segunda-feira, 26 de março de 2018

TEXTO: TEMPORAL - LUÍS JARDIM - COM GABARITO

Texto: TEMPORAL

   A tarde anunciava chuva. Céu carregado, atmosfera abafada. Os meninos gritavam na rua, atrás das tanajuras e dos sebitos. As árvores, sacudidas pelo vento, remexiam-se contentes pela chuva que vinha vindo.
 Do lado do norte, as serras, arroxeadas pelo reflexo das nuvens, quase não se distinguiam destas, porque o escuro-acinzentado confundia tudo.
        Os homens na calçada olhavam o tempo. Meu avô disse:
        --- Aquela cai dentro de vinte minutos.
        --- E é de arrombar açude! – acrescentou o senhor que eu não conhecia.
        Mamãe gritou para o lado da cozinha:
        --- Corre lá no quintal, Ceição! Apanha depressa os lençóis da corda! Corre, corre, que aquela não tarda a cair!
        Corri para ajudar Conceição.
        Não sei por quê, as chuvas fortes sempre tiveram em mim a maior influência. Assanhava-se com elas. Dava-me vontade de correr, de gritar, de pular. Nunca compreendi bem, quando menino, por que mamãe se lastimava tanto nesses dias. Por eles eu me pelava, dava graças a Deus pelo transtorno doméstico que causavam.
        No quintal as folhas rugiam com o vento, dançando no ar em reviravoltas de brinquedo. Os passarinhos trocavam de lugar, procurando melhor agasalho sob ramos mais espessos. Um redemoinho arrastou uma fronha, assanhou a saia da Conceição, enchendo-lhe os olhos de ciscos.
        --- Me acode aqui, Pedrinho! – gritou ela, rindo, esfregando com as costas da mão a vista fechada.
        Soprei o olho do argueiro, ela o arregalou, espichando a boca para baixo.
        --- Saiam da chuva, meninos! gritou mamãe. – Isso faz mal! Bota um pano na cabeça, Pedrinho, senão tu te constipas!
        Era cada pingo grosso, pesado, que chegava a deixar buraco na terra fofa. Um relâmpago clareou, e o trovão respondeu com estalidos tremendos, seguidos do reboo perdido no espaço. Ouvia-se a zoada da chuva já perto.
        Mal entrávamos em casa, o aguaceiro caiu forte. Escureceu o mundo de repente. O relâmpago era um atrás do outro, e o trovão roncava de ensurdecer.
        Com meia hora a chuva tinha feito do quintal um rio. Todo alagado, perto de casa já não se via mais a terra. Na frente, a gente via, pelos vidros das janelas, a enxurrada correr barrenta de rua abaixo.

                         Luís Jardim. Maria perigosa, 2ª edição, págs. 46-47.
                                                        Editora José Olympio, Rio, 1959.

Entendendo o texto:
01 – O personagem narrador dos acontecimentos é:
(   ) Luís Jardim.         (X) Pedrinho.        (   ) Conceição.

02 – O que se descreve no texto se passou:
(   ) Junto de um açude.    (   ) No campo.   (X) Na cidade.

03 – Que sinais prenunciavam o temporal?
      Céu carregado e escuro, atmosfera abafada, vento forte.

04 – O texto sugere calma, quietude, silêncio, ou movimento, pressa, barulho, nervosismo?
      O texto sugere movimento, pressa, barulho, nervosismo.

05 – Qual é o parágrafo em que o narrador interrompe a descrição do temporal para falar da agitação e alegria que as chuvas lhe causavam?
      É o nono parágrafo.

06 – Ao se dirigir à empregada e ao filho, a mãe de Pedrinho usou o tratamento:
      (X) Tu.         (   ) Você.           (   ) O senhor, a senhora.

07 – O autor, às vezes, fala das coisas como se fossem pessoas. Cite uma frase do texto em que se nota isso.
      As folhas fugiam com o vento, dançando no ar.

08 – Encontre no penúltimo parágrafo um exemplo de afirmação exagerada pela emoção e o espanto.
      Escureceu o MUNDO de repente.           
                                     
09 – A frase “o trovão respondeu com estalidos tremendos” transmite-nos uma sensação:
      (   ) Visual.       (X) Auditiva.        (   ) Tátil.        (   ) Gustativa.

10 – Você acha que Luís Jardim conseguiu, através da palavra, transmitir uma impressão verdadeira e forte do temporal? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

  

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