TEXTO: AQUELE ESTRANHO ANIMAL
Mário Quintana
Os de Alegrete dizem que o causo
se deu em Itaqui, os de Itaqui dizem que foi no
Alegrete, outros juram que só poderia ter acontecido em Uruguaiana. Eu não
afirmo nada: sou neutro. Mas, pelo que me contaram, o primeiro
automóvel que apareceu entre aquela brava indiada, eles o mataram a pau,
pensando que fosse um bicho.
A história foi assim como já lhes
conto, metade pelo que ouvi dizer, metade pelo que inventei e a outra metade
pelo que sucedeu às deveras. Viram? É uma história tão
extraordinária mesmo que até tem três metades… Bem, deixemos de filosofança e
vamos ao que importa. A coisa foi assim, como eu tinha começado a lhes contar.
Ia um piazinho estrada fora no
seu petiço – tropt, tropt, tropt – (este é o barulho do trote) – quando de
repente ouviu – fufufupubum! fufufupubum! chiiipum!
E eis que a “coisa”, até então
invisível, apontou por detrás de um capão, bufando que nem
touro brigão, saltando que nem pipoca, chiando que nem chaleira derramada e
largando fumo pelas ventas como a mula-sem-cabeça.
“Minha Nossa Senhora!”
O piazinho deu meia-volta e largou numa disparada louca rumo da
cidade, com os olhos do tamanho de um pires e os dentes rilhando,
mas bem cerrados para que o coração aos corcoveios não lhe
saltasse pela boca. É claro que o petiço ganhou luz do bicho, pois no tempo dos
primeiros autos, eles perdiam para qualquer matungo.
Chegado que foi, o piazinho contou a
história como pode, mal-e-mal e depressa, que o tempo era pouco e não dava para
maiores explicações, pois já se ouvia o barulho do bicho que se aproximava.
Pois bem, minha gente: quando este
apareceu na entrada da cidade, caiu aquele montão de povo em cima dele, os
homens uns de porrete, outros com garruchas que nem tinham
tido tempo de carregar de pólvora, outros com boleadeiras, mas todos a
pé, porque também nem houvera tempo para montar, e as mulheres umas
empunhando as suas vassouras, outras as suas pás de mexer marmelada, e os
guris, de longe, se divertindo com os seus bodoques, cujos tiros iam acertar em
cheio as costas dos combatentes. E tudo abaixo de gritos e pragas que nem lhes
posso repetir aqui.
Até que enfim houve uma pausa para
respiração.
O povo se afastou, resfolegante, e
abriu-se uma clareira, no meio da qual se viu o auto emborcado,
amassado, quebrado, escangalhado, e nem digo que morto, porque as rodas ainda
giravam no ar, nos últimos transes de uma teimosa agonia. E
quando as rodas pararam, as pobres, eis que o motorista, milagrosamente salvo,
saiu penosamente engatinhando de seu ex-automóvel.
– A la pucha! – exclamou então um
guasca, entre espantado e penalizado – o animal deu cria!
(Mário Quintana, Almanaque do Correio do
Povo, Porto Alegre, 1971)
Entendendo o texto:
01 – O fato narrado no texto passou-se:
a. ( ) na Bahia
b.
(X) no Rio Grande do Sul
c. ( ) No Amazonas.
02 – Justifique sua resposta, transcrevendo do textos seis palavras ou
expressões típicas daquele Estado.
Causo, brava indiada,
piazinho, petiço, a la pucha, guasca
03 – No dizer do autor, a história é “tão extraordinária mesmo, que
até tem três metades”. Isso quer dizer que:
a. ( ) é uma história absolutamente verídica.
b. ( ) é uma história absolutamente inverídica.
c.
(X) como todos os “causos” gauchescos, é um fato relatado com exagero e
fantasia.
04-Quem foi o primeiro a ter conhecimento do estranho objeto?
Um piazinho que ia pela
estrada no seu cavalo.
05 – O piazinho:
a. ( ) viu a “coisa” antes de ouvi-la.
b.
(X) ouviu a “coisa” antes de vê-la.
c. ( ) viu e ouviu a “coisa” ao mesmo tempo.
06-Justifique a sua resposta, transcrevendo passagens do texto:
“… quando de repente ouviu – fufufupubum!
chiiiipum! E eis que a coisa, até então invisível…”
07 – Em: “… todos a pé, porque também nem houvera tempo para
montar…”, é estranho que os gaúchos do texto estivessem a pé, porque:
a.
(X) o gaúcho que trabalha nos pampas é, tradicionalmente, cavaleiro e
inseparável de seu cavalo.
b. ( ) o fato ocorreu longe da cidade.
c. ( ) o fato ocorreu na cidade e as pessoas não tinham
cavalo.
08 – Numere os instrumentos usados no “combate”, relacionando-os com as
pessoas:
a. (3) vassouras
b. (1)
boleadeiras
1. Homens
c. (1)
porretes
2. Guris
d. (1)
garruchas
3. Mulheres
e. (3) pás de mexer
marmelada
f. (2) bodoques
09 – Numere de 1 a 7, as passagens abaixo na ordem em que aconteceram os
fatos.
a. (3) “… chegado que
foi, o piazinho contou a história como pode, mal-e-mal e depressa.”
b. (7) “… exclamou então
um guasca, entre espantado e penalizado: o animal deu cria!”
c. (1) “Ia um piazinho
estrada fora no seu petiço quando ouviu um barulho estranho…”
d. (4) “… quando este
apareceu na entrada da cidade, caiu aquele montão de povo em cima dele…”
e. (2) “O piazinho deu
meia-volta e largou numa disparada louca, rumo da cidade, com os olhos do
tamanho de um pires.”
f. (5) “O povo de
afastou, resfolegante, e abriu-se uma clareira, no meio da qual se viu o auto
emborcado…”
g. (6) “… o motorista saiu
penosamente engatinhando…”
10 – Em: “… pelo que sucedeu às deveras.”, a palavra em
destaque significa:
a. (X)
aconteceu b. ( )
substituiu c. ( )
transmitiu
11 – Em: “… deixemos de filosofança…”, a palavra em destaque
é uma forma para significar:
a. ( ) alta filosofia
b. (X)
conversa fiada
c. ( ) argumentações importantes
12 – Piazinho é um diminutivo de piá, termo usado na região sul do Brasil e que significa menino.
13 – Em: “E eis que a “coisa” … apontou por detrás de
um capão…”, a palavra grifada significa:
a. (X)
apareceu b. ( )
indicou c. ( ) anotou
14 – Relacione as duas colunas de acordo com o sentido das palavras
usadas no texto:
a. (5) extraordinária
1. Corrida impetuosa
b. (7) clareira
2. Direção
c. (8) ventas
3. Fechados
d. (1) disparada
4. Tomando
fôlego, respirando
e. (10) rilhando
5. Fora
do comum, anormal
f. (3) cerrados
6.
Pistola de carregar pela boca
g. (4) resfolegante
7. Espaço vazio
h. (9) emborcado
8. Cada uma das
fossas nasais
i. (11) transes
9.
Posto de boca para baixo
j. (2) rumo
10. Rangendo os dentes
k. (6) garruchas
11.
Momentos de aflição, angústia
15 – Em: “Ia um piazinho estrada fora no seu petiço…”,
a palavra destacada tem o mesmo sentido que em:
a. ( ) Que fora ele levou de Maria!
b. ( ) Entendeu tudo, fora o principal.
c.
(X) O potro disparou campo fora.
d. ( ) Se não fora por ele, nunca teria ficado.
Legal muito bom obrigado
ResponderExcluirMuito obrigado
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