Texto: TEMPORAL
A tarde anunciava chuva. Céu carregado, atmosfera abafada. Os meninos gritavam
na rua, atrás das tanajuras e dos sebitos. As árvores, sacudidas pelo vento,
remexiam-se contentes pela chuva que vinha vindo.
Do lado do norte, as serras, arroxeadas pelo reflexo das nuvens, quase não se
distinguiam destas, porque o escuro-acinzentado confundia tudo.
Os homens na calçada olhavam o tempo. Meu avô disse:
--- Aquela cai dentro de vinte minutos.
--- E é de arrombar açude! – acrescentou o senhor que eu não conhecia.
Mamãe gritou para o lado da cozinha:
--- Corre lá no quintal, Ceição! Apanha depressa os lençóis da corda! Corre,
corre, que aquela não tarda a cair!
Corri para ajudar Conceição.
Não sei por quê, as chuvas fortes sempre tiveram em mim a maior influência.
Assanhava-se com elas. Dava-me vontade de correr, de gritar, de pular. Nunca
compreendi bem, quando menino, por que mamãe se lastimava tanto nesses dias.
Por eles eu me pelava, dava graças a Deus pelo transtorno doméstico que
causavam.
No quintal as folhas rugiam com o vento, dançando no ar em reviravoltas de
brinquedo. Os passarinhos trocavam de lugar, procurando melhor agasalho sob
ramos mais espessos. Um redemoinho arrastou uma fronha, assanhou a saia da
Conceição, enchendo-lhe os olhos de ciscos.
--- Me acode aqui, Pedrinho! – gritou ela, rindo, esfregando com as costas da
mão a vista fechada.
Soprei o olho do argueiro, ela o arregalou,
espichando a boca para baixo.
--- Saiam da chuva, meninos! gritou mamãe. – Isso faz mal! Bota um pano na
cabeça, Pedrinho, senão tu te constipas!
Era cada pingo grosso, pesado, que chegava a deixar buraco na terra fofa. Um relâmpago
clareou, e o trovão respondeu com estalidos tremendos, seguidos do reboo
perdido no espaço. Ouvia-se a zoada da chuva já perto.
Mal entrávamos em casa, o aguaceiro caiu forte. Escureceu o mundo de repente. O
relâmpago era um atrás do outro, e o trovão roncava de ensurdecer.
Com meia hora a chuva tinha feito do quintal um rio. Todo alagado, perto de
casa já não se via mais a terra. Na frente, a gente via, pelos vidros das
janelas, a enxurrada correr barrenta de rua abaixo.
Luís
Jardim. Maria perigosa, 2ª edição, págs. 46-47.
Editora José Olympio, Rio, 1959.
Entendendo
o texto:
01 – O
personagem narrador dos acontecimentos é:
(
) Luís Jardim. (X)
Pedrinho. ( )
Conceição.
02 – O
que se descreve no texto se passou:
(
) Junto de um açude. ( ) No
campo. (X) Na cidade.
03 – Que
sinais prenunciavam o temporal?
Céu
carregado e escuro, atmosfera abafada, vento forte.
04 – O texto
sugere calma, quietude, silêncio, ou movimento, pressa, barulho, nervosismo?
O texto sugere movimento, pressa, barulho, nervosismo.
05 – Qual
é o parágrafo em que o narrador interrompe a descrição do temporal para falar
da agitação e alegria que as chuvas lhe causavam?
É o nono
parágrafo.
06 – Ao
se dirigir à empregada e ao filho, a mãe de Pedrinho usou o tratamento:
(X) Tu.
( )
Você. (
) O senhor, a senhora.
07 – O
autor, às vezes, fala das coisas como se fossem pessoas. Cite uma frase do
texto em que se nota isso.
As folhas fugiam com o vento, dançando no ar.
08 –
Encontre no penúltimo parágrafo um exemplo de afirmação exagerada pela emoção e
o espanto.
Escureceu o
MUNDO de
repente.
09 – A
frase “o trovão respondeu com estalidos tremendos” transmite-nos uma sensação:
( ) Visual. (X)
Auditiva. ( )
Tátil. ( ) Gustativa.
10 – Você
acha que Luís Jardim conseguiu, através da palavra, transmitir uma impressão
verdadeira e forte do temporal? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal do aluno.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTexto da minha infância
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