Poesia: Velha casa
Marilda
Paulínia
A casa é velha,
pesada,
chata,
branca.

Olha o rio,
olha a ponte,
olha as
árvores
com os olhos apagados e vazios das janelas abertas.
Quando a noite abre
um grande
guarda-sol preto sobre a terra,
começa a
melopeia sonora dos sapos.
Outras vezes,
no terreiro
varrido do céu,
correm vaga-lumes,
piscam-piscam,
e se apagam.
Outras vezes,
chove luar.
Uma chuva
mansa e
luminosa,
que enche
de pó-de-arroz a face branca da velha casa
e
enverniza de prata as águas do rio
e as folhas verdes das árvores.
E a velha casa
cerra os olhos
apagados das janelas
e adormece.
Gilberto de Mendonça
Teles (org.). A poesia em Goiás. Goiânia, UFG, s/d.
Fonte: Português – 1º
grau – Descobrindo a gramática 8. Gilio Giacomozzi; Gildete Valério; Cláudia
Reda Fenga. São Paulo. FTD, 1992. p. 195.
Entendendo a poesia:
01
– Como o eu lírico descreve a casa no início do poema e qual o efeito da
disposição gráfica dos adjetivos?
A casa é descrita
com adjetivos que sugerem peso, monotonia e falta de vida: "velha, /
pesada, / chata, / branca." A disposição gráfica em que os adjetivos são
isolados, um abaixo do outro, enfatiza cada característica, tornando-as mais
contundentes e definitivas. Isso reforça a impressão de que a casa é um lugar
de carga, enfado e estagnação.
02
– Que figura de linguagem o poema utiliza ao descrever a casa olhando para a
paisagem ("Olha o rio, / olha a ponte...")? O que isso sugere sobre a
relação da casa com o mundo exterior?
O poema utiliza a
personificação ou prosopopeia, pois atribui à casa a ação humana de
"olhar." No entanto, esse olhar é feito "com os olhos apagados e
vazios das janelas abertas." Isso sugere uma relação passiva e melancólica
com o mundo exterior. A casa está ali, presente, observando a vida que passa (o
rio, a ponte), mas o seu olhar é desprovido de emoção ou vitalidade, refletindo
um estado de solidão ou desinteresse.
03
– Quais são os três fenômenos noturnos descritos pelo eu lírico, e o que eles
trazem para a atmosfera do poema?
Os três fenômenos
noturnos são:
A abertura de um
"grande guarda-sol preto" (a escuridão da noite).
A "melopeia sonora dos
sapos" (um som repetitivo e noturno).
A corrida e o pisca-pisca
dos vaga-lumes.
A "chuva de luar"
mansa e luminosa.
Juntos, eles criam uma
atmosfera de tranquilidade e mistério. A natureza assume o protagonismo, e os
fenômenos, especialmente a "chuva de luar," adicionam um toque de
magia e beleza sutil à monotonia da casa.
04
– O que a metáfora da "chuva de luar" que "enche de pó-de-arroz
a face branca da velha casa" significa?
A "chuva de
luar" é uma imagem sinestésica e altamente poética, que associa a luminosidade
do luar (visual) à ideia de uma chuva suave (tátil/auditiva). A metáfora do
"pó-de-arroz" evoca a ideia de um leve adorno, maquiagem ou disfarce.
Sugere que o luar não apenas ilumina, mas também embeleza e suaviza a aparência
gasta da casa, conferindo-lhe um aspecto mais etéreo ou digno na noite.
05
– Por que a "velha casa / cerra os olhos / apagados das janelas / e
adormece" no final do poema?
O ato de
"cerrar os olhos" (fechar as janelas) e adormecer representa o
descanso e a conclusão de um ciclo. Depois de absorver as impressões passivas
do dia e ser banhada pela beleza suave da noite (a chuva de luar), a casa
(personificada) se recolhe. O adormecer simboliza a aceitação da sua condição
silenciosa e isolada, encontrando paz em seu próprio vazio.
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