REPORTAGEM - O
trabalho que empobrece
Ari Cipola
O trabalho infanto-juvenil, além de ser
social e eticamente indesejável, é um instrumento de manutenção da pobreza.
Gera perdas financeiras consideráveis, consequentes ao baixo desenvolvimento
humano das crianças obrigadas a trabalhar.
Para
chegar a essa condição, basta quantificar o montante de renda que indivíduos
com distintas idades de ingresso no mercado de trabalho auferem ao longo de sua
vida profissional mais produtiva – entre os 21 e os 25 anos -, como fizeram
Antônio Carlos Coelho Campino e Maria Dolores Montoya Diaz, professores da
Universidade de São Paulo, em trabalho realizado pela Fundação Instituto de
Desenvolvimento Empresarial e Social.
Com
base na PNAD de 1995, os pesquisadores chegaram a números que quantificam e
atestam a tese de que, quanto mais tarde a pessoa entrar no círculo
economicamente ativo, maior será seu salário durante 35 anos de trabalho, tempo
de recolhimento compulsório para aposentadoria. Analisou-se o comportamento
salarial de quem havia se ocupado em várias faixas etárias.
As
perdas acumuladas por pessoas que ficaram economicamente ativas dos sete aos 14
anos, e cuja idade em setembro de 1995 variava entre os 21 e os 55 anos, representavam
perto de 30% do produto interno bruto (PIB). Para termos ideia, ainda segundo o
estudo, com R$ 11, 3 bilhões (1% do PIB) seria possível estender à totalidade
das crianças trabalhadoras o programa de bolsa-escola (Peti), o que tiraria da
ignorância milhares de trabalhadores-mirins de sete a 14 anos e elevaria seus
ganhos salariais e, consequentemente, o PIB.
Quanto
a criança começar a trabalhar aos sete anos, vai receber ao longo da vida 37%
menos, em média, do que receberia se tivesse ingressado no mercado de trabalho
aos 14. Se a comparação for com uma pessoa que começou a trabalhar aos 21 anos,
o percentual de perda de quem iniciou na labuta aos sete anos pulará para 50%.
O
estudo dos pesquisadores da USP oferece muitas evidencias de que o principal
impacto do trabalho infantil ocorre sobre o nível de escolaridade atingido por
trabalhadores-mirins. Como há estreita relação entre a idade e o ingresso no
trabalho e o grau de instrução, chega-se à ligação, também, entre trabalho
infantil e perdas salariais.
Se
o principal desafio das democracias em construção na América Latina é vencer
a pobreza, faz-se necessário que os discursos bem-intencionados de governos
e organismos internacionais sejam transformados em ações urgentes.
Só
assim se terá uma forma de luta efetiva contra o trabalho infantil basta mais
dizer que se combate a formação de exércitos de adultos, jovens e crianças
lançados à violência das drogas e do narcotráfico; nem que se reduzem os índices
de mortalidade infantil, desnutrição e fome.
Essa
crise crônica, afinal, é financeira, administrativa, de gestão? Sem uma
resposta, todos continuarão a assistir, em camarotes cada vez mais eticamente
desqualificados, à repetição da barbárie a que são submetidas as crianças
trabalhadoras.
(Ari Cipola. O
trabalho infantil. São Paulo: Publifolha, 2001. p. 80-2).
1.Geralmente as crianças
ingressam na vida profissional para aumentar a renda familiar. No entanto, o
autor do texto defende o ponto de vista de que, a longo prazo, essa iniciativa
traz consequências negativas. Com base no 1º parágrafo do texto, responda: Qual
é a tese ou a ideia principal sobre o trabalho infantil
defendida pelo autor?
Que o trabalho infanto-juvenil além de
ser social e eticamente indesejável é instrumento de manutenção da pobreza.
2. O parágrafo de um texto
argumentativo pode ser construído de diferentes formas. Uma delas. A mais
comum, é a que faz uso de uma declaração inicial. Esse tipo de parágrafo é
introduzido por meio de uma afirmação, desenvolvida por ideias secundárias.
Observe o 1º parágrafo.
a) Qual é declaração
que inicia o parágrafo?
Que o trabalho infanto-juvenil é um
instrumento de manutenção da pobreza.
b) Qual é o trecho em
que aparece a ideia secundária?
“Gera perdas
financeiras consideráveis.”
3.Outro tipo de
desenvolvimento é o que faz uso de citação, ou seja para fazer valer
seu ponto de vista, o autor utiliza o pensamento de autoridades ou de
especialistas no assunto. Também pode se valer de dados de pesquisa de órgãos
ou entidades reconhecidas na área. De que forma o autor utiliza a citação como
argumento no texto?
Ele utiliza a
citação baseando em especialistas no assunto.
4. Outra forma bastante
comum de desenvolvimento de parágrafo é a que faz uso
de comparação. Que tipo de comparação o autor desenvolve no 4º e no
5º parágrafos do texto?
Compara as perdas
acumuladas das pessoas por começarem a trabalhar a partir dos 7 aos 14
anos com relação a quem começa aos 21 anos, as perdas podem chegar a 50%.
5. Também é comum o
desenvolvimento do parágrafo por meio de o estabelecimento de relações de
causa e consequência. No 6º parágrafo, por exemplo, é apontada a causa de os
trabalhadores-mirins ganharem menos ao longo da vida (consequência). Qual é a
causa?
A causa é o nível de escolaridade
atingido por trabalhadores-mirins.
6. Outra forma de
desenvolver o parágrafo é a que faz uso da interrogação, ou seja, o autor
introduz o parágrafo com uma pergunta que é respondida pelo próprio texto.
Trata-se, na verdade, de uma forma simpática de envolver o leitor e despertar
seu interesse. Há, no texto em estudo, em parágrafo desenvolvido por meio de
interrogação? Se sim, identifique-o.
SIM. “Essa crise crônica, afinal, é financeira,
administrativa, de gestão?”
7. Nos
últimos parágrafos, o autor conclui o texto posicionando-se sobre as saídas
existentes para combater o trabalho infantil. Na opinião dele:
a)
Qual é a forma realmente eficaz para
erradicar o trabalho infantil?
Para vencer a pobreza, faz-se necessário que os discursos
bem-intencionados sejam transformados em ações urgentes.
b)
Essa conclusão é compatível com a tese
defendida no início do texto? Por quê?
SIM. Pois inicia-se mostrando o quanto o trabalho infanto-juvenil é
um instrumento de manutenção da pobreza.
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