratados dos primeiros viajantes e exploradores coloniais.
     b) Os recursos de que se valeriam os prosadores naturalistas, interessados em associar condição biológica, classe social e comportamento humano.
     c) As imagens de que se valeriam os modernistas de 22, quando buscaram denúncias uma história nacional marcada por sucessivas violências.
     d) O gosto manifesto por escritores intimistas da década de 30 do século XX, quando davam vazão à melancolia e à negatividade pessoais.
     e) A atitude de poetas interessados no peso das palavras, consideradas como signos concretos, materiais, expressivos por si mesmos.

       
ENEM (2004)
                                     BRASIL



O Zé Pereira chegou de gravata
E perguntou pro guarani da mata virgem
- Sois cristão?
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quece!
La longe a onça resmungaava Uu! Ua! Uu!
O negro zonzo saído da fornalha


Tomou a palavra e respondeu
- Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval.

    ANDRADE, Oswald de, Pau-Brasil. 2. Ed. São Paulo: Globo. 2003, p. 165.

01 – Este texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção de elementos diferentes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é:

     a) Ambígua, pois aponta tanto o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem.
     b) Inovadora, pois mostra que os três grupos formadores – portugueses, negros e indígenas – pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira.
     c) Moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primitivos e pagãos.
     d) Preconceituosa, pois critica tanto indígenas como negros, representando de modo positivo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas.
     e) Negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade.

02 – A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação do:
     a) Poeta e do colonizador apenas.
     b) Colonizador e do negro apenas.
     c)  Negro e do indígena apenas.
     d) Colonizador, do poeta e do negro apenas.
     e)  Poeta, do colonizador, do indígena e do negro.

                ROSA, N. In:  SOBRAL, João Jonas Veiga. A tradução dos bambas.
     Revista Língua Portuguesa, ano 4, n. 54. São Paulo: segmento, abr.2010.

ENCCEJA (2002)



    O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
       - Anda, excomungado.
   O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou mata-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. 
A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o.
Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.

                           RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Martins, 1973.

          Em vidas secas, publicado em 1938, estão presentes o desamparo e a incerteza do homem quanto ao próprio destino. A incerteza de Fabiano quanto a seu destino aparece no seguinte passagem do texto:
     a)  O pirralho não se mexeu.
     b) ...A obstinação da criança irritava-o
     c)  ...Esse obstáculo miúdo... dificultava a marcha.
     d) Precisava chegar, não sabia onde.

ENCCEJA (2005).



          [...] no começo de 1937, utilizei num conto a lembrança de um cachorro sacrificado na Maniçoba, interior de Pernambuco, há muitos anos. Transformei o velho Pedro Ferro, meu avô, no vaqueiro Fabiano; minha avó tomou a figura de sinhá Vitória, meus tios pequenos, machos e fêmeas, reduziram-se a dois meninos [...]

                  Fragmento de carta de Graciliano Ramos a João Conde, 1944.

          Sinhá Vitória, Fabiano, Baleia e os dois meninos são personagens do romance Vidas secas (1938). A carta acima é de seu autor, Graciliano Ramos (1892 – 1953). Ela nos informa que, para compor a identidade dos personagens citadas, o escritor:

     a)  Fez pesquisas em livros de história.
     b)  Recriou elementos de suas memórias.
     c)  Entrevistou parentes e amigos.
     d) Inspirou-se em outros romances.


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