domingo, 4 de fevereiro de 2018

TEXTO: AQUELE ESTRANHO ANIMAL - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

TEXTO: AQUELE ESTRANHO ANIMAL
                   Mário Quintana


    Os de Alegrete dizem que o causo se deu em Itaqui, os  de  Itaqui dizem que foi no Alegrete, outros juram que só poderia ter acontecido em Uruguaiana. Eu não afirmo nada: sou neutro. Mas, pelo que me contaram, o primeiro automóvel que apareceu entre aquela brava indiada, eles o mataram a pau, pensando que fosse um bicho.
    A história foi assim como já lhes conto, metade pelo que ouvi dizer, metade pelo que inventei e a outra metade pelo que sucedeu às deveras. Viram? É uma história tão extraordinária mesmo que até tem três metades… Bem, deixemos de filosofança e vamos ao que importa. A coisa foi assim, como eu tinha começado a lhes contar.
          Ia um piazinho estrada fora no seu petiço – tropt, tropt, tropt – (este é o barulho do trote) – quando de repente ouviu – fufufupubum! fufufupubum! chiiipum!
          E eis que a “coisa”, até então invisível, apontou por detrás de um capão, bufando que nem touro brigão, saltando que nem pipoca, chiando que nem chaleira derramada e largando fumo pelas ventas como a mula-sem-cabeça.
          “Minha Nossa Senhora!”
  O piazinho deu meia-volta e largou numa disparada louca rumo da cidade, com os olhos do tamanho de um pires e os dentes rilhando, mas bem cerrados para que o coração aos corcoveios não lhe saltasse pela boca. É claro que o petiço ganhou luz do bicho, pois no tempo dos primeiros autos, eles perdiam para qualquer matungo.
          Chegado que foi, o piazinho contou a história como pode, mal-e-mal e depressa, que o tempo era pouco e não dava para maiores explicações, pois já se ouvia o barulho do bicho que se aproximava.
          Pois bem, minha gente: quando este apareceu na entrada da cidade, caiu aquele montão de povo em cima dele, os homens uns de porrete, outros com garruchas que nem tinham tido tempo de carregar de pólvora, outros com boleadeiras, mas todos a pé, porque também nem houvera tempo para montar, e as mulheres umas empunhando as suas vassouras, outras as suas pás de mexer marmelada, e os guris, de longe, se divertindo com os seus bodoques, cujos tiros iam acertar em cheio as costas dos combatentes. E tudo abaixo de gritos e pragas que nem lhes posso repetir aqui.
          Até que enfim houve uma pausa para respiração.
          O povo se afastou, resfolegante, e abriu-se uma clareira, no meio da qual se viu o auto emborcado, amassado, quebrado, escangalhado, e nem digo que morto, porque as rodas ainda giravam no ar, nos últimos transes de uma teimosa agonia. E quando as rodas pararam, as pobres, eis que o motorista, milagrosamente salvo, saiu penosamente engatinhando de seu ex-automóvel.
          – A la pucha! – exclamou então um guasca, entre espantado e penalizado – o animal deu cria!

(Mário Quintana, Almanaque do Correio do Povo, Porto Alegre, 1971)

Entendendo o texto:

01 – O fato narrado no texto passou-se:
a. (   ) na Bahia      
b. (X) no Rio Grande do Sul      
c. (   ) No Amazonas.
02 – Justifique sua resposta, transcrevendo do textos seis palavras ou expressões típicas daquele Estado.
      Causo, brava indiada, piazinho, petiço, a la pucha, guasca
03 – No dizer do autor, a história é “tão extraordinária mesmo, que até tem três metades”. Isso quer dizer que:
a. (   ) é uma história absolutamente verídica.
b. (   ) é uma história absolutamente inverídica.
c. (X) como todos os “causos” gauchescos, é um fato relatado com exagero e fantasia.

04-Quem foi o primeiro a ter conhecimento do estranho objeto?
      Um piazinho que ia pela estrada no seu cavalo.
05 – O piazinho:
a. (   ) viu a “coisa” antes de ouvi-la.         
b. (X) ouviu a “coisa” antes de vê-la.       
c. (   ) viu e ouviu a “coisa” ao mesmo tempo.

06-Justifique a sua resposta, transcrevendo passagens do texto:
      “… quando de repente ouviu – fufufupubum! chiiiipum! E eis que a coisa, até então invisível…” 
07 – Em: “… todos a pé, porque também nem houvera tempo para montar…”, é estranho que os gaúchos do texto estivessem a pé, porque:
a. (X) o gaúcho que trabalha nos pampas é, tradicionalmente, cavaleiro e inseparável de seu cavalo.
b. (   ) o fato ocorreu longe da cidade.
c. (   ) o fato ocorreu na cidade e as pessoas não tinham cavalo.

08 – Numere os instrumentos usados no “combate”, relacionando-os com as pessoas:
a. (3) vassouras
b. (1) boleadeiras                                          1. Homens
c. (1) porretes                                                2. Guris
d. (1) garruchas                                             3. Mulheres
e. (3) pás de mexer marmelada
f.  (2) bodoques

09 – Numere de 1 a 7, as passagens abaixo na ordem em que aconteceram os fatos.
a. (3) “… chegado que foi, o piazinho contou a história como pode, mal-e-mal e depressa.”
b. (7) “… exclamou então um guasca, entre espantado e penalizado: o animal deu cria!”
c. (1) “Ia um piazinho estrada fora no seu petiço quando ouviu um barulho estranho…”
d. (4) “… quando este apareceu na entrada da cidade, caiu aquele montão de povo em cima dele…”
e. (2) “O piazinho deu meia-volta e largou numa disparada louca, rumo da cidade, com os olhos do tamanho de um pires.”
f. (5) “O povo de afastou, resfolegante, e abriu-se uma clareira, no meio da qual se viu o auto emborcado…”
g. (6) “… o motorista saiu penosamente engatinhando…”

10 – Em: “… pelo que sucedeu às deveras.”, a palavra em destaque significa:
a. (X) aconteceu       b. (   ) substituiu        c. (   ) transmitiu

11 – Em: “… deixemos de filosofança…”, a palavra em destaque é uma forma para significar:
a. (   ) alta filosofia         
b. (X) conversa fiada          
c. (   ) argumentações importantes

12 – Piazinho é um diminutivo de piá, termo usado na região sul do Brasil e que significa menino.

13 – Em: “E eis que a “coisa” … apontou por detrás de um capão…”, a palavra grifada significa:
a. (X) apareceu      b. (   ) indicou       c. (   ) anotou

14 – Relacione as duas colunas de acordo com o sentido das palavras usadas no texto:
a. (5) extraordinária               1. Corrida impetuosa
b. (7) clareira                          2. Direção
c. (8) ventas                           3. Fechados
d. (1) disparada                      4. Tomando fôlego, respirando
e. (10) rilhando                       5. Fora do comum, anormal
f.  (3) cerrados                        6. Pistola de carregar pela boca
g. (4) resfolegante                  7. Espaço vazio
h. (9) emborcado                    8. Cada uma das fossas nasais
i.  (11) transes                         9. Posto de boca para baixo
j.  (2) rumo                              10. Rangendo os dentes
k. (6) garruchas                      11. Momentos de aflição, angústia

15 – Em: “Ia um piazinho estrada fora no seu petiço…”, a palavra destacada tem o mesmo sentido que em:
a. (   ) Que fora ele levou de Maria!
b. (   ) Entendeu tudo, fora o principal.
c. (X) O potro disparou campo fora.

d. (   ) Se não fora por ele, nunca teria ficado.

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