Crônica: Liberdade
Cecília Meireles
Deve existir nos homens um sentimento
profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm
escrito poemas e hinos, a ela se têm levantado estátuas e monumentos, por ela
se tem até morrido com alegria e felicidade.
Diz-se que o homem nasceu livre, que a
liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há
liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que
renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é
o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão;
nossos bisavós gritavam "Liberdade, Igualdade e Fraternidade! ";
nossos avós cantaram: "Ou ficar a Pátria livre/ ou morrer pelo Brasil!";
nossos pais pediam: "Liberdade! Liberdade! abre as asas sobre nós", e
nós recordamos todos os dias que "o sol da liberdade em raios fúlgidos/
brilhou no céu da Pátria..." em certo instante.
Somos, pois, criaturas nutridas de
liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e
certamente morrer por ela.
Ser livre como diria o famoso
conselheiro... é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso
coração, mesmo tendo de partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho...
Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autômato e de
teleguiado é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Suponho que seja
isso.)
Ser livre é ir mais além: é buscar
outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar
acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.
Por isso, os meninos atiram pedras e
soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sonho das crianças
deseja ir. (Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso...)
Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!...) Não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!
Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!...) Não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!
Acontece, porém, que um menino, para
empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a
vida.
E os loucos que sonharam sair de seus
pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram
queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos!
São essas coisas tristes que contornam
sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos
todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão,
preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão
ingrato.
Mas os sonhadores vão para a frente,
soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os
loucos. E cantando aqueles hinos, que falam de asas, de raios fúlgidos
linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores
de Babel...
MEIRELES, Cecília. Escolha o seu sonho: crônicas
Editora
Record Rio de Janeiro, 2002, pág. 07.
Entendendo a crônica:
Escolha o seu
sonho.
a)
De quem é a autoria?
Cecília Meireles.
02 – O texto afirma que:
(A) a escravidão depende das
escolhas das pessoas.
(B) a liberdade de
um acaba onde começa a liberdade de outrem.
(C) as criaturas combatem a
liberdade com entusiasmo juvenil.
(D) os sentimentos sombrios
deslumbram a liberdade.
03 – O resultado de ser
livre é:
(A) ampliar a
órbita da vida.
(B) cantar a liberdade como
nossos avós.
(C) viver sem sonhar.
(D) viver sem qualquer
obrigação.
04 – A liberdade é tão
fundamental ao homem que:
(A) certamente se prefere a
morte à liberdade.
(B) com liberdade tudo se
consegue na vida.
(C) onde não há
liberdade não há pátria.
(D) sem liberdade não se
constrói coisa alguma.
05 – Em “Ser livre é ser
responsável, é repudiar a condição de autômato e
de teleguiado (...)"
Os termos destacados se referem a pessoas que:
(A) comportam-se de forma
imprevisível.
(B) desobedem às regras e às
convenções.
(C) fazem só o que
os outros lhes determinam.
(D) sabem muito bem o que
devem realizar.
06 – No segundo parágrafo do
texto, entende-se que a Liberdade é modernos.
(A) a inspiração para cantos
antigos e
(B) o bem mais
precioso do homem.
(C) um bem esquecido por
nossos parentes.
(D) uma luta que, às vezes,
vale a pena travar.
07 – A questão central
tratada no texto é:
(A) a emoção dos
antepassados.
(B) a felicidade das pessoas
(C) a liberdade
humana.
(D)o combate à escravidão.
08 – Qual o significado da
palavra liberdade para você?
Resposta pessoal
do aluno.
09 – Você acha que o Brasil,
atualmente, é uma nação livre? Justifique sua resposta?
Resposta pessoal do aluno.
10 – Releia: “Ser livre é não ser escravo; é agir
segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo de partir esse coração e
essa cabeça para encontrar um caminho” (4º parágrafo). Como você compreende esse
trecho?
Resposta pessoal do aluno.
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