terça-feira, 19 de setembro de 2017

FÁBULA: TROPEÇÕES DA INTELIGÊNCIA - RUBEM ALVES - COM GABARITO

FÁBULA: TROPEÇÕES DA INTELIGÊNCIA
                    RUBEM ALVES

        Há a história dos dois ursos que caíram numa armadilha e foram levados para o circo. Um deles, com certeza mais inteligente que o outro, aprendeu logo a se equilibrar na bola e a andar no monociclo, o seu retrato começou a aparecer em cartazes e todo o mundo batia palmas: “Como é inteligente”. O outro, burro, ficava amuado num canto, e, por mais que o treinador fizesse promessas e ameaças, não dava sinais de entender. Chamaram o psicólogo do circo e o diagnóstico veio rápido: “É inútil insistir. O QI é muito baixo...”.
        Ficou abandonado num canto, sem retratos e sem aplausos, urso burro, sem serventia... O tempo passou. Veio a crise econômica e o circo foi à falência. Concluíram que a coisa mais caridosa que se poderia fazer aos animais era devolvê-los às florestas de onde haviam sido tirados. E, assim, os dois ursos fizeram a longa viagem de volta.
        Estranho que em meio à viagem o urso tido por burro parece ter acordado da letargia, como se ele estivesse reconhecendo lugares velhos, odores familiares, enquanto seu amigo de QI alto brincava tristemente com a bola, último presente Finalmente, chegaram e foram soltos. O urso burro sorriu, com aqueles sorrisos que os ursos entendem, deu um urro de prazer e abraçou aquele mundo lindo de que nunca se esquecera. O urso inteligente subiu na sua bola e começou o número que sabia tão bem. Era só o que sabia fazer. Foi então que ele entendeu, em meio às memórias de gritos de crianças, cheiro de pipoca, música de banda, saltos de trapezistas e peixes mortos servidos na boca, que há uma inteligência que é boa para circo. O problema é que ela não presta para viver.

                                              Rubens Alves. Estórias de quem gosta de ensinar.
                                                                         São Paulo: Cortez, 1987. p. 12-3.
1 – Escreva como os dois ursos se comportam:
a)    No circo.
- O Urso “inteligente”: equilibra-se na bola, anda de monociclo, faz sucesso.
-  O Urso “burro”: tem baixo QI; não aprende nada.

b)    Na floresta.
- O Urso “inteligente”: fica triste, repetindo o que sabia fazer no circo.
- O Urso “burro”: acorda, fica feliz e se adapta imediatamente ao lugar.

2 – Copie em seu caderno o resumo esquematizado do texto e complete-o na sequência dos acontecimentos.
      Urso na armadilha; sucesso de um dos ursos: fracasso do outro e o retorno para a floresta.

3 – Por que o autor criou o texto com uma estrutura circular? Procure no texto outros elementos que têm essa estrutura.
      O autor fala em bola, monociclo, objetos que lembram o círculo. O próprio circo, com seu picadeiro e sua estrutura, lembra o círculo. Daí a “estrutura circular” do texto. O significado dessa estrutura pode estar ligado ao fato de estarmos presos a uma rotina ou a um círculo vicioso à medida que temos conceitos errados sobre a situações do ensino e não fazemos nada para muda-las. Chamar a atenção dos alunos para o fato de que o texto figurativo é muito mais interessante que o temático porque traz à mente do leitor imagens concretas: neste caso, é toda a vida mágica e aventureira do circo, com suas cores (bolas, trapezistas) sons (aplausos, gritos, banda) cheiros (animais, pipocas), além, é claro, da imagem da floresta que se reconstitui na memória do leitor com toda sua beleza e naturalidade.

