CRÔNICA:CONVERSA
DE ESCRITÓRIO
Marques Rebelo
Quando Gumercindo chegava ao
escritório, às oito e meia, já tinha lido de trás para diante e de diante para
trás o Jornal dos Esportes e, pelo
dia adentro, não tinha outro assunto senão o conteúdo da rósea folha.
Saía do estoque, onde folgadamente
funcionava, e ia ao arquivo, que era no segundo andar, mexer nos armários à
cata dum papel qualquer Puro pretexto. Queria era dar uma prosinha com o
Ademar, que torcia para o Fluminense. Gumercindo é do Flamengo, até rachado.
--- Qual, velhinho, o teu tricolor anda
mauzinho mesmo! Não dá no couro.
Ademar, lourinho, cara de pombo,
encontrava desculpa:
--- É por causa da becança. Aquilo não
é parelha de beques. É uma parelha de burros!
--- E a linha, que é que ela vale?
--- Não! – protestava. – A linha é boa.
--- Que boa! Uns pernas-de-pau!
--- Pernas-de-pau, uma história! Não há
melhor.
--- Uns feridas.
José não gostava de conversa fiada na
seção:
--- Chega de futebol, gente. Pegue logo
o que você quer, Gumercindo, e cai fora.
Gumercindo é malcriado:
--- Cai fora, uma brisa! Converso quanto
quiser. A boca é minha. Que é que você manda aqui?
Laíde, muito magrinha, atiçava:
--- Eu, se fosse você, fazia queixa a
Seu Schneider de que o José não te deixa conversar direito...
A
seção ri. Seu Schneider é o diretor-geral, muito severo, muito exigente e
inseparável do charuto. Gumercindo tem vontade de dar nela – que peste! E,
embalado, continua com mais outras impertinências, cheio de insolência:
--- Aqui não há um melhor que o outro,
sabe? Todos são iguais. Quem manda é o chefe Você é chefe, por acaso?
José não era de discussões. Sorrindo,
bate nas teclas da máquina, deixa-o falar grimpante. Se lhe desse um murro nas
ventas, onde aquele magricela iria parar? Era forte, risonho, excessivamente
calmo. Tinha horror a brigas e desavenças. Resolvia tudo por bem, com palavras
e atos ponderados.
Marques Rebelo.
Seleta, págs. 148-149.
Editora José Olympio, Rio, 1974.
1 – Identifique as
personagens da história através de suas características:
·
Forte, amável, calmo, ponderado: JOSÉ.
·
Severo, exigente: SCHNEIDER.
·
Louro, cara de pombo: ADEMAR.
·
Magricela, falador, malcriado: GUMERCINDO.
·
Magrinha, irônica: LAÍDE.
2 – “Já tinha lido de trás
para diante e de diante para trás o Jornal dos Esportes”. Que quis dizer o
autor com isso?
Quis dizer que
Gumercindo tinha lido o Jornal diversas vezes e sem pular nada, tudo
minuciosamente.
3 – Na linha 4, “o conteúdo
da rósea folha” significa:
(
) O perfume e a beleza da rosa.
(X)
O noticiário esportivo do Jornal dos Espores.
4 – Por que o autor chama
esse jornal de “rósea folha”?
Porque é impresso em papel cor-de-rosa.
5 – Assinale as afirmações
verdadeiras, com relação a Gumercindo:
(
) Trabalhava sem parar: seu serviço, no escritório, era apertado.
(X) Ia ao arquivo só para conversar com o
Ademar.
(
) Suas conversas giravam em torno de muitos assuntos.
(
) Lia o jornal na seção onde trabalhava.
(X) Era rubro-negro
“doente”.
(
) Era um bom funcionário.
6 - “Qual, velhinho, o teu tricolor anda mauzinho
mesmo!”
Qual o personagem que disse essa frase?
Foi Gumercindo.
7 – Que reação provocaram em
Gumercindo as palavras de Laíde?
Gumercindo ficou com tanta raiva da moça que
teve vontade de a espancar.
8 – Como você entendeu a
frase “A seção ri”?
A frase irônica de Laíde faz rir os
funcionários da seção.
9 – José não respondeu às
insolências de Gumercindo porque:
( )
Tinha medo dele.
(X) Detestava
discussões.
(
) Não queria aborrecer o seu diretor.
10 – A exclamação “que
peste!”, representa o pensamento de:
(X) Gumercindo.
( ) Marques Rebelo (o narrador)
11 – Que tipo de linguagem
usam as personagens?
(
) Culta, literária.
(X) Familiar,
coloquial.
Eu estava procurando esse texto há anos, encontrei aqui no seu blog, muito obrigado por postar!
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