segunda-feira, 18 de setembro de 2017

CONTO: UMA HISTÓRIA DE DOM QUIXOTE - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

Uma história de Dom Quixote
Moacyr Scliar
 Quando se fala num Quixote, as pessoas logo pensam num desastrado, num sujeito que não consegue fazer nada direito, que tem boas ideias, mas sempre quebra a cara. E até repetem aquela história que o escritor espanhol Cervantes contou sobre o Dom Quixote.
     Ele era um daqueles cavaleiros andantes que usavam armadura, lança e escudo; percorria as planícies da Espanha num cavalo muito magro e muito feio, chamado Rocinante, procurando inimigos a quem pudesse desafiar em nome da moça que amava, e que ele chamava de Dulcineia. Pois um dia este Quixote avistou ao longe uns moinhos de vento.
     Naquela época, vocês sabem, o trigo era moído desta maneira: havia um enorme cata-vento que fazia girar a máquina de moer. Pois o Dom Quixote viu, nesses moinhos, gigantes que agitavam os braços, desafiando-os para a luta.
    Sancho Pança, seu ajudante, tentou convencê-lo de que não havia gigante nenhum; mas foi inútil.
     Dom Quixote estava certo de que aquele era o grande combate de sua vida.  Empunhando a lança, partiu a galope contra os gigantes…
     O resultado, diz Cervantes, foi desastroso. A lança do cavaleiro ficou presa nas asas do moinho, ele foi levantado no ar e depois jogado para longe. Para Sancho, e para todas as pessoas que ali viviam, uma clara prova de que o homem era mesmo maluco.
     Essa era a história que Cervantes contava. Já meu tatara-tatara-tataravô, que também conheceu o Dom Quixote, narrava o episódio de uma maneira inteiramente diferente. Ele dizia que, de fato, Dom Quixote viu os moinhos e que ficou fascinado com eles, mas não por confundi-los com gigantes. “Se eu conseguir enfiar minha lança naquelas asas que giram”, pensou, “e se puder aguentar firme, terei descoberto uma coisa sensacional.”
     E foi o que ele tentou. Não deu completamente certo, porque nada do que a gente faz dá completamente certo; mas, no momento em que a asa do moinho levantava o Dom Quixote, ele viveu o seu momento de glória. Estava subindo, como os astronautas hoje sobem; estava avistando uma paisagem maravilhosa, os campos cultivados, as casas, talvez o mar, lá longe, talvez as terras de além-mar, com as quais todo o mundo sonhava. Mais que isso, ele tinha descoberto uma maneira sensacional de se divertir.
     É verdade que levou um tombo, um tombo feio. Mas isso, naquele momento, não tinha importância. Não para Dom Quixote, o inventor da roda-gigante.

 Extraído e adaptado de FILHO, Otavio Frias et al. Vice-versa ao contrário: histórias clássicas recontadas. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1993

Questão 01
    O autor, Moacyr Scliar, reconta a clássica história de Dom Quixote alterando a versão original. O artifício que utiliza para atingir esse objetivo é
( A ) introduzir, no texto, a versão de seu tatara-tatara-tataravô, um contador de histórias.
( B ) desmentir a história contada por Cervantes, autor do texto original.
( C ) confrontar as versões do seu tatara-tatara-tataravô e a de Cervantes, já que ambos conheceram pessoalmente Dom Quixote.
( D ) ambientar a história em um parque de diversões a fim de torná-la mais leve e divertida.
( E ) recontar a história de acordo com sua imaginação, desconsiderando totalmente a versão original.

Questão 02
Considere as afirmações que seguem a respeito do texto lido.
l. Em suas aventuras, Dom Quixote era acompanhado por seu cavalo Rocinante, por sua amada Dulcineia e por seu fiel escudeiro Sancho Pança.
II. Sancho Pança tinha maior senso de realidade do que Dom Quixote, mas não conseguia fazê-lo desistir de suas ideias.
III. Embora normalmente Dom Quixote se desse mal em suas aventuras, na versão contada por Moacyr Scliar, o personagem atinge seu momento de glória ao inventar a roda gigante. Quais estão corretas?

( A) I, II e III.   ( B) Apenas II.    ( C ) II e III.   ( D) Apenas III.   ( E) Apenas I.


Questão 03 
        Se o narrador da história fosse o próprio Dom Quixote, a frase “Dom Quixote estava certo de que aquele era o grande combate de sua vida.” poderia ser reescrita, mantendo-se a coerência, como:
( A ) Eu estava certa de que estava diante do grande combate de minha vida.
( B ) Eu estava certo de que aquele era o grande combate de minha vida.
( C ) Eu estava certo de que aquele era o grande combate de nossa vida.
( D ) Nós estávamos certos de que se tratava do grande combate de nossa vida.
( E ) Nós estávamos certos de que aquele era o grande combate de minha vida.