4 – No segundo período do primeiro parágrafo, existe uma afirmação categórica do autor. Essa afirmação é confirmada ou negada no final do texto? Com que intenção o autor a usou? Na sua opinião, por que escolheu narrar a história em terceira pessoa?
      “Um deles, com certeza mais inteligente que o outro...” A afirmação é negada. A intenção do autor era mostrar que a “inteligência” do urso era apenas aparente ou específica para determinadas habilidades. O narrador em terceira pessoal procura distanciar-se dos acontecimentos para imprimir uma certa neutralidade ao texto. Há uma tentativa de imitar a fábula: conta-se um fato que aconteceu num lugar não definido, num tempo mítico, que ele não define qual é. Trata-se, na verdade, de uma estratégia, de um “despistamento” da verdadeira intenção de seu texto.

5 – Seria correto afirmar que “Tropeções da inteligência” é uma fábula? Por quê? O que você sabe sobre as personagens desse tipo de história?
      Sim, é uma espécie de fábula porque as personagens são animais, e ela procura passar um ensinamento Mas é uma fábula moderna porque também há personagens que são pessoas.

6 – O autor introduz na história algumas modernizações que não estão presentes nas fábulas convencionais. Quais?
      Ele cita psicólogo e diagnóstico. O circo passa por crise econômica e vai à falência. Fala também em QI (quociente de inteligência).

7 – Que passagem, no terceiro parágrafo, nos revela que o urso só poderia ser compreendido em seu verdadeiro hábitat?
      “O urso burro sorriu, com aquele sorriso que os burros entendem...”.

8 – É comum haver psicólogo em um circo? Qual a verdadeira intenção do autor ao colocá-lo na história? Afinal, o que o circo representa?
      Não. Ao falar em psicólogo e QI, o autor quer fazer referência às escolas e não aos circos.

9 – A partir da afirmação de que “há uma inteligência que é boa para circo. O problema é que ela não presta para viver”, que relações poderíamos estabelecer entre o texto e nossa realidade? Quem são, na verdade, os ursos? Quem é o inteligente? Quem é o “burro”? (Lembre-se que os animais sobrevivem; nós, humanos, é que utilizamos nossos conhecimentos para viver).
      Poderíamos estabelecer relações entre o texto e um determinado tipo de ensino que é dado aos alunos e que não lhes serve para enfrentar a vida. Os ursos, simbolicamente, seriam os alunos: os “inteligentes” seriam os que se deixam adestrar; os “burros”, os que não aceitam esse tipo de “adestramento”.

10 – Reflita sobre o título do texto: Quem está “tropeçando” afinal? A que inteligência o autor se refere? A hipótese que você formulou a partir do título se confirmou?
      Verificar se as hipóteses dos alunos se confirmaram. O título dá origem a várias interpretações: tropeções podem ser enganos, erros, equívocos; a “inteligência” pode ser interpretada aqui em seu sentido convencional. “Tropeçam” aqueles que têm um julgamento incorreto sobre o que é ser inteligente e então fica bem clara a crítica contundente feita às escolas.

11 – Leia esta frase de Rubem Alves:
        “Para construir uma bomba atômica é preciso ser muito inteligente.
        Para tomar a decisão de desmontar todas elas é necessário ser sábio”.
a)    Relacione o que ele diz ao texto que você leu.
No texto “Tropeções da inteligência”, o urso considerado “burro” podia não ter as habilidades necessárias ao malabarismo do circo (habilidades que, no circo, eram interpretadas como inteligência). Mas tinha a sabedoria que o integrava a seu habitat.

b)    Escreva o que você entende por inteligência e o que você entende por sabedoria.
Resposta pessoal do aluno.

12 – Alguns recursos normalmente usados em poemas podem dar expressividade à prosa.
      Observe como alguns fonemas se repetem:
      “O urso burro sorriu (...) deu um urro...”
a)    Localize no texto outros recursos semelhantes.
Há vários exemplos; observar, principalmente, a repetição de vogais fechadas (o e u), em especial quando o texto se refere ao “urso burro”.

b)    Encontre também, no segundo parágrafo, a repetição de uma preposição utilizada como recurso de linguagem e explique por que esse recurso foi empregado.
Observar, também, a repetição da preposição sem (tira-se tudo do urso: retrato, aplauso, serventia).


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