Poema: MAIS
LUZ!
Amem a
noite os magos crapulosos,
E os que
sonham com virgens impossíveis,
E os que
inclinam, mudos e impassíveis,
À borda
dos abismos silenciosos...
Tu, lua,
com teus raios vaporosos,
Cobre-os,
tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos
vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos
longos cuidados dolorosos!
Eu amarei
a santa madrugada,
E o
meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde
rumorosa e repousada.
Viva e
trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me
dado ainda ver, morrendo,
O claro
Sol, amigo dos heróis!
A
UM CRUCIFIXO
Há mil
anos, bom Cristo, ergueste os magros braços
E
clamaste da cruz: “há Deus!” e olhaste, ó crente,
O
horizonte futuro e viste, em tua mente,
Um alvor
ideal banhar esses espaços!
Por que
morreu sem eco o eco de teus passos,
E de tua
palavra (Ó Verbo!) o som fremente?
Morreste...
ah! dorme em paz! não volvas, que descrente
Arrojaras
de novo à campa os membros lassos...
Agora,
como então, na mesma terra erma,
A mesma
humanidade é sempre a mesma enferma,
Sob o
mesmo ermo céu, frio como um sudário...
E agora,
como então, viras o mundo exangue,
E ouviras
perguntar – “de que serviu o sangue,
Com que
regaste, ó Cristo, as urzes do Calvário?”
Quental, A. de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Agir, 1967.
01 – Em
resposta a Antônio Feliciano de Castilho, que o criticara (e também fizera
críticas a outros poetas), Antero de Quental respondeu, em 1865, no folheto
conhecido como Bom senso e bom gosto:
“O escritor quer o espírito livre de
jugos, o pensamento livre de preconceitos e respeitos inúteis, o coração livre
de vaidades, incorruptível e intemerato”.
É possível encontrar algum ponto de
contato entre esse parecer de Antero de Quental e o soneto Mais Luz!?
O ponto de
contato existe no próprio conteúdo (e não na forma). O “eu” do soneto apregoa
que prefere as ideias claras e expostas à luz e o parecer do folheto diz,
praticamente, a mesma coisa.
02 –
Tendo em vista as características da poesia romântica ou até mesmo comparado
poemas românticos presentes neste livro, faça um pequeno painel comparativo a
partir do soneto Mais Luz!
A poesia
romântica está voltada para a melancolia, para a hora noturna, para o amor
impossível, preza a lua, as horas sombrias, a solidão. O soneto Mais
Luz! está pregando exatamente o contrário de “hora romântica”. Abomina
a escuridão, as viagens impossíveis, a magia da lua. Prefere o dia claro e as
ideias expostas.
03 –
Considere a seguinte afirmativa a respeito da poesia de Antero de Quental:
“Nas
poesias de combate às Odes modernas há poemas bastante contraditórios, onde é
substituída uma visão cristã do mundo por uma religiosidade panteísta, isto é,
uma religiosidade que vê Deus em toda parte, que o identifica com o mundo
concreto”.
Discuta
com seus colegas a respeito. Procure checar se há pontos de contato entre essa
afirmativa e o soneto A um crucifixo.
Resposta pessoal do aluno.
04 – De acordo com o soneto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Crapuloso: libertino, devasso.
·
Inextinguível: que não pode desaparecer, que não pode esgotar-se, acabar.
05 – Que expressões
presentes na 1ª estrofe evocam os poetas românticos?
As expressões que
evocam os poetas românticos são: os magros crapulosos, os que sonham com
virgens impossíveis, os que se inclinam à borda dos abismos silenciosos.
06 – Por que os adjetivos
“mudos e impassíveis”, utilizados para evocar os poetas românticos do spleen,
podem ser considerados depreciativos perante a concepção da literatura como
meio de transformação da sociedade, que caracteriza o Realismo?
Porque esses
adjetivos parecem se referir à desistência dos românticos de participar da
realidade, refugiando-se em seus sonhos e fantasias.
07 – Na 2ª estrofe, que
pedido o sujeito lírico faz à Lua, musa inspiradora do Romantismo?
O sujeito lírico
pede à Lua que cubra, tape, torne os poetas românticos insensíveis aos vícios e
sofrimentos que cultivam.
08 – Na segunda parte do
soneto, que se compõe dos tercetos, predomina a defesa explícita de valores que
denominaremos diurnos. Transcreva o verso dessa parte que faz a apologia desses
valores.
O verso é aquele
com o qual o poema termina: “O claro Sol, amigo dos heróis!”.
09 – As duas imagens
presentes no poema – a Lua e o Sol – constituem metáforas das posturas romântica
e realista, que denominamos noturna e diurna. Na sua opinião, que traços
fundamentais de ambos os estilos podemos identificar com as imagens da Lua e do
Sol, da noite e do dia?
Os traços do romantismo que podemos
identificar com a imagem da Lua são a sensibilidade, a emoção, o cultivo dos
sentimentos e dos sonhos. Já os traços realistas identificáveis com a imagem do
Sol são a racionalidade, a objetividade, a realidade do trabalho e do
cotidiano.
10 – Considerando que o
soneto defende as ideias realistas em detrimento das românticas, interprete com
suas próprias palavras o título “Mais luz!”
Resposta pessoal
do aluno.
trancreva o verso dos tercetos que sitetiza a opologia dos valores denominados diurnos ou realistas
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