AS
APARÊNCIAS ENGANAM
As aparências enganam aos
que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se
irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e
depois não há nada que os apague
Se a combustão os persegue,
as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o
pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão,
sonhos vividos de conviver.
As aparências enganam aos
que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se
irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e,
depois, não há nada que os degele
Se a neve, cobrindo a pele,
vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se
aquecer, não há mais tempo de se esquentar.
Não há mais nada pra se
fazer, senão chorar sob o cobertor.
As aparências enganam aos
que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo se
irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e,
depois, se preparam pra outro inverno.
Mas o verão que os unira,
ainda, vive e transpira ali
Nos corpos juntos na
lareira, na reticente primavera
No insistente perfume de
alguma coisa chamada amor.
Tunai e
Sérgio Natureza, www.mpbnet.com.br
Warner Chappell Edições Musicais Ltda.
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1 – No poema de Camões que
você estudou, havia ideias paradoxais. Neste texto, que recurso é utilizado
quando os compositores jogam com as ideias: amor x ódio; fogueira x geleira;
fogo x gelo? Que efeito produz esse recurso?
O verso que se
repete já avisa: “as aparências enganam”, o que significa que podemos julgar o
ódio amor e vice-versa. Os compositores unem os extremos, por meio do verbo
“irmanar”, confirmando o que diz a sabedoria popular: os extremos se tocam. O
efeito é interessante porque, ao mesmo tempo que coisas tão contrárias se
“irmanam”, elas mantem, ainda, suas características próprias.
2 – Na primeira estrofe,
pão, vinho e comunhão remetem a que contexto?
Remetem à Santa Ceia. Impossível não
pensar no simbolismo do pão e vinho como alimento para o corpo e para a alma,
numa comunhão de amor possível.
3 – Como algo pode ser
alimento e veneno ao mesmo tempo?
Nesta estranha aproximação está a
intertextualidade com o texto de Camões: ao mesmo tempo que alimenta, o amor
mata. É preciso matar em nós muito de nós mesmos para viver o outro.
4 – Embora haja paralelismo
sintático e semântico na letra da canção, existe uma progressão no texto. De
que maneira isso ocorre da primeira para a segunda estrofe?
Na primeira estrofe, fala-se em fogueira,
fogo, labaredas: pressupõe-se tratar da fase da paixão num relacionamento; na
segunda estrofe, fala-se de geleira e neve: pressupõe-se a fase de um
relacionamento em que a paixão já se apagou e o amor “esfria”.
5 – Na última estrofe,
explique a relação estabelecida entre os sentimentos e as estações do ano.
Se associarmos a primeira estrofe ao
verão (paixão), a segunda ao inverso (fim do amor) e a terceira ao outono (algo
que está em declínio, mas que produz frutos), a última estrofe pode ser
associada à primavera (algo que se renova, refloresce). Parece ser essa a ideia
do “insistente perfume”: se o sentimento que une duas pessoas é o amor
verdadeiro, ele sempre se renova, apesar de tudo. Se não há mais o “fogo
natural”, é possível cortar a lenha e acender a lareira para aquecer os
amantes.
6 – “As aparências enganam”
mesmo? Em que medida essa afirmação nos possibilita relacionar esse texto com o
de Camões. No caso dessa canção, qual seria a “essência”?
Nos dois textos, os poetas jogam com
ideias contraditórias. O ódio pode parecer amor e o amor pode parecer ódio
porque os serres que experimentam esses sentimentos são, eles mesmos,
contraditórios. A essência seria, então, o sentimento puro que une esses seres.
O amor e o ódio caminham juntos (Quem nunca?).
ResponderExcluirQuanto a análise da letra,simplesmente genial.