Soneto: Magro, de olhos azuis, carão moreno
Bocage
Magro, de olhos azuis, carão
moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bocage. Op. Cit. p. 63-33.
Fonte: Português –
Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite;
Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 103-104.
Entendendo o soneto:
01
– Qual é o tema central do soneto "Magro, de olhos azuis, carão
moreno"?
O tema central do
soneto é o auto-retrato de Bocage, tanto físico quanto psicológico. O poeta
descreve a si mesmo com sinceridade, revelando seus traços físicos, seu
temperamento e suas características de personalidade.
02
– Quais são as características físicas e de personalidade que Bocage destaca em
seu auto-retrato?
Fisicamente,
Bocage se descreve como magro, de olhos azuis, pele morena, de estatura mediana
e com um nariz proeminente. Em relação à sua personalidade, ele se mostra como
alguém de temperamento instável, propenso à ira, mas também capaz de ternura.
Além disso, revela-se um "devoto incensador de mil deidades", ou
seja, um homem que se apaixona facilmente e que tem uma vida amorosa agitada.
03
– O que significa a expressão "Bebendo em níveas mãos por taça escura, /
De zelos infernais letal veneno"?
Essa expressão é
uma metáfora para os relacionamentos amorosos de Bocage. As "níveas
mãos" representam as mulheres por quem ele se apaixona, enquanto a
"taça escura" simboliza o amor, que pode trazer tanto prazer quanto
sofrimento. O "letal veneno" dos "zelos infernais"
refere-se ao ciúme, sentimento que o atormenta em suas relações amorosas.
04
– Qual é o tom geral do soneto e como Bocage se auto-intitula?
O tom geral do
soneto é de confissão e auto-depreciação. Bocage não se idealiza, mas se mostra
como um homem com qualidades e defeitos. Ao final do soneto, ele se
auto-intitula "Eis Bocage, em quem luz algum talento", reconhecendo
sua habilidade poética, mas também admitindo suas falhas e contradições.
05
– Qual é a importância do soneto "Magro, de olhos azuis, carão
moreno" para a obra de Bocage?
O soneto é
importante por nos fornecer um retrato íntimo e revelador de Bocage,
permitindo-nos conhecer seus traços físicos, psicológicos e de personalidade.
Além disso, ele demonstra a habilidade do poeta em utilizar a forma do soneto
para expressar seus sentimentos e reflexões de forma concisa e expressiva. O
soneto é um exemplo da poesia lírica de Bocage, que se distingue de sua
produção satírica e erótica, revelando um lado mais pessoal e introspectivo do
poeta.
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