Questão 04
       Em um texto narrativo, a história se desenvolve sobretudo com base em uma complicação e em um clímax. As ações que sintetizam essas partes, respectivamente, são:
( A ) o momento em que Dom Quixote leva um tombo feio – o momento em que ele inventa a roda gigante.
( B ) o momento em que Dom Quixote empunha sua lança e combate os moinhos – o momento em que ele vê os gigantes e fica fascinado.
( C ) o momento em que Dom Quixote percorre as planícies da Espanha procurando inimigos para desafiar – o momento em que ele se apaixona por Dulcineia.
( D ) o momento em que Sancho Pança tenta inutilmente convencer Dom Quixote de que não havia gigante nenhum – o momento em que Dom Quixote é levantado pelo moinho e vive seu momento de glória.
( E ) o momento em que Dom Quixote desafia para a luta os moinhos de vento - o momento em que ele enfia sua lança nas “asas” dos moinhos.

Questão 05
        Em narrativas de ficção, o narrador pode mencionar fatos ou expressar opiniões sobre a história. Considerando essa afirmação, analise os trechos selecionados, assinalando se indicam FATO (F) ou OPINIÃO (O). Depois, escolha a alternativa que corresponda a sua resposta:
(F) “Ele era um daqueles cavaleiros andantes que usavam armadura, lança e escudo, […].”
(F) “Naquela época, vocês sabem, o trigo era moído desta maneira: havia um enorme cata-vento que fazia girar a máquina de moer.”
(O) “O resultado, diz Cervantes, foi desastroso.”

(O) “Para Sancho, e para todas as pessoas que ali viviam, uma clara prova de que o homem era mesmo maluco.”
(O) “Não deu completamente certo, porque nada do que a gente faz dá completamente certo; […].”
( A ) F – F – O – O – F
( B ) F – F – O – O – O
( C ) O – F – F – O – O
( D ) O – O – F – F – O
( E ) F – O – O – F – F

Questão 06
Observe o período:
        “A lança do cavaleiro ficou presa nas asas do moinho, ele foi levantado no ar e depois jogado para longe.” Se as ações acima descritas, situadas no passado, indicassem hipótese, o trecho deveria ser reescrito da seguinte maneira:
( A ) A lança do cavaleiro ficara presa nas asas do moinho; ele fora levantado no ar e depois jogado para longe.
( B ) Se a lança do cavaleiro ficasse presa nas asas do moinho, ele seria levantado no ar e depois jogado para longe.
( C ) A lança do cavaleiro havia ficado presa nas asas do moinho, ele havia sido levantado no ar e depois jogado para longe.
( D ) Quando a lança do cavaleiro ficar presa nas asas do moinho, ele será levantado no ar e depois será jogado para longe.
( E ) Caso a lança do cavaleiro fique presa nas asas do moinho, ele deve ser levantado no ar e depois jogado para longe.

Questão 07
        Em “Pois um dia este Dom Quixote avistou ao longe uns moinhos de vento.”  O uso da palavra pois pode ser explicado como:

( A ) uma conjunção explicativa que vincula a ideia iniciada no período à frase anterior.
( B ) um termo que objetiva dar continuidade à narrativa, tornando a linguagem mais rebuscada.
( C ) uma marca de oralidade reproduzida na escrita.
( D ) uma conjunção conclusiva que mantém o mesmo sentido de então.
( E ) um recurso específico das narrativas, que imprime mais dinamicidade à história contada.

Questão 08
        Em “(…) as pessoas logo pensam num sujeito que não consegue fazer nada direito, que tem boas ideias, mas sempre quebra a cara.”, a expressão destacada é usada informalmente. Para se adequar à norma culta, mantendo-se o sentido pretendido, a expressão poderia ser substituída por:
( A ) se frustra.
( B ) se dá mal.
( C ) se coloca em confusão.
( D ) é mal sucedido em suas ações.
( E ) é mal compreendido.

Questão 09
        Em “Mais que isso, ele tinha descoberto uma maneira sensacional de se divertir.”, o termo destacado só não poderia ser substituído, sem prejuízo de sentido, por:
(A)  Maravilhosa.
(B) inesquecível.
(C) fantástica.
(D) espetacular.
    (E) extraordinária.

10 – Existem muitas possibilidades de se começar a contar uma história. Como o escritor Moacyr Scliar começa a contar a história de Dom Quixote?
      Ele relembra o que as pessoas pensam quando se fala em Dom Quixote.

11 – Quem escreveu a história original de Dom Quixote?
      O escritor espanhol Miguel de Cervantes.

12 – A história original de Dom Quixote foi escrita no começo do século XVII (1605), época em que ainda eram comuns as histórias de cavaleiros que lutavam pelo amor da mulher amada. Que feitos e características de Dom Quixote fazem dele um cavaleiro bem diferente dos heróis de seu tempo?
      Ter uma cavalo magro e feio, lutar com moinhos de vento como se fosse um maluco, ser malsucedido em suas ações.

13 – Na história contada pelo tatara-tatara-tataravô do narrador, o que passou pela cabeça de Dom Quixote quando ele viu o moinho de vento?
      Passou-lhe pela cabeça inventar algo sensacional.

14 – Por que no episódio contado pelo tatara-tatara-tataravô do narrador o tombo de Dom Quixote não teve importância?
      Porque ele tinha inventado a roda-gigante.







6 comentários:

  1. Essas são as verdadeiras respostas?

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  2. Em “Estava subindo, como os astronautas hoje sobem; estava avistando uma paisagem maravilhosa, os campos cultivados; as casas, talvez o mar, lá longe, talvez as terras do além mar, com as quais todo mundo sonhava.” (linhas 25-27), os termos destacados expressam, respectivamente, ideia de que ?

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